REFÉNS DO MEDO
Era uma cidade pequena, encravada no sul do país. Não possuía mais que dez mil habitantes, e fazia frio naquela manhã de julho. Os rostos eram cortados pelo vento gelado deixando suas faces vermelhas pelo frio, e olhos arregalados pelo que viam. Diz-se que notícia ruim voa, e talvez fosse esta a justificativa pela aglomeração formada. Tinha-se a impressão de que toda a cidade ali se encontrava. Não era para menos, já que nada de parecido houvera por aquelas bandas. Cada um que chegava se espantava com a cena de horror às vistas de mulheres, homens, e muitas crianças que se destinavam ao colégio que ficava ali perto. A polícia tentava repelir a multidão, mas uma ânsia tomava-lhes a alma e só se satisfaziam ao finalmente estarem frente a frente com a cena. Um enorme círculo de gente se formou ao redor da vítima. Foi um crime brutal. O sangue se juntava em poças, e pedaços de um corpo mutilado ficaram expostos na praça central da cidadezinha. O assassino tivera o cuidado de separar cada membro do corpo. O tronco partido ao meio deixava à mostra as costelas, e seus órgãos estavam depositados numa bacia branca, tingida de rubro elo sangue. Muitos ao se depararem com tudo aquilo não seguravam o enjôo e ali mesmo vomitavam o café da manhã, e até mesmo o jantar. A polícia sem muito quadro pessoal, perdida em tal situação, girava como moscas tontas. Não demorou muito para que a informação chegar a imprensa e jornais da região e até mesmo da capital foram até o local da brutalidade. A pequena comunidade via sua rotina alterada, e enquanto esperavam por peritos vindo Porto Alegre para a remoção da vítima seguiam para suas casas, para o trabalho, para a escola... Todos reféns de um medo indescritível, fruto da tragédia matinal que assolava aquele lugar pacato, atém então não muito acostumado com crimes deste tipo.
(Continua...)