divergência

O ano era 2018, copa do mundo. Quase todas as pessoas do mundo estavam sentadas em suas poltronas, cadeiras, bancos ou qualquer outra coisa que servisse para repousar as pernas da maneira que acomodasse melhor. Estava de ferias na empresa como em meus cálculos. Tudo foi friamente planejado, exceto uma coisa: Caroline, Uma estagiaria que concomitantemente chegava enquanto eu saia de férias.

Olhos negros e pele clara. Ela era linda. E quando vestia a farda da empresa que valorizava suas curvas e explorava os seus seios resistir a ela era quase impossível. O patrão tinha o costume de fazer as mulheres de isca para atrair a clientela. Caroline não era a primeira. Ano passado ele acertou para uma funcionaria fazer programa para um banqueiro para tirar a empresa da crise. A gana de Caroline fez ela procurar um emprego com pouca idade, Dezessete anos e já usava parte do seu dia procurando emprego para menor aprendiz, em anúncios, e vendo as cinquenta melhores maneiras de estruturar um curriculum. Esse era seu hobby, ou melhor, seu carma. Ainda estava concluído o ensino médio, faltava um pouco mais de um ano para sua formatura. Os garotos da escola que ela frequentava eram doidos por ela, Famintos de tesão. A ultima vez dois garotos saíram na mão disputando sua atenção. Essa era a maneira que os adolescentes machos disputavam a atenção das fêmeas. Violência era o caminho. O campeão da disputa ganhou o prestigio e um beijo seu, o outro nada mais nada menos que cinco pontos na testa. na escola em que ela estudava, era muito comum os adolescentes promoverem pancadarias para mostrar poder e força. Nem sempre havia aula. Na maioria das vezes, os alunos iam só para brigar mesmo. As aulas não tinha nada de interessante, tudo do mesmo jeito: enfandonha tanto para os alunos quanto para os professores. Não havia escapatória. Seis horas de aula e nenhuma de aprendizagem. Tanto em atributos físicos e intelectuais, formados pela escola, ela chamava atenção. Frequentava as aulas, mas não tinha muita aptidão pelos livros, embora fosse uma boa aluna, Aprendeu muito cedo o segredo da escola. Decorava tudo e sempre tirava dez. não fazia nada de novo, as diretrizes de educação do MEC era repetição. Parecia uma serie exaustiva de academia. “Maldito governo. Queimem todos na labareda do inferno”, dizia o professor de artes que nem da sua arte ele poderia falar e parecia ter perdido a cabeça por conta do oficio. Os tempos eram outros. Poucos pinceis e algumas telas era o suficiente para a aula, ele não podia falar de nada do que havia aprendido em sua graduação. O que os alunos daquela escola não sabiam era do plano maquiavélico do governo de entrega a mão de obra deles quando completasse a maior idade.

