MEUS MOTIVOS

Foi naquela dia que o termo “assassino em série” chamou minha atenção. Ver o policial dando entrevista e dizendo aquilo, explicando o que era, me fez sorrir. Não sou apenas alguém que mata. Sou um assassino em série.

Matar.

Matam sem necessidade ou motivos, é o que ele diz.

Sem emoções ou sentimentos, ele conclui.

Paro para pensar nisso.

Motivos para matar. Não há mesmo.

Mas aquela sensação de prazer, de algo proibido e selvagem.

Ver aquela bela garota deitada sem vida, garota que a pouco segundos sedia suas forças para morte, aquele poder carregando meu sangue para meu cérebro, tudo isso é tão bom.

E matar não é tão fácil.

Requer uma certa pesquisa.

Onde mora? Com quem mora? O que faz? Onde faz? Qual a cor da sua calcinha?

Essa última pergunta não é tão importante, mas é legal saber.

Depois de uma pesquisa bem feita, sei que mora só. Trabalha em uma livraria, e usa calcinhas vermelhas de renda.

Começo então a observação.

Observar a rotina. Observar sua aparência. Observar seus atos. Observar seus amigos.

Para a morte, não existe cor ou etnia, o vazio é o mesmo em todos. Não importa sua cor de cabelo, nem seus olhos. Apenas me traga prazer. Me deixe feliz com seus últimos suspiros.

Mas tem que ser mulher.

Isso não consigo explicar.

Talvez tenha alguma relação, com algum teor sexual ou amoroso. Algo do tipo.

Seja linda.

Linda. Linda. Minha única exigência.

Depois de observar, entro em ação, a parte mais fácil.

Te conquisto. Digo o que quer ouvir.

Sim, sou um publicitário bem sucedido. Você sorri e arruma o cabelo. Pesquisas dizem que isso é um sinal de interesse.

Saber ler as pessoas é importante.

Então fala sobre a faculdade de jornalismo. Uma estudante de jornalismo. É isso que você é.

Finjo me importar.

Gosta de ler. E usa um perfume doce enjoativo.

Que perfume gostoso, digo para que sua auto estima aumente.

Digo o que quer ouvir.

Te ofereço uma bebida.

E outra.

E outra.

Para sua casa? Vamos sim, mas eu dirijo.

Você esta rindo e soltando o vestido florido, posso ver seu sutiã vermelho, adorável.

Quando for tirar a vida de alguém, cuide bem da pessoa antes. Ninguém quer morrer, quando sabe que vai morrer.

Chegamos a sua casa.

Você cambaleia e ri. Está usando apenas lingerie. Seguro seu vestido e fecho a porta do carro.

Uma casa não muito perto do centro, para não ouvir o barulho da rotina alheia, mas, não tão longe, que não dê para ir a pé até lá, essa é sua explicação para a localização de sua casa. Lugar bem agradável.

Entramos.

Não olhe a bagunça, você diz.

Olho sim, cada detalhe.

Os livros pelo chão da sala. Jogados por todo lado. Livros complicados. Você deve ser bem inteligente. Imagino.

O quarto está revirado. Roupas pelo quarto.

Estilo tropical. Roupas floridas de tecido leve, vestidos de festa e lingeries adoráveis, com babados e de rendas.

Uma noite louca.

Bebidas, sexo e dança. Eu não costumo beber.

Rimos.

Agora vem a parte importante.

Espancar, esfaquear ou estrangular?

Chamo de os “3 Es”, uma decisão complicada. Tenho que pensar rápido, logo irá amanhecer e sou como um vampiro, ninguém pode me ver sob a luz.

E então amanhece.

Está linda.

Deitada e nua. Sua pele macia reflete um pouco da luz que entra pela janela, suas mãos leves estão sob a sua cabeça, uma pose aparentemente desconfortável.

Mas está linda.

Sua casa é aconchegante, não muito grande, nem muito pequena, um tanto minimalista, só há o necessário.

Na cozinha, há uma mesa pequena com algumas xícaras, o cheiro de café está no ar. Uma delícia.

As poucas louças, estão sujas sobre a pia. São delicadas como a dona. A doce e adorável que está sobre a cama.

Amanheceu tão rápido.

O silêncio é tão saboroso e incrível neste lugar. Pode ouvi-lo?

Os lençóis estão no chão. A noite foi agitada, o cheiro de café chegou no quarto. Sente o cheiro?

Continua, parada e nua. Desconfortável talvez.

Continua, Linda.

Jovem e linda. Pernas macias, belas pernas, sempre gostei de como desfilavam sobre o escaldante sol da tarde.

Como é linda dormindo. Você tem sonhos? Claro que tem.

Durma esse sono pesado. Lindo sonho. Durma.

Engraçado como seus olhos ainda estão abertos, a sua boca também aberta, está com os lábios arroxeados, uma espuma rosada surge no canto de sua boca. Seu rosto e pescoço estão levemente violetas. Um rosto tão lindo

Estrangulamento, demorado. Mas prazeroso.

Perde a consciência no início. De repente vem as convulsões.

Aperta mais.

Logo vemos a asfixia e a morte aparente. Depois surge a morte real.

Numa explicação rápida, suas vias aéreas e/ou suas arteiras carótidas (aquelas que transportam sangue para o cérebro) são obstruídas pela força exercidas pelo meu antebraço envolta do seu pescoço, um famoso mata leão, seguido por minhas mãos pressionando seu pescoço. Para não ficar na mesmice.

Há marcas amareladas em seu pescoço. São rastros das minhas unhas. Você se debatia tanto.

Há arranhões em seus braços também. Esses estão vermelhos.

Que corpo lindo. Marcas tão bonitas.

Agressividade e doçura unidos nessa dança. Desespero e sufoco.

Esta linda.

Levanto-me. Beijo-a. E vou embora, deixo isso para trás. Nunca fui um bom dançarino.

Talvez nunca me entenda. Talvez ainda espere um motivo para eu fazer isso. Mas essa garota, Gabriele, me entendeu. Dançou a madrugada toda comigo, me deixou conduzi-la nessa valsa ao fim.

Maicon Moura
Enviado por Maicon Moura em 31/10/2017
Reeditado em 29/03/2018
Código do texto: T6157924
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