Tempos Ancestrais

Me vejo novamente naquela mesma floresta, mas não em presença física, e sim, em pensamento, um espectro. Estou de pé sobre o barro viscoso e esverdeado, onde musgo e folhas mortas trepidam ao sabor da chuva intensa que cai, não sinto a chuva, mas um frio intenso que me corta a alma, um frio que faz me sentir morto. Me vi em tempos remotos, tempos em que pequenas tribos habitavam a região, tempos de idolatría a seres ocultos e terríveis pensamentos bárbaros. As árvores estão no mesmo lugar, em pé e intactas, não vejo vermes, nem corpos, vejo somente clarões dos raios que cortam o céu. O som da chuva força meu corpo a adormecer, mas páiro sobre aquele cenário curioso.

Uma mulher sentada na lama sob a chuva, olhando fixamente para uma criança estirada sobre um bloco de basalto. A criança estava pálida, morta. A mulher balbuciava algo, e se contorcia de frio, seus olhos arregalados fitavam a criança. Nas suas mãos havia um pedaço de papel encharcado que ela segurava com força. O peito da criança estava aberto e seu coração tinha sido removido, estava pendurado logo adiante em frente a uma escultura de rocha coberta de musgo. O coração parecia bater levemente.

Do céu a chuva descia e rasgava ainda mais o espirito da pobre mulher que desfalecia, morrendo aos poucos, caindo de bruços na lama. Meu espectro pairou mais adiante além da escultura de rocha, pairei para um lugar estranho, porém, interessante.

Uma estrutura arquitetônica que remete a tempos ancestrais, quando bárbaros ainda cultuavam seus deuses nestas regiões. Acima da porta do templo havia a figura de um ser insectóide de dois metros de altura, onstentando um olhar fixo e negro para quem estava sob o umbral da porta. Meu espectro entrou no templo contra minha vontade.

Houve um momento de escuridão, não ouvi sons, nem o frio daquela noite. Em certo momento tudo ficou claro e pude ver centenas, ou milhares, de seres insectóides semelhantes ao da entrada, eles se amontoavam e faziam sons estridentes parecendo gafanhotos.

O templo que vi anteriomente era apenas uma fachada para um colossal pavilhão esculpido na rocha abaixo da superfície da floresta. Tochas de fogo verde iluminavam o lugar e pude ver que sob esses seres demoníacos haviam seres humanos que se debatiam em meio aquele tumulto, vi seres humanos fugindo, não dos seres insectóides que voavam e pisoteavam-os, fugiam sim de centenas de larvas, vermes do tamanho de búfalos que eclodiam aos milhares de ovos amontoados. A cada verme que nascia, um homem era jogado por um ser insectóide, e os gritos de agonía eram terríveis. Vi que da parte mais alta, oposta a porta da entrada estava um ser insectóide, muito maior que os demais, e de uma coloração azulada, pois os outros tinham cor avermelhada, esse ser maior voou sobre todos e o som de suas asas faziam com que as paredes vibrassesm, pousou sobre uma pequena saliencia de rocha ao meu lado, olhou para o meu espectro e fitou novamente o pavilhão, fez um som estridente com as assas chamando a atenção de todos, abriu a grande porta de entrada e voou para fora seguido por todos, os vermes que terminavam de devorar os corpos seguiam por pequenos túneis que se estendiam em direção a Pam, a capital.

Acordei num sobressalto, estava rodeado por pessoas que me observavam assustadas, um homem havia me reanimado e disse que tive um mal súbito e demaiei. Quando ainda estava deitado e via o rosto belo de uma menina que se contrastava com o céu azulado, percebi ao longe, naquele vasto céu recortado por prédios, vários pontinhos balançando e a medida que se aproximavam podia-se ouvir o som estridente que minha mente conhecia bem.

[Conto Reeditado]

Daniel Gross
Enviado por Daniel Gross em 18/12/2015
Reeditado em 19/12/2015
Código do texto: T5484100
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