CHUVA

Os dias de sol até são agradáveis, mas não se comparam aos dias chuvosos, a calma sonora da chuva ajuda a mente trabalhar melhor, bom, foi o que ela me disse.

Sábia.

Publicitária, criativa e bem espontânea, morena, olhos castanhos claros, cabelo com mechas rosas, estilo descontraído, fala sobre poetas, sobre o universo e sobre o amor, enquanto degusta uma dose de tequila, sua pele branquinha, faz seu vestido lilás não ter muito destaque, seu sorriso é levemente amarelado, mas ela não liga pra isso, continua mostrando-o, isso a torna carismática, continua falando sobre sua vida, sobre seu pequeno apartamento no centro.

Humildemente pequeno.

Apenas quarto, cozinha e banheiro, ela não liga para isso, gosta do simples conforto. Gosta de Música pop e sabe um pouco sobre o Rock anos oitenta.

Ela tem um bom gosto.

É tarde, já esta na hora de voltar para seu pequeno e confortável apartamento, tirou da sua pequena bolsa rosa, que por sinal, combina com sua sapatilha e seu cabelo, um guarda-chuva vermelho, a chuva não está tão forte, ela convida o estranho para acompanha-la, continua rindo e falando sobre viagens que sonha em fazer, Irlanda é um de seus lugares favoritos, ir para lá é uma promessa que ela mesma havia feito a si, mas não aparenta ter tanta certeza de que acontecerá.

Fracos objetivos.

Seu apartamento era menos confortável do que havia descrito, havia ganhado de presente de seus pais após formar-se, estava trabalhando em alguns projetos, encima do balcão que dividia a minúscula cozinha de sua pequena sala estão seu computador, uma caixa de lápis e muitas folhas com vários desenhos difíceis de saber o que eram, a chuva batia nas janelas de design vintage, havia xícaras de porcelana sobre a mesa, mesa de madeira.

Ao lado mesa, tem um sofá cama, com estampa de flores, livros e revistas estão jogados pelo local, ela não é tão organizada.

Não está frio, o lugar cheira a cappuccino, a frescura executiva para o café, sempre detestei.

O som da chuva.

As gota que batem na janela acompanham o tic-tac do relógio.

As gotas de chuva haviam se transformado em gotas de sangue.

Sobre o papel no balcão, gotas caem e mancham de vermelho, aquele dia acinzentado, sua respiração foi se acabando na mesma velocidade que as gotas de chuva escorrem pela janela, o sangue pinga no piso branco se abrindo e virando flores de morte.

Ela já não tem vida para segurar o braço que está envolvendo sua barriga, seus olhos estão revirados, ela deixa de lutar, olho para a Folha com sangue e as gotas no chão, o som da chuva foi a trilha para aquela última obra, última gota de criatividade.

A lâmina gelada desenha em suas costas uma linha com inicio e fim, como sua vida.

Simples e criativa.