"Seja bem vinda"

Primeira noite sozinha naquela casa grande e silenciosa.

Não estava com medo. Por que deveria está? Há varios dias sonhava com aquele momento. Ter minha casa, minha vida independente. Sentia tudo diferente,como se recomeçasse tudo novamente e estava disposta a ser feliz, apesar de qualquer adversidade.

Não conhecia meus vizinhos, apesar de sentir que frequentemente precisaria deles.

Mas não me preocupei com aquilo, teria muito tempo para isso.

Assistir um pouco a TV, estudei e antes da meia noite, respirei fundo e tomei coragem para tomar um banho.

Apos isso, lanchei e tranquei a porta da sala. Percebi que a porta tinha certa dificuldade em trancar.

Observei disfarçadamente pela janela. Na frente de casa, os vizinhos ainda estavam com suas portas abertas e sentados lá fora, como se ainda fosse cinco horas.

Será que aquele bairro era tão tranquilo assim?

De qualquer forma, aquela imagem me deu mais segurança e conforto, e por incrivel que pareça, aumentou mais ainda o meu sono.

Respirei fundo, esgotada de mais um dia corrido e entendiante e fui pra o quarto.

Tranquei a porta e joguei-me na cama. Agradeci a Deus pelo dia e sem perder muito tempo pra pensar, me acomodei na cama e em segundos, roncava intensamente.

No meio da madrugada, no mais profundo silencio, naquele intenso frio, com os estalos leves da geladeira e sapos cantando lá fora, escutei um pequeno ruido.

Abri meus olhos lentamente, pensando que o barulho, fosse mais um de meus sonhos bobos.

Pensando que talvez aquilo fosse tudo impressão.

Novamente o barulho, um pouco mais alto, que parecia querer ecooar até meus ouvidos e dizer pra mim que não era sonho algum.

A maçaneta, a maçaneta que tinha dificuldade em fechar.

Era ela. Eu tinha certeza.

Alguem queria abri-la.

Arregalei meus olhos horrorizados e me levantei rapidamente da cama.

Olhei pra um lado e para o outro, sem saber como agir e o que fazer.

Estava sozinha, não conhecia ninguem.

Eram quatro horas da manha.

Quem? Quem poderia me ajudar?

Minha respiração começou a ficar aguçada e eu me desesperei.

O bandido parecia não se importar em me acordar. Ou talvez pensara que não havia ninguem na casa.

Escutei passos lá fora, indo e vindo compulsivamente.

Coçei a cabeça desesperada e roi todas as unhas da minha mao.

Isso nunca havia acontecido antes, por que logo naquela hora?

Logo, no primeiro dia?

A pessoa parecia insistir em querer abrir a porta, e a cada minuto que se passava, parecia perder a paciencia de não conseguir faze-la.

Tinha certeza, de que como as coisas iriam ele logo arrebentaria a porta.

Estava com medo. E a unica coisa que me veio no momento, foi simplesmente me calar, não fazer nenhum barulho ou sinal de vida.

Talvez assim, essa pessoa iria embora. Não sei.

Derrepente o silencio se fez.

Tudo parou.

Os passos, as tentativas.

No meio daquele paradeiro,somente minha respiração aguçada e baixa, davam para serem escutados fracamente.

Disquei o numero da policia, com medo da pessoa ja ter consiguido entrar na casa.

Talvez abriu a porta e nem fez barulho.

Meu coração estava acelerado e resolvi não arriscar a ligação. Se eu ligasse, iria estragar o silencio e me descobririam.

O que me restava, era pedir proteção a Deus.

Me joguei debaixo da cama, e fiquei esperando algum barulho, o que viesse pela frente.

Derrepente, um grito, um grito alto e ao mesmo tempo estressado:

-Terezzaaaaaa!!!!-gritou uma voz grossa e ignorante.

Novamente outros passos foram escutados e logo uma porta se abriu.

-Isso são horas de chegar em casa?-perguntou uma voz feminina com raiva

-Cale a boca! Estou morto de sono!-gritou o homem que parecia entrar dentro da casa

-Não sei quanto tempo vou suportar isso!-reclamou a mulher.

Abri a porta do quarto e na sala, a porta intacta. As janelas fechadas, tudo no mesmo lugar. Fui até a janela e observei o casal discutindo na porta da casa na frente da minha.

O homem parecia bebado.

A mulher, revoltada fechou a porta violentamente e a briga foi abafada na casa deles.

Respirei aliviada, e soltei um leve sorriso de mim mesma.

Foi a maior recepção de boa vizinhança que ganhei na minha vida!

Danisguela
Enviado por Danisguela em 01/04/2008
Reeditado em 01/04/2008
Código do texto: T926289