NOTURNO

Arfante, Luiza percorria, ou melhor, corria pelos becos escuros e íngremes do Centro Histórico. "O que vim fazer aqui? Por Deus, como me meti nessa enrascada?" Enquanto tentava se esconder sabe-se lá de quem ou do quê, ela tentava lembrar como fora parar ali...

Jaime, seu melhor amigo, convidara-a para assistir uma apresentação de canto lírico no Teatro Arthur Azevedo. Ela, claro, resolvera aceitar o convite, pois não era sempre que poderia assistir a um espetáculo assim em tão boa companhia. Jaime era, além de grande amigo, seu confidente e companheiro de todas as horas.

Ele fora buscá-la cedo e chegaram à bilheteria com uma hora de antecedência. Após comprar os ingressos, resolveram sentar-se em um barzinho próximo dali para conversar. Subitamente, Luiza sentiu um forte arrepio. Era a velha sensação de que estava correndo perigo... Isso já acontecera várias vezes e em nenhuma delas sua intuição havia falhado.

"Ai, ai, ai, já percebi tudo! É aquela sua intuição... Tudo bem, vamos entrar. A apresentação começa em vinte minutos. Não quero correr o risco de ser assaltado ou de tropeçar e quebrar o braço de novo!"

Luiza concordou e, suspirando, seguiu Jaime, não sem antes dar uma boa olhada em volta. O que viu por um breve instante foi um vulto assustador que pareceu envolvê-la por uma eternidade... Ela decidira nada falar para o amigo, porém, não aproveitou o espetáculo. Estava fria e distante, muito distante dali...