A casa número 7

Alguma coisa me perseguia, parecia sair direto de um livro de terror, daqueles que você lê debaixo das cobertas em noites tempestuosas com uma lanterna.

Tudo se deu início quando passei em frente à casa de número 7, na rua Otto Strauss, senti um arrepio em minha nuca e meu corpo começou gelar por completo e ao me virar, um terrível horror me aguardava.

Na janela em meio em a uma escuridão apenas a silhueta e olhos vermelhos como sangue e uma mão desnutrida segurava a cortina, senti que esse ser conseguia não só me ver como transpassar e enxergar toda minha moribunda alma; seu olhar parecia um convite para a morte.

Eu segui então para casa, perturbado e com diversos pensamentos sucumbindo minha psique, ao chegar em casa e adentrar o quarto uma frase surgia em minha mente, como se tivesse sido implantada "Retorne e permaneça completo". No banho me sinto totalmente inerte, que segredos aquela forma misteriosa esconde? Aqueles olhos vermelhos me causavam extremo terror e uma curiosidade inexplicável.

Em outro dia após uma jornada de trabalho estou passando novamente pela casa 7, um silencio ensurdecedor parecia preencher toda a rua, não sentia a presença de nenhuma alma humana, somente eu e a casa.

Estou atônito, a porta se abre, vejo apenas uma mão branca saindo por entre as trevas, como quem me convidasse a entrar e eu estava indo em sua direção, não sentia meus pés se moverem, estava flutuando como um balão que iria direto para a agulha e bum! Seria o fim.

O tempo parecia congelado, decidi fechar meus olhos e com toda temeridade que tive em um breve instante, corri na direção oposta, meu corpo parecia lutar contra, apenas disparei e corri sem parar, como se fosse uma corrida, a última de minha vida. Cheguei até a frente da minha casa já sem fôlego, a loucura tomava conta de mim, lágrimas escorriam pelo meu rosto.

Eu não conseguia acreditar no que aconteceu comigo, sempre fui uma pessoa cética, mas senti, era como a maldade em carne viva, um monstro pronto para me levar para seu casulo.

Tudo o que aconteceu me apavorou, nunca mais passei em frente à casa 7, porém a curiosidade sempre permanecia dentro de mim, quais mistérios assombrosos habitavam em seu tenebroso ventre?

Realizei uma pesquisa na internet, nada encontrei de tão intrigante, apenas obituários dos que já ali viveram. Com o passar dos meses fui esquecendo da casa 7, não por completo, mas a vida continuava, com monstros ou não.

Lembro de ouvir comentários no trabalho, umas jovens desaparecidas, algumas foram vistas pela ultima vez perto a rua Otto Strauss, isso particularmente me perturbava. E mais uma vez vinha em minha mente aqueles olhos vermelhos como a lua mais sangrenta.

Eu vivia um período de depressão, mas não estava nada a fim de ser devorado por algum tipo de horror Nosferatu que habitava aquela casa.

Relutantemente, em confronto com minha própria mente, como quase um ato suicida, resolvi enfrentar. Parei em frente, como quem encara o próprio óbito, seu próprio carrasco.

A porta se abriu com força como se um forte vento a tivesse empurrado, desta vez nenhuma criatura apenas uma voz, um sussurro: "Entre, sinta-se em casa, mas cuidado para não se acostumar".

Minhas pernas estavam tremulas, seguia em frente, dando um passado de cada vez, em minha mente passavam flashs das memórias de um passado feliz, como se fosse o meu último dia de minha vida, vivida tão inutilmente, amores perdidos, Elis que deixei ir embora somente porque não quis pedir desculpas.

Os fracos merecem mesmo perder tudo, era isso que passava em minha mente, finalmente entrei e a porta se fechou atrás de mim de forma gentil, eu estava aceitando seja o que for.

Tudo estava escuro, mais ao fundo os olhos vermelhos me fitavam por cima de um castiçal que segurava com suas enormes mãos desnudas esbranquiçadas. Caminhei até ele com meu coração aberto como um livro. Com sua outra mão ele segurou meu rosto e foi descendo suas mãos agressivamente até meu peito, parecia estar sentindo meus batimentos. Eu tentava falar, mas parecia que minha voz não se atrevia a sair, ele então disse, com uma voz rouca e horrente:

- Sinto seu coração, sinto dentro de sua alma, você não tem o que é preciso. Quando você parou em frente a casa, senti algo em você, senti sua tristeza, senti suas lamentações, senti uma vida perdida. Agora estou sentindo aqui, não...Você...Você está mudado... Algo, algo, aconteceu, sinto uma perturbação, uma certa necessidade de competição, seu sangue apenas corromperia minhas veias puras. Vá embora e que sua curiosidade o leve para longe daqui, ou não serei piedoso, não preciso ser, desperdice sua vida, vá e choramingue mais uma vez para Elis.

A porta se abriu e eu sai correndo mais vez, assim que sai a porta se fechou, uma chuva torrencial caia lá fora, sentia minha alma sendo lavada, o monstro me mostrou uma nova perspectiva? Ele leu minha mente...

Até os monstros podem ter uma certa piedade, mas tive diversos pesadelos com ele, com meu sangue sendo sugado, virando um monstro e matando a Elis.

Aliás não fui atrás da Elis como ele comentou, senti que seu comentário foi o suficiente para ver como vergonhoso tinham sido minhas atitudes, ela estava feliz com o Loiro rico chefe de cozinha.

E para finalizar um dia estava navegando pela internet, lendo alguns jornais,

"A casa 7 da rua Otto Strauss foi condenada pelo conselho de infraestrutura da cidade de Degstroon e foi demolida no dia de hoje, um pequeno centro comercial foi planejado para construção no local, dado assim mais mobilidade para o bairro, considerado por muitos abandonado pelo prefeito Jonathan Pérignon".

Fim