Um sopro
Vi minhas mãos se agarrarem ao vazio.Vi o piso frio desaparecer sob meus pés. Então era assim?O vento varrendo de mim camadas de areia e cimento?Soprando meu corpo miúdo ?
Busquei na memória prenúncios. Encontrei as lembranças da chegada . Olhos arregalados diante da cidade que avançava para o alto.
Tudo parecia tão igual.O café doce e forte da mulher.O coletivo cruzando ruas e avenidas na manhã que nem tinha nascido.Um dia como todos os outros.
Um sopro e o dinheiro do pão não estaria na cantoneira do armário. Os amigos beberiam sem mim.
Passei por cada andar.Pensei nas artimanhas do tempo.Vagaroso,quando eu assentava tijolos.Veloz, nos momentos felizes.Escasso de significados.
A mulher e as crianças receberiam pensão e o seguro pago pelo patrão .Eu seria um número nas estatísticas. Assunto para menos de uma semana.
Um sopro e as perguntas que ficariam sem respostas.O silêncio das betoneiras.Os amigos sem conseguir expressar reação.
Tempo encerrado no asfalto quente.Só me restava a eternidade.