As Gêmeas

Uma linda família se mudara para a nova casa.

- Essa casa tem cara de velha! - disse a menina Débora.

- Nada que uma boa reforma possa ajeitar, meu amor. - disse sua mãe Jamie.

- Lar doce lar! - suspirou George.

O casal tinha uma única filha. A casa para onde mudaram era a única do bairro vendida por um preço anormalmente baixo, mas como George ficou desempregado, acabou aceitando a proposta. O belo e bem cuidado jardim é que fazia diferença, dando uma amenizada na aparência desgastada.

Eles entraram e o cenário era sereno de uma pintura com cores frias, os móveis décor, as janelas altas com cortinas espessas impediam a luz entrar. Um pequeno corredor dava para a cozinha, o banheiro social e o porão; e a escada levava aos dois quartos acima.

- Está ansiosa para ver seu quarto, meu amor? - perguntou Jamie para Débora.

Ela balançou a cabeça que sim.

A pequena de cinco anos possuía cabelos lisos de cor castanho, até o ombro; olhos meigos e curiosos. Sempre usava um lacinho vermelho na cabeça.

- Ainda tenho um dinheiro reserva, assim podemos iniciar a reforma na próxima semana. - disse George.

- Boa idéia! E eu vou tratar de saber de uma escola para Deb. - Jamie chamava Débora pelo apelido.

O carro da mudança havia chegado e depositaram as caixas na sala. Levariam a semana toda para desempacotar e arrumar a casa. Os poucos móveis que já estavam ali seriam limpos e prontos para o uso.

Jamie levou a menina até o segundo quarto de cima:

- Este quarto é bem grande!

- É todo seu, meu amor. Seu pai e eu vamos trazer suas coisas.

A menina passeou no quarto cujo chão empoeirado revelou marcas de duas camas.

George e Jamie arrumaram toda a casa e no final de semana se sentiam exaustos.

No sábado pela tarde, Débora queria sair para conhecer a cidade. Mesmo com a tenra idade, tomou banho por conta própria, vestiu-se e colocou o lacinho no cabelo. Desceu as escadas e surpreendeu a mãe na cozinha:

- Mãe!

- Ai minha filha! Que susto! Eu achei que vi você passar por aqui ainda agora.

- Eu quero sair, mãe!

- Ah querida, tem como você esperar só mais um pouquinho. Segunda-feira vamos conhecer tudo, vamos conhecer os vizinhos, ver sua escola, passear em algum parquinho e...

- Eu tenho que esperar mais?

Jamie se abaixou a altura da filha e falou:

- Por que você não brinca com seus brinquedos?

- Já estou enjoada deles.

- Então, eu vou...

- Querida - disse George - onde você colocou a caixa com minhas ferramentas?

- Está embaixo da escada, querido.

Ela voltou atenção a menina.

- Olha, hoje está bem frio! Que tal um chocolate quente bem gostoso, hein?!

Débora deu um sorrisinho e concordou, subiu as escadas correndo e foi para o quarto.

George encontrou a caixa de ferramentas e desceu ao porão para guardá-las. O lugar era escuro e frio, mas a lâmpada iluminava bem. Se pudesse ter uma lareira, o porão seria o local mais quentinho e aconchegante da casa, ideal para Débora, pensou ele.

Nada estava bagunçado, parecia até que alguém havia arrumado ali há pouco tempo. George armazenou as caixas vazias perto de uma estante velha que continha alguns objetos antigos. Ignorou.

Mais tarde, alguém bateu na porta.

- Olá, eu sou a sua vizinha e vim dar as boas vindas!

Jamie recebeu um embrulho.

- Obrigada! Quer entrar? Acabei de fazer um delicioso chocolate.

- Eu adoraria, mas tenho um filho pequeno em casa.

- Ah eu entendo; tenho uma também.

Débora veio saber quem era que estava falando com sua mãe. Seu rosto meigo chamou atenção da moça.

- Olá, como você é linda!

Ela grudou na mãe, com vergonha.

- Foi bom você ter vindo aqui, eu queria perguntar se você conhece uma boa escola - disse Jamie.

- Se você quiser pode matricular ela na mesma escola do meu filho, além de ter um ótimo ensino, eles vem juntos para casa.

- Isso é uma boa notícia! Eu agradeço.

- Por nada. Qualquer coisa minha casa é essa branca da direita viu. Tchauzinho, linda! - a moça acenou para Débora.

