Psicose

“E como foi a semana? “

- Não muito boa. Ainda tenho pesadelos.

“Sobre o quê? “

- Sobre tudo. Não consigo dormir direito e quando acordo, não consigo saber se é real ou não.

“Você sonha acordada? “

- Talvez. Eu não sei se estou, de fato, acordada ou se o que eu estou vendo é um sonho. Às vezes, eu passo dias sem saber. Ligo uma rotina na outra sem a certeza de que estou vivendo mesmo aquilo.

“Falou sobre isso com alguém? “

- Estou falando com você.

“Além de mim. Um amigo, talvez. Alguém confiável. ”

- Eu mandei mensagem, mas não me responderam. Não sei se estão ocupados ou se não existem. Você quer ver? Ver se estou mandando mensagens para o vazio?

“Você precisa ver. Ver a realidade. Os pesadelos não são a realidade. São apenas um reflexo de como você lida com ela. Toque isto. O que você sente? “

- É uma revista.

“Sobre o quê? “

- Carros.

“Parece um sonho? “

- Não.

“Não. A revista é real. A cadeira é real. Eu sou real. “

- É, exatamente, o que uma alucinação diria.

“Tem tomado os remédios? “

- Se são de mentira, pra que tomar?

“Você não tem certeza disso. Se forem de mentira, não faz diferença. Mas, se forem de verdade vão ajudar. “

- Tudo bem, então.

“Mesma hora semana que vem? “

- Claro.

As árvores na frente do consultório balançam com o vento. Suas folhas são de um verde vivo. Nunca vi folhas assim. Tenho a sensação de que passei tempo demais sentado nesse banco, mas não tenho certeza de quando vim parar aqui. Me pergunto que tipo de sonhos posso ter tido numa praça assim.

Stephanie Góis
Enviado por Stephanie Góis em 25/05/2022
Código do texto: T7523749
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