Os que vem com a névoa – Um breve aviso

Não me sinto bem contando sobre isso, mas verdade seja dita, se não contar ninguém saberá o porquê eu me recuso a andar a noite. Certa vez um amigo disse-me que almas desgarradas, perdidas no tempo, esquecidas pelas hostes celestiais, vagueiam por entre os vivo, muitas vezes lhes causando mal, se pudéssemos enxergar por detrás desta visão física, tipicamente humana, veríamos o que Deus escondeu de nosso conhecimento, ou melhor, nos protegeu.

Eu sentia medo da noite desde pequeno, não o medo do escuro, gostava do escuro, não tinha medo como as outras crianças, o que me incomodava era saber que durante a noite aqueles que sempre ficavam escondidos nos lugares áridos vinham nos visitar. Sempre chegavam serenamente, frios e tenebrosos, lendas do passado, lembranças já quase esquecidas, seres imortais, mas sem um pingo de vida, nos rodeiam, nos observam, interagem. Por isso, Deus nos deu o sono, mecanismo de autodefesa em que a mente adormece despreocupada com o que acontece ao seu redor. Não lhes falo de fantasmas ou monstros, nem de demônios ou alegorias criadas pela fantasia humana, conto de seres magníficos nunca lembrados pela vaga lembrança humana, criaturas tão próximas que poderíamos chamar de irmãos. Li em um livro antigo datado do inicio do século XVI em que relatavam sobre eles, não da forma correta, mas os descreviam como demônios brancos de olhos negros, altos como montanhas, frios como a neve, criaturas que aterrorizavam cidades e devoravam nações, pura hipocrisia. Sinto pena dos que sofrem de insônia, sem o tão sagrado sono, suas almas se corrompem facilmente, e logo decaem num nível tão decadente que se tornam alvos fáceis dos “imortais moradores dos lugares profundos” como descreveu Alfred Hudson no seu livro “O segredo dos sumérios”.

Se estiver procurando um conto de terror fictício, ou algum passatempo para sua mente doentia que pensa que corpos mutilados e sangue são itens indispensáveis para o verdadeiro conto de terror, digo-vos que não passam de doentes, pessoas decadentes que não tem um pingo de consideração pelo seu próximo, que sentem prazer inescrupuloso na desgraça alheia, sinto pena de vocês. O verdadeiro terror não é aquele que podemos ver, sentir, ouvir, tocar, o verdadeiro terror é aquele que nunca nos é revelado, um terror tão grande que somente na hora em que a alma sai do corpo já morto presencia por alguns instantes a verdadeira face do nosso mundo, um carnaval tenebroso de indizíveis situações e ações executadas por... por... nem consigo descrever.

Encerrarei meu relato, não por falta de assunto o qual tenho muito, mas porque toda vez que toco nesse assunto meu espirito se aterroriza e uma inquietação toma conta de mim, sem contar que ponho em risco a alma de meu leitor.

Antes de terminar, devo alerta-los que mesmo que tentem fazer contato com o mundo dos mortos, ou com seres além de nossa compreensão, parem por um momento e reflitam sobre suas ações e percebam o quão infantis parecem ser, ou melhor, são infantis. Nada há no mundo dos mortos além de mortos, e nada há para ter com seres desconhecidos, o que deverão buscar é a verdadeira essência do sono, sim, isso mesmo, do sono, pois quando sua mente embriagada pelo éter denso que a escuridão traz não sentira por completo o que a mente, absolutamente, nunca entendera o que aqueles que habitam nas profundezas da terra, e que não caminham sob a luz do sol, de tempos em tempos sobem a superfície em noites geladas e vagueiam entre nós, ocultos numa névoa fina e branca, e somente retornam para suas moradas quando os primeiros raios de sol iluminam o horizonte.

Que Deus proteja você leitor, e que guarde sua alma, que te livre do terror noturno, e da névoa que cerca nosso mundo frágil e decadente, que te dê o vinho etérico do sono e que lhe prive das visões noturnas, e afaste-se da névoa, pois onde há névoa, lá estarão eles. Amem.

Como podem perceber meu conto é somente uma obra de ficção, não desejo criar alarme algum, uma mente sadia percebera rapidamente o cunho literário neste documento, nada neste conto é real, assim como não são reais os sons mudos que ouvimos a noite vozes que chamam nossos nomes e gritos aterrorizantes que não partem de lugar algum, ou a sensação terrível de que alguém nos observa de perto, aproximando-se com um calor estranhamente “frio” que se aproxima e abafa nossa respiração e mãos frias que tocam nossos ombros quando estamos sós, nada disso é real, tudo é fruto de nossa mente, nem de atenção a imagem escura e indecifrável que te observa quando passa por um espelho ou na tela de seu televisor, nada disso é real.

Daniel Gross
Enviado por Daniel Gross em 06/06/2016
Código do texto: T5658632
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