O embrulho continha biscoitos amanteigados em formatos divertidos. Caiu bem com o chocolate, pensou Jamie.

Quando passou das onze da noite, todos foram para seus quartos. Débora se sentiu pequena e ao mesmo tempo dona de um quarto tão grande. Deitou, se cobriu e se deixou levar pelo brilho de uma lua tão bela até adormecer.

George tinha conseguido um emprego numa empresa de construção de casas. Jamie ficaria cuidando da casa e de Débora, que havia começado suas aulas. No começo, foi difícil para ela se acostumar com as crianças da cidade pois eram muito esnobes, mas tinha o seu vizinho, que da mesma idade, se identificava com ela. Sua parte favorita da escola era a hora do intervalo, onde brincava com Richard nos balanços.

- Quando você voltar, poderia comprar algumas caixinhas de leite, eu esqueci - disse Jamie no telefone com George.

- Está bem. Esqueceu mais alguma coisa?

- Não.

- O meu beijo.

- Ah - ela sorriu. - Um beijo, querido, até mais.

A sala arrumada fez diferença no clima daquela casa e os jarros de flores em cada canto traziam leveza e perfume no ar. Os móveis antigos depois de limpos mostraram uma cor bonita, a madeira escura que envernizada ficou elegante. O sofá de costas para a escada tornou o lugar dinâmico. Algumas vezes Débora surpreendia o pai por trás e dava um abraço.

Jamie estava sozinha em casa. Intercalava entre lavar a roupa no tanquinho e fazer o almoço. Todas as janelas estavam abertas para fazer circular o vento. De repente, ela ouviu uma pancada. Parou o que estava fazendo e olhou na sala. Novamente a pancada. Ela subiu e verificou que fora a janela do quarto da filha que havia fechado. Jamie abriu-a de novo e afastou a cortina. Voltou para a cozinha e quando estava mexendo na panela, outra pancada. Quase derrama o conteúdo da panela. Voltou para o quarto da filha e viu a janela fechada. Que vento, pensou ela.

Arrastou uma cadeira para segurar a janela e afastou novamente a cortina.

Sobraram alguns biscoitos que tinha feito na noite passada, a receita que pediu a vizinha para satisfazer o desejo da filha de comer doces. Quando passou perto do prato de biscoitos não havia mais nenhum. Jamie estranhou mas logo pensou que Débora tivesse levado para a escola. Então lavou o prato.

Horas depois, um carro buzina na frente da casa. Débora e Richard tinham chegado da escola com a mãe dele.

- O almoço ainda não está pronto, mas você quer entrar? - perguntou Jamie a mãe do menino.

- Agradeço, mas preciso voltar e dar um jeito no meu jardim.

- Está bem; obrigada pela carona!

- De nada!

Richard acenou para Débora. O menino era risonho e com um cabelo volumoso que insistia em cair nos olhos.

- Como foi na escola hoje, meu amor?

- Foi legal; eu só não gosto de matemática, aqueles números me deixam doidinha da cabeça

- Mas matemática é importante! Imagine que português é um lado da sua cabeça e matemática é o outro lado, você vai precisar dos dois para viver, não pode ficar só com um.

- Eu gosto das letrinhas, de ler.

- Quando começar suas provas vou pagar uma aula de reforço para você.

- Eu estou com fome, mamãe.

- Vá trocar de roupa que daqui a pouco o papai vai chegar e iremos almoçar.

Ela subiu as escadas correndo.

Quando George chegou em casa almoçaram. Na mesa Jamie perguntou:

- Você merendou na escola, Deb?

- Sim e o Richard ainda me deu um pouquinho do lanche dele.

- Você brincou muito hoje? - disse George.

A menina balançou a cabeça sorrindo.

- Vocês dois só pensam em brincar. Deb tem que gostar de matemática.

- Por que tem uma cadeira no meu quarto?

- Ah, o vento ficava fechando a janela e tive que colocar a cadeira para segurar.

- Falando nisso querida, o banheiro daqui debaixo está com problema no chuveiro, não sai água de jeito nenhum. - disse George.

- Será que está entupido?

- Provável. Vou chamar alguém para consertar.

Débora tinha um baú de brinquedos e toda vida que brincava, guardava. Porém, num dia desses, ao voltar da escola, ela achou vários brinquedos no chão. Como não gostava de bagunça, guardou novamente sem se importar.

Alguém bate na porta e Jamie vai atender.

