A QUEDA

Então era assim, um não soltava a mão do outro, nem que o buraco aumentasse. Um salvava o outro ou todo mundo caía lá dentro, uma luta danada para conseguirem. Tinha um mais magrinho, outro bem forte, outros dois suavam frio, uma mulher gritava de dor, um menino trazia água, e todos ali segurando um ao outro.

Era fim de tarde, estavam todos cansados, quando um deles pisou em uma fenda no chão e caiu, sorte que o que estava logo á frente e o que estava atrás, foram rápidos e seguraram o que caía, daí todo mundo veio ajudar e ficaram todos dependurados, o que caiu primeiro e os dois outros, estavam todos à beira de cair também.

Esforço descomunal escorregava muito na borda do buraco e uma a uma as pessoas iam caindo, devagar, como em uma tortura, mas ninguém soltava a mão de ninguém, bonita atitude daquelas pessoas, estavam unidas até na desgraça.

Não teve jeito, começou a chover, uma chuva torrencial, e o piso ficou mais escorregadio, caíram todos de uma vez só, uma queda longa e sem fim. Nesse momento o Jorge acordou num pulo, estava todo molhado de suor, gritou, sua mulher levou um susto, xingou e virou para o canto, voltando a dormir. Jorge não dormiu mais naquela noite, medo de sonhar novamente com aquilo.

Na manhã seguinte saiu para o trabalho, caiu em um buraco da Cesama, esgoto puro, sozinho, ninguém lhe deu a mão. O SAMU levou-o até o Pronto Socorro, onde tomou um monte de injeções e enfaixou o pé, luxação. Foi a uma igreja assim que saiu do hospital, pediu perdão pelas suas faltas, sabe lá o próximo sonho?

Celso Ciampi
Enviado por Celso Ciampi em 21/11/2023
Código do texto: T7936820
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