Eu tinha trinta e cinco anos. já tinha passado o meu auge. Caminhava lentamente para o rumo da partida. A minha alimentação de comer porcaria em Fast food já me envelhecia bem mais do que a idade que eu tinha, embora estivesse bem novo para algumas coisas que a minha mente perturbada permitia. Vivia com meu pai, um sargento velho e gordo, que sempre fazia questão de jogar uma centelha de fogo a mais na labareda de divergências que já existia entre nos. Tantas que é quase impossível descrever. Meu pai estava na corporação militar há, pelo menos, cinquenta anos. trabalhou no auge da ditadura. “as guerras contra os subversivos eram boas. Quantas pessoas não matamos em nome do estado, hein, Carlinhos”, conversava ele com um ex companheiro quando eu cheguei do trabalho, relembrando os velhos tempos em que os militares podiam fazer tudo. tudo mesmo. vê-lo falando daquela forma sobre as vidas que tinha ceifado por algo tão inútil me deixava enfurecido. Como simplesmente ele poderia ficar contra a reforma social que o pais poderia empreender se caso conseguisse chegar naquele momento. Meu pai era um funcionário do mais baixo escalão da corporação. Mal sabia o que defendia e porque defendia. Os funcionários dos mais baixo escalão simplesmente cumprem ordens de determinado processo judicial, mas não pode acompanhar o desfecho do trabalho que teve parte do seu esforço ele tinha participado de boa parte das torturas do dops, desde uma simples agressão até pôr ratos nas vaginas das garotas que lutavam por um país melhor. Ele falava, falava mas não se apartava da pistola. mesmo em casa a pistola tava na cinta, ela tinha nome e registro de nascimento como filha. Todos os dias ele limpava, Cuidava mais da pistola do que da minha mãe, coitada! A relação com a pistola era intima demais. Alias, não falo da pistola, mas da Mafalda, era assim seu nome no registro. Para as pessoas na rua mostrávamos um reduto de família, pela decência e etiqueta que tínhamos que manter, mas o alinhamento e as palavras de ordens dirigida pelo meu pai me lembrava meus tempos de instrução no quartel. A pior que vivi. Era feito cão de guarda, parado um quarto de horas no portão mesmo sabendo que não tinha do que se proteger. Mais uma vez fui obrigado, porque os filhos tinha que seguir a profissão do pai. Meu pai gastava parte do seu salário como os seus amigos de corporação fez quando entrou para a reserva da policia. Eles pareciam perder todo o sentido do que tinha defendido a vida toda e por isso entregavam a bebedeira e a lassidão. os vícios de jogo do meu pai corroía todas as nossas economia e levava junto o nosso sossego. Parece que o vício está para a ociosidade feito o dinheiro está para o consumismo. Era só faltar o dinheiro pra o meu pai surtar com as contas. E isso estreitava os nossos laços de fraternidade que já não existia. E minha mãe, coitada, quero nem falar dela, falei dela outro dia para o carroceiro e até a mula chorou de tão triste que era a historia de dona severina. Todos os dias a bichinha fazia flexões... primeira obrigação de muitas do seu dia. Tudo isso a mando do meu pai. cheguei a conclusão que ele era doido. Vivia dizendo “brasil acima de tudo, não é, Mafalda?”. Ele parecia esperar respostas da pistola... Talvez um disparo de afirmação. Eu tinha que deixar boa parte do dinheiro que eu conquistei no trabalho em casa, porque o meu pai gastava tudo em jogo, ou melhor, quase tudo, porque ele investia seu dinheiro em mulheres de vida fácil por noite a dentro. Não tinha pra onde correr, ele escondia uma fragilidade inata ao ser humano de errar. Não era incomum eu ir ao trabalho sem comer por falta de apetite por ver aquilo tudo. as vezes, chegava tão cansado do trabalho r que ir ao supermercado, mesmo sendo na rua de trás, era uma possibilidade remota. Outro dia ele chegou bêbado em casa e eu quase o bati. Estive muito perto. Fui contido por uma força moral que me dizia para eu não bater porque era meu pai. Talvez, se tivesse batido, ele tinha entendido o preço da minha angustia ao ver meu genitor naquele estado.

Voltei ao emprego depois de vinte e oito dias. Fui chamado antes. A legislação aqui, que vigorava, falava em trinta, mas os patrões não respeitavam. Não foi tão ruim assim, encontrei a estagiaria para tentar a sorte. E criei coragem para falar com ela, mas não tinha muita ideia do que falar... ela estava de costas na minha mesa. Agucei o português e seguir em frente sem pestanejar... mas tinha uma carta na manga para começar o diálogo. Poderia começar com um assunto qualquer de empresa, assim seria mais fácil de esconder a minha intenção.

-você conseguiu aprender tudo o que precisava, Caroline? Todas as dúvidas foram tiradas- perguntava apenas para começar o diálogo que tanto desejei. Estava cagando e andando em saber se ela tinha aprendido. Na pratica, não há nenhum interesse sem desinteresse. A ação mais filantrópica esconde um interesse próprio por trás.

-sim, edgar. Senti um pouco de dificuldade nos primeiros dias, mas depois conseguir desenrolar bem a digitação de correspondências de cobrança.

Ela parecia adivinhar as minhas intenções. O olhar no qual ela dirigia pra mim parecia dizer “eu sei o que você ta querendo, seu danadinho.” Não demorou muito para que a minha pergunta fosse respondida, e eu parecia estar desarmado na frente do inimigo. Empregar um pouco mais de esforço na pergunta para que o assunto resistisse ao tempo parecia ser a saída... falei de algo que é unanime entre os brasileiros para ser fatal e a conversa fluir de vez.

- o jogo do brasil ontem foi eletrizante, você viu... – Caroline não deixou concluir e interveio de imediato, como se fosse mãe de algum jogador e estivesse feliz por ver alguém falando do seu filho. Meu corpo tremia feito vara verde.

