A Companhia Noturna

Estava habituado àquela companhia noturna e incômoda.Caso fizesse um comentário com os demais,de sua família e nos círculos de amizades seria taxado de louco,ou fanfarrão.Havia alguns comentários dispersos a respeito do seu provável monólogo noturno." É a bebida."Diziam. " Ta ficando louco,quem sabe." emendava outro.

-Você poderia ser uma mulher,não um velho e com cara de ranzinza. Qual o propósito em não me deixar dormir,e ficar a madrugada inteira com o seu discurso aleatório,e incômodo.

O ser estranho que adentrava pelo seu quarto na madrugada,sem ter a necessidade de abrir portas,ou chamá-lo. Simplesmente surgia do nada,de surpresa.Apesar de conservar uma expressão carrancuda no olhar,vestia-se com uma roupa,de alvura elogiável. Dirigiu o olhar para Armando-que era incrédulo,até em Deus e ralhou:

- O homem habita num planeta de provas e expiações.

-Ja disse assim,por várias vezes.Não mais me interessa saber.Você poderia ser uma jovem e bela mulher que invade o meu quarto em busca de prazeres censuráveis,daqueles.

Para sua surpresa,percebeu a metamorfose ocorrer.Então,o velho se transformou numa maravilhosa mulher,de beleza elogiável.Vestia uma roupa comprida,mas não escondia belas curvas.

-Eu tinha esta aparência numa vida.O que acha?

-A imagem repugnante de velho é mais marcante e repugnante.Interessante esta coisa de poder ter diversas aparências.Eu gostaria de poder me transformar num gato.

- O bichano?

-Não.Um homem belo e sedutor.Para conquistar todas as mulheres da cidade...

-Bobagem. Precisa descobrir que existem prazeres maiores para a humanidade.Amar o próximo,fazer caridade alimenta mais a alma e revela dotes mais nobres da alma do que a conquista so pelo prazer sexual.Não percebeu ainda que o prazer sexual animaliza o ser?

-Começo com as mesmas historinhas de sempre.E como a humanidade iria se reproduzir?Por relação assexuada?

fazia um calor infernal.Era verão.O ventilador estava num canto do quarto.Sujo,empoeirado e quebrado.havia tentado ligar,sem sucesso.

-Caso não possa ficar sem poder ter uma vida sexual equilibrada sendo solteiro precisaria casar-se.Percebo que é daqueles que ainda necessita desse tipo de energia.

-Eu preciso é dormir,caso você deixe.O que faz na minha vida? Ora, você morreu.Não tem coisa mais útil para fazer no chamado Plano Espiritual?

A noite seguia o seu curso envolta de negrume valoroso.Poucas estrelas brilhavam no céu.Não ventava.O silêncio reinava.A exceção era o ja famoso diálogo entre o conhecido ateu e o seu amigo do Mundo do Invisível.

-Acha que os espíritos não trabalham?Não somos ociosos.

-É? E o que faz de útil?Me perseguir?

-Preciso de alguém para escrever alguns livros.

-E quem vai ser este escritor?

-Você.

Uma gargalhada se fez ouvir pela madrugada.

-Sei disso,não é um escritor e não sabe escrever.

-Exatamente.

-Bebo,fumo e até ja usei drogas.A minha vida sexual é repleta de pecados.

-Vai precisar mudar de vida.A atmosfera fluída que o circunda é composta por uma gama de energias escuras e pesadas.O ar que respira é poluído pelos miasmas deletérios.Continuando assim,em breve desenvolverá uma séria doença-um câncer,ou

tuberculose,talvez.

-O que está tentando me dizer?

- Que anda numa sujeira so.Tanto na alma,como no corpo físico.E nem falarei da sua psicosfera.A energia que o circunda é densa e escura.

-Perceba,então que não sirvo para o que quer?

-Serve,sim.Vamos trabalhar suas deficiências.E, enquanto resistir,não o abandonarei pelas madrugadas.Iremos escrever uma coleção de livros será um conjunto literário,tendo como alicerce as Leis Divinas para o avanço da humanidade deixados por Jesus.

mais uma vez gargalhou alto rompendo o silêncio da madrugada.

-So me falta pedir para escolher uma religião...

Observou assim,e o acompanhava com o olhar,enquanto o espírito se sentava numa cadeira à beira da cama.Abriu as páginas de um livro e leu o seguinte trecho:

"Vinde a mim os desconsolados e aflitos,que eu os consolarei..."

-Dizia Jesus para a humanidade,de todas as épocas.

-Talvez,precise de consolo,e sempre fui um aflito.

A lua cheia fora encoberta por um nuvem cinza.Relâmpagos se desenhavam no céú,num frenesi incontrolável,como se fosse o espelho do estado tenso e que se encontrava sua alma.Uma revoada de morcegos se desenhava junto à catedral da igreja católica que ficava na vizinhança de sua casa.Ali moravam.Ele voltou a se deitar,e sem dar a devida importância àquela costumeira companhia fechou os olhos e dormiu.Após ler algumas páginas do livro religioso o espírito o olhou,por alguns segundos.Deixou um emissário guardião de prontidão junto de sua cama e foi-se numa carruagem alada guiada por valorosos cavalos brancos em direção do céu pouco estrelado.

fim

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 20/01/2016
Reeditado em 20/02/2016
Código do texto: T5516858
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