O Rapto da População

Numa noite chuvosa de domingo, pouco além de um quarto da meia noite, Brandão se vê confinado em seu apartamento na companhia de uma garrafa de Louis XIII e um bom charuto cubano, em frente ao computador escrevendo um texto que lhe tinha sido solicitado pela editora com a qual trabalhava. Após uma breve baforada em seu Vega Robaina, escutou o soar de uma sirene ao longe e logo em seguida as luzes se apagaram transformando a noite da cidade em um completo breu como se estivesse mergulhando nas profundezas abissais do oceano.

Achou estranho, pois não escutava barulho algum a não ser o som irritante da sirene que também veio a calar-se momentos depois. Levantou-se da cadeira e tateando as paredes foi até o armário da cozinha procurar a lanterna que guardava junto de outras quinquilharias. Chegou até a janela e direcionando o facho de luz de sua lanterna para o interior do condomínio e para apartamentos de vizinhos, não observou movimento algum. O silêncio era sepulcral!

A noite então se clareou com um luar alvo como se tivessem aberto uma cortina de um quarto escuro numa manhã ensolarada. Ficou intrigado com o acontecimento e decidiu averiguar o que poderia estar acontecendo, a curiosidade era característica de sua personalidade. Saiu de seu apartamento e teve que descer pelos degraus da saída de incêndio conduzido pelos lampejos de sua lanterna que começava a falhar, pois o elevador não funcionava. O único som que percebia era o de seus próprios passos a medida que seguia em direção à portaria.

Chegando ao saguão, não encontrou Edilson, porteiro que geralmente era escalado para ficar de prontidão nas noites de domingo. A porta estava entreaberta devido a força que o vento frio exercia sobre sua lâmina de vidro. Confuso com os fatos, resolveu sair do condomínio a procura de informações que pudessem elucidar o mistério e a medida que caminhava pela rua, não encontrava viva alma para trocar palavras. A região parecia deserta, nada além de uma chuva fina e da noite fria. Seguiu caminho e observou que o comércio estava vazio e os carros parados pelo caminho como se tivessem sido abandonados às pressas.

Começou então a correr pelas ruas na tentativa desesperada de encontrar alguém com quem pudesse se comunicar e acabar com aquela aflição e sensação de abandono. Foi quando novamente escutou o soar daquela sirene irritante, seguida do mesmo apagão que ocorrera minutos atrás. Mais uma vez, passado alguns minutos, a noite clareou e foi quando Brandão percebera que ainda estava em seu apartamento.

Na verdade, ninguém tinha desaparecido. A sirene era um aviso para que Brandão prestasse atenção aos sinais que seu inconsciente lhe enviava através de breves clarões de lucidez a fim de que saísse daquele confinamento em que tinha se forçado a ficar, se afastando de tudo e de todos. Tinha que retomar as rédeas de seu destino, pois a vida dever ser plena. Não tem lugar para solidão!

CAPS - 26/09/2016

Carlos Augusto Guto
Enviado por Carlos Augusto Guto em 26/09/2016
Reeditado em 03/11/2016
Código do texto: T5773512
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