A NOIVA MORTA - Cap. 5

Josué respirou fundo segundos antes de dobrarem a esquina que dava na praça. Getúlio chegou a se sentir meio tonto ante aquela expectativa. Para decepção dos dois, a única pessoa que estava sentada exatamente no mesmo lugar em que a moça de branco estivera, era a Glorinha, figura pitoresca da cidade e que conversava com tudo o que surgia na sua frente, inclusive com árvores, flores e postes.

— É aquela a moça bonita? - gracejou Getúlio, tentando evitar o nervosismo.

Apesar do medo, Josué se mostrou frustrado.

— Claro que não. Talvez a Glorinha tenha espantado ela.

— Ou talvez a tenha visto...

— Venha - Josué puxou o primo pelo braço. — Vamos descobrir de uma vez.

A contragosto, Getúlio foi praticamente arrastado até Glorinha. Naquele momento ela travava uma conversa bem animada com uma trilha de formigas que passava bem a sua frente.

— Oi, Glorinha - cumprimentou Josué, nervoso.

— Oi - grunhiu ela, sem tirar os olhos das formiguinhas.

— Estou procurando uma pessoa.

— E eu com isto?

Josué ignorou a grosseria da velha.

— Você viu uma moça bonita, vestida de branco, aqui na praça agora à noite?

Glorinha não fez questão de encarar os dois. Apontou para a direção oposta com seu torto dedo indicador.

— Ela foi para lá.

Getúlio e Josué se entreolharam.

— Você conversou com ela, Glorinha? Sabe o nome dela? -Josué nem disfarçava mais sua curiosidade.

— Só sei que ela foi para lá.

Getúlio puxou o amigo pelo braço e ambos se afastaram dali. Ele não sabia o que pensar.

— O que você acha? - perguntou Josué — Devemos ir atrás?

— Aquela é a direção do cemitério.

— Sim, desde ontem eu sei disso. Mas estamos em dois, lembra?

Getúlio sentia as pernas fracas. Desde que Mariana morrera, nunca mais chegara nem perto do cemitério. Queria distância daquilo tudo. A não ser que fosse sua mulher que estivesse vagando pela pequena cidade.

— Não me agrada ir para aqueles lados. O motivo eu não preciso explicar, não é?

— Tudo bem, cara. Mas você percebeu que há algo acontecendo de estranho por aqui. A Glorinha também viu a moça.

Os dois se afastaram apressados da praça.

— A Glorinha é maluca, não esqueça.

Os primos voltaram em silêncio para casa. Getúlio, de tão perturbado que estava, tomou três cálices de vinho e foi dormir ligeiramente embriagado. Josué observou o primo ir para a cama em silêncio e se arrependeu de tê-lo metido naquela história. Será que…

Será que Getúlio achava que a jovem era sua falecida esposa?

Aquela hipótese atingiu Josué profundamente. Não havia conhecido Mariana, sequer pudera comparecer à infeliz cerimônia de casamento por causa do emprego. Seria possível que a pobre moça vagava pela cidade sem descanso? Mais tenso ainda, Josué recolheu-se ao seu quarto e se deitou cobrindo a cabeça com o travesseiro. Não teve coragem de apagar a luz do abajur. Parecia a que a qualquer momento o fantasma da moça (Mariana?) surgiria a sua frente. Foi difícil pregar o olho naquela noite.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 10/04/2016
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