Olhares para alma

Estava sentado a mesa da cozinha, eram 17:30 da tarde e eu esperava por alguém. O céu estava meio nublado, nuvens cinzas com o céu azul, um azul bem morto. Era um pouco frio, ótimo tempo para tomar café, depois de uma grande chuva e ventos fortes. Por um minuto escuto batidas na porta, alguém sobe as escadas e vejo ela, quem eu tanto esperava. Ela me encarou, eu me senti fraco, um cheiro desconhecido entrou, uma energia misteriosa abafou mais ainda aquele silêncio. Ela entrou na cozinha, puxou a cadeira para si e esperou eu falar algo. Logo depois eu falei num tom miseravelmente sútil - Eu quero morrer.

Ela somente continuou a me encarar, mas depois de alguns minutos falou - Por que a morte lhe serviria?

Eu respondi

-O mundo está me dando as costas - Falei em tom de agonia.

-Será mesmo que ele está te dando as costas? Ou você apenas quer as coisas do seu jeito? O mundo demorou milênios para se construir, o trabalho é a ferramenta do poder - Ela falou da forma mais básica e sucinta.

Eu respondi bravo - Não é justo! Eu não quero chorar! Eu não sei chorar! Eu sofro em silêncio e aflição! Sermões não vão me ajudar. Quero o remédio do sono, do profundo, da saudade e das memórias!

Ela virou de lado e disse - Você quer um colo! Nem todas as coisas são do meu jeito, e olha, eu sou a morte... Quando eu nasci aprendi logo que a vida adveio da beleza, do carinho, do amor e também do medo, da dor e da tristeza. Esta sou eu, esta somos nós!

-Eu estou magoado, me sinto pouco, me sinto feio, prepotente e frágil. Por mais que eu finja ser algo que não sou, essa angústia sempre volta quando olho para o espelho. Falo com as pessoas, invisto sorrisos para elas, abraço minha mãe, mas me sinto sozinho, ao mesmo tempo que não quero ninguém e não tenho ninguém. Eu acho que a morte é a única que me trará paz no meio de tanto atormento. Se eu vim ao mundo completar uma missão, vou pedir redenção, pois eu já cansei.

A senhora ficou calada novamente, mas cessou a quietude quando ela disse - Isso são coisas de muitos anos, você pobre menino, guarda muitas coisas, guardou palavras, ofensas, memórias, maus-tratos, pessoas e guardou muito choro. Você viveu em silêncio, pois não sabia como expressar-se. Você se culpou tanto, se odiou tanto, quantas vezes sua alma pediu por ajuda, quantas vezes a vida não lhe coube mais. Eu sinto muito, porque eu sei que você espera a muito tempo um pedido de desculpas, palavras de amor e carinho para com os seus ferimentos

Esse tempo todo você só recebeu enfeites como elogio, mas pense nas pessoas que te cercam, como elas sentiriam sua falta se você fosse embora hoje, como as coisas normais que acontecem todo os dias, poderiam mudar pra você e essas pessoas. A vida não é tão pequena assim e as dores junto ao passado, tende a ir embora logo.

Então respondi com um ar de quem não vai mudar de ideia - Eu não me enxergo mais. Quando me olho, vejo defeitos, eu cansei das pessoas, elas nunca me ajudaram, já tentaram, mas eu sou complicado demais para isso. Além do mais, já aprendi oque eu queria, minha alma velha e cansada cansou de esperar, os esforços acabaram com a minha pele. Quero abrir as portas, para o fim de mais uma missão. Por favor, não interfira só faça.

Ela se levantou e com um último beijo ela me deixou. Quando eu vi estava sozinho, de novo.

Ágatha Ternurie
Enviado por Ágatha Ternurie em 21/12/2023
Reeditado em 21/12/2023
Código do texto: T7958677
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