-nossa, Edgar, que defesa foi aquela então, hein? O ultimo pênalti... que defesa! –falar de algo que não fosse ligado a trabalho deixava a conversa mais leve, mais humana. Me senti pronto o bastante para chama-la para assistir um jogo em minha casa. Já sabia que ela gostava de jogo.

- amanhã, Caroline, é dia de pagamento na empresa e eu decidi chamar alguns amigos para assistir o jogo lá em casa, as 16:00, Se quiser ir, vai ser um prazer recebe-la na minha casa.- o convite foi feito. Não foi nada fácil. Parecia um Cowboy que briga para ficar sete segundos em cima de um touro feroz que está faminto para ver sua queda na arena. Eu brigava pra não falhar no convite. e chama-la para minha casa no primeiro convite parecia ser insensato, o ambiente era hostil.

- Edgar, não vou te dar certeza porque é tradição na minha casa que a gente se junte para assistir as partidas, mas, se der, prometo que irei. Agora preciso ir, minhas horas de estagio hoje chegaram ao fim.

Pouco mais de cinco minutos a estagiaria estava pronta pra partir. Vi quando ela passou pela porta principal do estabelecimento. Seu destino já sabia, rua da sul, o ponto mais famoso do local. Onde jovens se encontravam para beber. O convite estava feito. E eu esperava que ela aceitasse ansiosamente.

Fui para casa e chovia muito naquele dia. Peguei o meu carro e segui pela rua, pensativo sobre o dia seguinte. A duvida de saber se ela aceitaria ou não o convite pairou e logo parou em minha cabeça. meu caminho durou vinte minutos. Quando abri o portão ouvi algo que por mais comum que fosse, eu nunca me acostumei em presenciar. Meu pai gritando com a minha mãe após ter ingerido boas doses de álcool. Não precisava mais que duas garrafas de álcool para ele ir cambaleando para casa e descarregar toda a sua fúria, após recobrar a consciência, em minha mãe. Ele dizia que uma noite no buteco era sagrado. Seu dinheiro financiava suas idas no buteco e, por isso, vivia apertado. Minha mãe era seu saco de pancadas.

-Joselma, sua desgraçada, quem mandou você perder o isqueiro!- ele não entendia que naquilo ela não tinha margem de escolha. Não havia possibilidades para sua súdita. Ela não podia escolher o destino daquele isqueiro, Foi simplesmente perdido. Mas ele não parecia dá trégua e continuava gritando como um superior grita com um subalterno no quartel. O corpo dela parecia um templo de suplicio dele... uma palavra contraria a dele e o cassete cantava.

-mas meu filho- ela sempre chamava ele amorosamente- eu não sei onde eu coloquei. Se eu soubesse, estava na sua mão.

- mentira, sua vagabunda.

Naquele momento esqueci de tudo, só pensava em repelir aquela injusta agressão verbal a minha mãe. Mas eu não podia, a casa era dele. Eu iria colocar os meus planos de ver Caroline no dia seguinte, se porventura brigasse com ele, a perder. Me contive. Corri para o meu quarto e fechei a porta como se estivesse correndo dos meus monstros da infância. Ficar quieto era a melhor opção. Peguei a garrafa de álcool, que eu sempre deixava perto para essas ocasiões que era mais comum do que o leitor imagina, e dei duas goladas que pareceram me entorpecem suficientemente para acordar no dia seguinte. Foi melhor. Havia conseguido.

Eu havia mentido para Caroline. Não havia ninguém além de mim e ela que iria frequentar aquela casa naquele jogo. Eu tinha preparado todo o terreno, Colchas novas e edredons na minha cama. A estagiaria teria que transar comigo para obter o emprego. Todas as contratações passavam pela minha mão e uma simples rubrica minha era suficiente para que eu descartasse alguém daquela maldita empresa que eu já trabalhava algum tempo. Separei as melhores garrafas de vinho para recepciona-la. Eu já ansiava ver o seu corpo despido sobre o meu. Eram três horas da tarde do dia do jogo. mas as horas no meu relógio parecia estar com as engrenagens emperradas pelo tempo ou parecia não passar por eu estar esperado? Não sabia responder, pois essa pergunta era difícil pelas más condições do relógio que fazia muito tempo que ele fazia os mesmos movimentos todos os dias. A ansiedade e angustia era incomensurável. Parecia que ela não ia chegar quando as quatro e quarenta e sete a campainha toca. “Tim Dom” anunciou sua chegada.