- Querido, é o encanador!

George aparece e o leva até o banheiro social perto do porão.

- Boa tarde, senhor; onde está o defeito?

- Este chuveiro não sai água, veja - ele girou a chave e nenhuma gota caiu.

- Humm, ou deve estar entupida ou deve estar vazando água em outro lugar.

- Você acha? Já olhei no porão e não vi nada de água.

- O senhor me permite dar uma olhada na casa para encontrar um possível vazamento?

- Pois não.

O encanador tentou desentupir os poros do chuveiro e olhou debaixo da pia, atrás do vaso sanitário e nada. Checou a pia da cozinha, do banheiro do quarto do casal, e por fim foi verificar o registro do porão. O lugar tinha cheiro de umidade, certeza que encontraria ali. Espirrou três vezes. Abriu o registro, olhou o encanamento que passava por baixo da casa mas achou só uma gotinha que pingava no chão perto de uma estante. Isso aqui não tem motivo para impedir a água de subir, pensou ele.

De repente teve a ligeira sensação que alguém o observava, pior que estava atrás de si. Virou rapidamente. Ninguém.

- Senhor?!

A lâmpada começa a piscar.

O encanador subiu rapidamente.

- E então? - George levantou do sofá.

- Aparentemente não há motivo para a água do chuveiro não descer. Tentei girar a chave mas não resolvi. Sugiro que troque o bocal para ver se funciona.

- Descobriu algum vazamento?

- Tinha apenas algumas gotinhas que caem perto de uma estante velha lá no porão mas já concertei.

- Obrigado!

Jamie virou para a janela e viu uma garotinha que observava os meninos brincarem, lá fora. Débora e Richard a ignoravam.

Ela ficou com pena, a garotinha parecia triste por não participar da brincadeira.

- Estou cansado, querida; vou deitar um pouco.

- Está bem.

Débora trouxe Richard pela mão e subiram até seu quarto.

- Seus brinquedos não estão bagunçados como você disse.

- Mas ontem eles estavam.

- Você está mentindo - riu Richard.

- Não estou mentindo.

- Então vamos brincar com seus brinquedos.

- Mas são brinquedos de meninas.

- Quando você for na minha casa, eu deixo você brincar com meus brinquedos de menino.

Eles apertaram as mãos concordando.

Jamie apareceu na porta.

- Por que vocês não deixaram aquela garotinha brincar com vocês?

- Que garotinha, mamãe?

- Aquela que estava em pé perto do muro.

Os dois se entreolharam.

- Não tinha nenhuma garotinha perto do muro, Sra. Jamie. - disse Richard.

- Sejam mais simpáticos da próxima vez, crianças - e saiu.

Eles ficaram sem entender.

Mais tarde, George estava deitado no sofá quando ouviu um som de passos correndo na escada.

- Deb, papai quer cochilar um pouco.

Mais som de passos.

- Você quer brincar não é?

Quando ele olhou não viu ninguém. Estranhou e voltou a deitar.

Som de passos.

- Te peguei! - ele virou.

Não era Débora, não era ninguém.

Jamie dava banho na filha no banheiro do quarto do casal. Ela cantarolava:

A dona aranha subiu pela parede, veio a chuva e a derrubou (...)

Débora cantava também entretida com os brinquedos dentro da banheira.

- Querida...

- Que foi? - perguntou Jamie.

George viu Débora tomando banho, aqueles passos não eram dela.

- Eu pensava que a Débora estava brincando na escada.

- Não, meu bem; ela está aqui faz uns dez minutos. E falando nisso está na hora de se enxugar, mocinha.

George ficou confuso.

- Mamãe, posso dormir na casa do Richard? A mãe dele vai fazer uma festa do pijama que vai ter pipoca, chocolate, pizza e ainda vai ter historinhas. Deixa, mamãe?

- Eu não vejo porquê não pode. Quando é?

- Amanhã depois do jantar.

- Não é possível! Eu já troquei o bocal do chuveiro mas ele insiste em não funcionar. Não quer sair água de jeito nenhum! - reclamou George

- Deixa ver se eu tento. - disse Jamie.

Ela girou a primeira vez e saiu água.

George olhou espantado.

- Como você...

- Tem coisas que só mulher pode fazer.

- Agora você me lembrou de um detalhe interessante: você e eu vamos ficar sozinhos em casa.

- Sim.

