Bailarina

Como uma Rosa.

Toda delicada ela dança. Cada movimento ensaiado, cada passo, a doçura de uma garota que está presa nisso, o amor te prende.

Ela quer ser a melhor. Rigorosa.

Está apresentando para mais de quinhentas pessoas, não erra nenhum movimento. Focada.

Seu cabelo loiro está preso num coque banhado de laque e brilho, sua roupa fina de algum tecido que não conheço parece estar incomodando. Mas seus olhos continuam brilhando. Olhos negros. Em todo seu rosto há brilho. Ela salta de um ponto a outro, rodopia e abre os braços. Aparecem mais garotas como ela, mas nenhuma boa quanto. Algumas pessoas aplaudem, outras dormem, algumas estão conversando ou mexendo no celular.

Ela está cansada disso.

Quer um público de verdade. Acredita ser mais interessante que uma tela de celular. Quer que o mundo veja isso.

Fecham as cortinas. Todos aplaudem segundos depois se levantam para ir embora. Algumas nem devem saber o nome da apresentação. Sou uma delas.

Ela está irritada. Empurra seus pais, pois sabe que eles não prestaram atenção, queriam que ela fosse uma médica, mas fingem apoiar esse sonho dançante da filha.

O Teatro não é tão imenso, parece o que vemos nos filmes, mas as pessoas dos filmes são bem interessantes. Ali se encontram pessoas ricas, pessoas com a vida feita, os homens foram apenas acompanhar suas esposas, e as esposas foram por que são amigas das mães ou são mães de alguma que dançou.

Será que todos são como os pais dela?

Ela não cansa de fazer esta pergunta.

No saguão há um bar. Ela está lá.

Bebendo um uísque. Boceja.

Conversando sobre sua vida com um estranho.

Conta sobre as viagens que deseja fazer, acredita ser uma grande bailarina, diz que não tem namorado.

De repente já estão se beijando em frente a um camarim. Ela beija, sorri.

Desabotoa a camisa dele, estranha o exagerado cheiro de café que exala daquela camisa.

O beija de novo.

Começa a se despir.

Sobre o sofá está ela, seu batom está borrado. Suas mãos sobre as minhas, as minhas mãos sobre seu pescoço.

Seus olhos estão bem arregalados. Talvez esteja se perguntando como alguém teria coragem de tirar uma pessoa tão doce do mundo.

Dar para sentir seu ego saindo do seu corpo. Não há mais a necessidade de ser tão narcisista. Não há mais necessidade de dançar.

Retiro minhas mãos dela, seu pescoço ainda não está roxo, mas seus lábios já mudaram de cor.

Olho no espelho, retiro o gliter do meu rosto, fecho minha camisa e saio.

Maicon Moura
Enviado por Maicon Moura em 23/01/2019
Código do texto: T6557739
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