Querida Keziah

Querida Keziah.

Enquanto resta-me uma faísca tênue de sanidade venho lhe relatar os últimos acontecimentos que me levaram à esse estado emocional abalado.

Lembre-se que há algumas semanas tinha lhe contado sobre uma forte dor de cabeça e calafrios que tive, médico algum diagnosticou os sintomas. Desde que comecei a ficar doente coisas estranhas aconteceram comigo. Já havia lhe contado sobre o homem que me visitara certa noite, pois é, ele voltou e me ofereceu uma proposta sinistra.

Creio que minha doença está claramente associada às várias vezes que tive que sair às pressas de meu quarto, muitas vezes em dias chuvosos, na madrugada por causa daquela criatura horrenda que me assombrava todas as noites. Não entendo como ele conseguia chegar até mim mesmo com todas aquelas armadilhas que coloquei. Ele parecia rir de mim, rir da minha insiguinificância.

Aquela criaturinha que parecia uma ratazana de grande porte vinha sorrateiramente em meio a escuridão do quarto, fazia sempre os mesmos ruidos de garras afiadas arranhando o soalho e os pés da cama, emitia ruídos irritantes como os de ratos. O mais terrível foi a primeira vez que vi sua forma.

Lembro-me bem, era sexta-feira, madrugada chuvosa e terrivelmente fria. Estava tendo um pesadelo estranho com um lugar espectral onde formas de matéria vinham e iam para todos os lugares, outras formas grotescas e seres inimagináveis cruzavam esse espaço espectral. Acordei ouvindo gritos desesperados, logo percebi que era apenas a chuva no telhado. Neste momento ouvi sons estranhos no quarto e para o meu desespero algo saltou sobre mim, rapidamente liguei o abajur no criado-mudo e me deparei com aquela horrível criatura.

Quando a luz incidiu sobre seu corpo peludo e iluminou um rosto terrivelmente humano minha alma congelou, meus sentidos estavam confusos e não conseguia discernir o que era realmente aquilo. Mãozinhas pequenas imitando mãos humanas com garras longas e afiadas agarravam ferozmente meus lençóis, seus olhos arregalados fitavam-me com ódio e desprezo, seus dentes afiados estavam prontos para provar minha carne. Joguei o abajur na criatura e saí correndo sem rumo, só parei quando um guarda me segurou duas quadras de casa, passei a noite hospitalizado.

Logo de manhã após prestar vários depoimentos e esclarecimentos ao delegado voltei para casa, agora acompanhado pelo meu colega da faculdade. Contei sobre minha experiência e segundo ele havia uma probabilidade de que a criatura fosse Brown Jenkin, o problema disso tudo é que a criatura não deveria nem ao menos existir.

Querida Keziah, espero que leia esta carta o mais rápido possível, amanha vou para a casa dos meus pais e preciso conversar com você o quanto antes. Não aguento mais esta criatura me visitando todas as noites. Agora ele não se apoxima, apenas fica no canto escuro do quarto observando-me, acabo adormecendo e quando acordo ele havia sumido. As vezes vejo no breu do quarto seus olhos avermelhandos e ouço claramente em noites calmas sua respiração demoníaca. Espero que venha logo, Gabriele, temo que se isso persistir cometerei uma loucura.

Com carinho, Howard P. L.

Daniel Gross
Enviado por Daniel Gross em 21/12/2015
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