- Tenho planos para hoje a noite. - ele segurou sua mão e depois a envolveu nos braços.

- Quando eu terminar o jantar podemos... - ela o beijou no pescoço e sussurrou algumas palavras em seu ouvido.

- Temos que lembrar de deixar a Deb sair mais vezes.

- Falando assim parece que ela tem vinte anos e eu quero aproveitar a infância da nossa filha.

- Ela já tem cinco anos, você não acha que está na hora de lhe darmos um irmãozinho...

- Calminha aí... - ela impediu os avanços do marido - lembre-se que ela só vai depois do jantar.

- Mas a proposta está de pé?

Nesse instante, Débora aparece.

- Mamãe, me ajuda a arrumar minhas coisas. - ela estava animada.

- Sim, meu amor, vamos.

Débora pegou a mão da mãe e correu para o quarto.

- Ela sempre tira de mim - suspirou George.

Jamie pegou uma pequena mochila de florzinhas e colocou uma roupinha e itens de higiene.

- Vou levar meus brinquedos!

- Mas não dá para levar tudo.

- O Richard disse que lá só tem brinquedo de menino, mas ele deixa eu brincar.

- Você leva alguns.

O jantar foi caprichado. A noite continuava fria por isso sempre ligavam o aquecedor. Jamie estava com um vestido justo de cor preta e um discreto penteado todo preso, deixando seu pescoço delicado à mostra. George estava encantado.

- Você está muito linda, mamãe!

- Obrigada, meu amor.

- Brinque muito lá! - disse seu pai.

- Eu volto amanhã de manhã cedo.

- Mas e a sua aula?

- Amanhã é sábado, querido.

- Ah é, eu esqueci que hoje eu tive folga.

Bateram na porta.

- Deve ser seu amiguinho.

Richard contou as novidades para sua amiga e os dois pularam empolgados.

George fechou a porta.

- Enfim, sós.

- Você pode me ajudar com a louça?

- Sempre ocupada, não é?

George lavou a louça e quando estavam perto de terminar, ele não se conteve mais e agarrou sua mulher por trás, com beijos no pescoço e mordidas na orelha.

- Amor

- Você é a mulher mais linda que eu conheci e a mais irresistível.

- Sou é?

Afastaram as coisas e ele a sentou no balcão e corresponderam ao desejo um do outro.

A mãe de Richard encheu as crianças de mimos. Assistiram a um filme com pipoca, chocolate e refrigerante. Depois de brincarem com os brinquedos, armaram uma tenda na sala e ela contou historinhas.

A noite ficou nublada mas não atrapalhou em nada o clima do casal. Os dois estavam deitados na cama.

- Eu estava mesmo precisando de uma noite assim pra aliviar a tensão.

- Tensão? Que tensão?

- Sei lá amor, tem acontecido coisas.

- Que tipo de coisas?

- Deb disse que todas as vezes que entra no quarto dela os brinquedos estão bagunçados. E a janela do quarto que sempre fecha.

- Sei, e naquele dia eu escutei passos e achava que fosse a Deb mas você estava dando banho nela.

Os dois acabaram adormecendo, no dia seguinte seria sábado e não teriam com o que se preocupar. Madrugada adentro, o casal dormia tranquilamente; mas dos dois, George tinha sono leve.

Som de passos.

Ele acordou e olhou para a porta.

Novamente o som de passos.

Ele levantou com cuidado para não mexer na esposa.

George olhou para o quarto da filha e não viu ninguém. Pensou se tratar de um ladrão, passou na cozinha e levou um pedaço de pau para averiguar o intruso.

Como não viu ninguém voltou para o quarto e se deitou.

A luz da manhã iluminou o rosto de George. Coçou os olhos, bocejou e levantou, quando viu Jamie parada na frente do quarto da filha.

- O que foi?

Ele olhou e viu os brinquedos espalhados no chão e Deb não estava em casa.

Passado alguns dias. Jamie estava sozinha em casa. Limpava o porão quando esbarrou na estante com objetos velhos. Seu marido havia ignorado, mas ela dera uma olhada. Havia um baú com fotos e papéis velhos.

"Das duas, eu sou a única que escreve. Mas por sermos iguais, o mesmo sentimento que tenho, minha irmã também tem."

A carta tinha a foto de duas irmãs gêmeas. Do mesmo tamanho, com cabelos escuros e com franjas, vestidos cor de rosa claro e descalças.