Caroline parecia estar desconcertada por ter aceitado o convite de um estranho na primeira vez sem oferecer uma maior resistência. Uma Calça jeans e blusinha branca delimitava, até aquele momento, o que poderia ser visto por mim, o funcionário velho do seu lugar de aprendizagem. Agora queria mostrar a ela outro tipo de aprendizagem... já estava tudo certo, meus pais tinha saído para fazer compras e iria demorar. Seria o tempo necessário para que acontecesse... convidei a sentar. Já estávamos na metade do segundo tempo.

-nossa, você demorou garota. Pensei que não vinhesse mais.

- peguei um engarrafamento por conta do transito. Estou desde as duas tentando me locomover. Me desculpe. - minha mente maliciosa e maligna não havia pensado nisso, nos transtornos que havia na cidade por conta dessa final de copa de mundo e o tão sonhado sonho brasileiro. O brasil não ganhava uma copa desde dois mil e dois, por isso a cidade estava parada esperando acontecer aquilo.

-olha, Carol, eu não sei se você bebe mais a única coisa que eu tinha a oferecer naquele momento era o vinho. - Tudo foi friamente planejado mais uma vez. O planejamento pra mim era tudo. O sucesso que eu queria para aquela tarde dependia do meu planejamento.

- tudo bem, Edgar, não sou de beber mas hoje irei aceitar a sua taça de vinho. Coloque com bastante gelo, por favor!

- seu pedido é uma ordem Carol - fui o mais cordial possível. Sabia que se soubesse trata-la da maneira como ela deseja ser tratada por um rapaz eu conseguiria. comecei a lançar olhares para tentar deixar mais explicito minha intenção para aquela tarde de jogo. Enchi os dois copos o mais rápido que pude e logo lancei uma proposta de darmos três goles após o brinde. Ela aceitou. E depois de dez minutos seu rostos já mostrava inebriado. Aos poucos fui xavecando... ela cedeu e me deu um beijo que eu nunca tinha ganho por uma menina de tão pouca idade, mas que demonstrava firmeza nos lábios. Ela não era a anjinha que eu esperava que ela fosse. Gostei do que vi. Ela avançou para desabotoar minha camisa como uma leoa no sil e me deu dois acoites como se tange boi. Já estava tudo pronto. O meu desejo já tinha tomado minha racionalidade.

-mas, Carol, vamos com calma. - falei assustado com as atitudes que agora ela me mostrava.

Edgar, eu que mantenho aquela empresa que você trabalha. Faço programas com os banqueiros para manter aquela empresa com as portas abertas. Assumi o lugar da carla. E se você se recusar a transar comigo depois de ter insistido tanto pra que isso acontecesse, amanhã mesmo você estará na rua. Aquilo me lembrava aqueles tempos do quarteis que eu esperava nunca mais ouvir aqueles imperativos. Decidi ceder aquela jovem que tinha mais poder do que eu imaginava. Tudo que eu havia planejado, iria sair mais uma vez como ela havia parecido na minha vida: uma exceção a minha regra de planejamento. Quando abri o zíper, o ferrolho da porta bateu. Meu pai havia chegado. Meu desespero aumentou ainda mais e meu coração só conseguia se manter batendo depois de todo aquele caos que eu me envolvi por um milagre.

-Edgar, seu filho da puta, quem é essa menina? Você é doido. Eu já falei a você que isso é uma casa de família e eu não quero você fazendo as paredes da minha casa que foram edificadas com muita honestidade e trabalho em motel.- ouvi ele falar daquela maneira cerceou meu corpo ate murchar todo como uma flor no outono. Caroline vendo aquilo, caiu nos prantos e me acusou de estupro. Neguei toda a acusação de Caroline com toda a veemência de quem é acusado injustamente. No minuto seguinte, senti uma pontada em meu tórax, e logo em seguida minha visão ficou turva. Mafalda, havia me acertado. E um grito ecoou naquele quarto: ”filho meu, não vira fora da lei, Porque a lei desde 1968 sou eu quem faço”.

eraldo junior
Enviado por eraldo junior em 04/07/2017
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