Mas outra foto datada de vinte e três de setembro de quinze anos atrás mostrava apenas uma das irmãs e a seguinte descrição:

"Ficar sem a minha irmã foi a pior coisa que aconteceu na minha vida. É como se uma parte do meu corpo tivesse morrido..."

Notou um jornal da época que dizia ter ocorrido um acidente na casa e uma vítima fatal.

De repente Jamie escutou barulho de passos.

Ela subiu rapidamente para verificar mas sabia que estava sozinha. Quando terminou o almoço, resolveu tomar um banho para receber o marido e a filha. Deixando a porta do quarto aberta, ela tirou a roupa e entrou no banheiro. A porta do quarto fechou violentamente. Jamie se assustou, ainda molhada, se vestiu rapidamente e saiu do quarto. Desceu as escadas olhando para os lados quando escutou um barulho de água. Não era na cozinha. Devagar, avançou pelo corredor e o barulho da água aumentava quando viu o chuveiro ligado no banheiro social.

- Meu Deus!

Jamie correu para o telefone e ligou para o marido.

- George vem pra casa! Por favor!

- Calma querida! O que aconteceu?

- Tem coisas estranhas acontecendo aqui. O chuveiro ligou sozinho, a porta do quarto fechou, tem alguém aqui! - disse ela histérica.

Nervosa, ela bateu o telefone e uma terrível sensação de estar sendo observada a dominou. Podia sentir que tinha alguém atrás dela. Em pânico, Jamie correu até a porta da sala para sair da casa mas a porta estava trancada.

- Socorro! Alguém me tira daqui!

Jamie batia na porta aos prantos.

George abriu a porta e encontrou a esposa molhada e sentada no chão tremendo.

- Quem está aqui? - perguntou preocupado.

- Foi aquela menina que eu vi.

- Que menina?

- Você está me achando louca?!

A buzina do carro da vizinha.

- Olha, se acalma! Não vai querer que a Deb veja você assim.

Ela balançou a cabeça.

- Receba a Deb, que eu vou preparar a mesa.

George foi para a cozinha enquanto Jamie disfarçava o desconforto. Débora beijou sua mãe e subiu para o quarto para se trocar.

- Eu não quero mais morar aqui - contou Jamie ao marido.

- Acalme-se! Vamos almoçar e depois nós conversamos. Sair às pressas do trabalho pode descontar do meu salário. - disse George aborrecido.

- Mãeeeeeeee! - gritou Débora

Os dois correram. A menina ficou trancada no quarto mas sem saber mexer na fechadura.

- Filha!

- Procura a chave Deb! - disse seu pai.

- Não tem chave papai!

- O que vamos fazer? - dizia Jamie.

- Vou tentar arrombar a porta, é o único jeito!

Débora deu um grito de pavor!

- Ela tá vendo alguma coisa! Tem alguém com ela lá dentro! - Jamie estava apavorada.

- Mamãe, tem uma menina aqui!

- Fica longe da minha filha! - gritou Jamie como se adiantasse.

No antigo lugar em que ficava outra cama, apareceu uma menina pálida de vestido rosa claro desbotado, descalça. Seus olhos eram fundos e escuros.

Os gritos da menina pararam para o desespero dos pais, que não sabia o que estava acontecendo do lado de dentro.

- Eu quero a minha irmã. - disse o fantasma da menina.

Então George se deu conta de que a chave estava jogada no chão um pouco longe da porta. Logo ele destrancou a porta e achou Débora desmaiada no chão. Ele recolheu o corpo da filha quando Jamie avisou:

- George não se mexe... Tem alguém atrás de você. - a voz dela quase não saía.

O fantasma estava tão perto que ele podia sentir a respiração em sua nuca.

Jamie prendeu a respiração vendo aquela cena terrível. Pensou se sairiam ilesos daquela situação ou se a vizinha chegaria naquele exato momento.

- Minha irmã. - a voz daquela coisa era quase inaudível.

- Eu vi a foto da sua irmã, se você quiser eu arranjo uma forma de falar com ela mas só se deixar a gente sair daqui - disse Jamie.

Ela a encarou com os olhos estranhos.

Em menos de seis meses a família se mudou novamente para outro lugar. A casa ficaria vazia por mais anos, o baú esquecido e a irmã gêmea morta ficaria aguardando o contato.

Nefer Khemet
Enviado por Nefer Khemet em 10/09/2017
Reeditado em 14/02/2021
Código do texto: T6109651
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