Hospedaria 3.

Lua de Mel

Misa estava debruçada na borda da hospedaria olhando para o rio tentando inutilmente ver seu reflexo na água. A garota bate algumas vezes nesta na tentativa de aliviar sua frustração.

Michael: O que está fazendo?

Misa: O que acontece com essa água que ela não reflete nada.

Intrigado Michael olha para o rio por sobre o ombro de Misa, ambos identificam seu reflexo, mas não o dela . Ele age como se já soubesse o que iria ver.

Misa: Isso é por causa do meu acordo?

Michael: Isto não tem nada a ver com o seu acordo.

Ele entra na hospedaria como se pressentisse alguma coisa, Misa não entende a pressa dele, mas entra em seguida.

Misa: O que aconteceu?

Michael: Lembre-se do seu acordo. Agora você é uma funcionária não fique vadiando, ela está nos observando sempre.

Um taxi estaciona na beira do rio, deste descem um casal apaixonado: Maria e Mark o ultimo carregava algumas malas, ela olha em volta como se estivesse perdida. O taxi vai embora.

Maria: Nós estamos no meio do nada.

Mark: Olhe ali. No meio do rio.

Maria: Aquela pocilga? Você não está falando sério está?

Mark: Vai me dizer que você não gosta da idéia de um hotel flutuante?

O balseira, vestido com seu manto preto e máscara branca, para sua balsa na margem do rio na espera do casal. Mark coloca as malas na balsa subindo em seguida. Maria estava contrariada enquanto seu esposo pedia que ela subisse.

Maria: Isto é seguro?

O balseiro faz que sim com a cabeça, Mark estica a mão e por fim Maria sobe. O balseiro leva o casal até a hospedaria. Uma vez lá dentro eles dirigem-se para o balcão da recepção onde Michael sorria acolhendo o casal, sem esconder sua face sinistra.

Michael: Sejam bem vindos.

Mark: Um conterrâneo.

Michael: É muito bom ver alguém de meu país.

Mark: Temos reservas Mark e Maria.

Michael entrega o livro de registro para o casal enquanto chama Misa, esta o atende rapidamente. Maria estranha que seus nomes estavam no livro.

Maria: o que é isso?

Mark: Eu fiz as reservas, eles devem ter colocado nossos nomes no livro.

Maria: Por que você tinha que ser fascinado por um país tão estranho?

Misa leva o casal até seu quarto segundo ordens de Michael, ela deixa as malas dentro do quarto, abrindo as janelas. Mark aprova o quarto enquanto Maria fica encarando a garota.

Misa: Vocês são casados?

Maria: Esta é a nossa lua de mel.

Mark: Finalmente conseguimos casar...

Maria: Sim é uma história muito longa.

Misa: Então vocês são recém casados?

Mark: Algum problema?

Misa: Desculpe.

A garota fecha a porta indo embora correndo, Michael sorri de forma maquiavélica quando Misa passa por ele, o gerente não se contem caminhava assobiando pelos corredores da hospedaria.

A noite Maria senta-se na cama do lado posto de seu marido, este acende uma vela com odores de rosas.

Maria: Que coisa brega.

Mark: Por que você está assim?

Maria: Eu pensei que casando com você eu iria a hotéis de luxo teria carros. Eu achei que você iria me dar o que eu quisesse.

Mark: Não fale assim, não hoje. Você sabe o quanto eu ralei para conseguir o que temos.

Maria: Sim, o que temos e na próxima vez eu escolho o lugar para onde vamos.

Mark: Fechado.

Eles beijam-se deitando lentamente na cama. Um despe o outro Mark beija os seios de Maria. Esta abraça a cabeça de seu marido de olhos fechados esforçando-se para sentir prazer. Minutos depois ela estava sobre seu marido cavalgando-o enquanto Mark massageia seus seios.

Na recepção Michael organizava os arquivos, ao perceber o que acontecia no quarto do casal ele lambe seus lábios, para o inconformismo de Misa. Michael se diverte ainda mais com o desconforto da garota.

Misa: Como você pode fazer piada em um momento destes?

Michael: Você ainda não entendeu o que acontece aqui?

Misa: Entendi que nenhum de nossos hóspedes são inocentes mas...

Garota: Errado. Ninguém é inocente.

Misa fica apavorada ao ouvir sua mestra, a pesar de ter mantido a calma ao falar mantendo o mesmo tom, avia algo a mais em sua voz além da melancolia vindo como um tom severo.

Garota: Começo a me arrepender de ter feito este acordo com você.

Ela vai embora do Hall caminhando lentamente de maneira feminina e suave, Misa estava petrificada.

Michael: Minha mestra sente-se atraída pela inocência.

Misa: O senhor acha?

Michael (de forma malévola): Não existe nada melhor do que macular a pureza.

Mark estava deitado na cama olhando para o teto com Maria repousando sua cabeça o peito de seu marido. A lua é encoberta por uma nuvem tornando o quarto escuro e inóspito. Ambos despertam ao ouvirem uma voz serena, triste, profunda porém suave.

Garota: A carne está a venda o sangue pinga sobre o balcão atraindo as moscas. Estas põe seus ovos que transformam-se em larvas devorando-os de dento para fora.

Mark: Quem está ai?

A garota surge em meio as trevas olhando o casal de maneira impassível.

Maria: Que olhar a esse?

Garota: Estou indiferente.

Maria: Como pode estar indiferente a alegria de dois recém casados?

Garota: Estou indiferente a tristeza sentida por vocês neste momento.

Maria: Vá embora.

Garota: Uma mulher que casa-se por dinheiro e um homem que precisa enriquecer rapidamente para ser amado.

Mark: O que você quer?

Garota: Mostra-lhes o seu local de tormento final.

Mark abraça sua esposa percebendo que ela transformara-se em um poço de sangue, assim como o lençol, o travesseiro e o colchão. Lentamente o homem afunda esticando sua mão para a garota de quimono preto, esta circula a cama olhando Mar nos olhos dele sem expressar nenhuma reação ao seu horror.

Garota: Você está afundando lentamente em sua própria solidão gerada e alimentada por você mesmo.

Mark: Não, me ajude por favor.

Garota: Por que eu deveria?

Mark agarra a borda do quimono da garota, esta quebra o punho dele com um movimento suave de sua mão direita pressionando o ferimento dele para que este sinta dor.

Garota: Eu sei do que você gosta. A dor intensa, o medo de morrer é a única coisa que você pode sentir agora. Sinto pena de você pobre alma atormentada.

Ele afunda no sangue perante os olhos frios e justos daquela garota.

Maria estava em um labirinto de espelhos, em cada espelho uma versão deformada de si mesma. Esta corre pelo labirinto evitando olhar para sua imagem refletida, todas as imagens somem sendo substituídas por imagens da garota de quimono preto.

Garota: Você não suporta ver a si mesma como realmente é.

Maria: Eu não sou assim. Eu sou linda.

A imagem da garota some apenas em um dos espelhos, Maria fica de frente a ele olhando-se, seu rosto derrete lentamente, ela grita ao constatar que seu rosto realmente estava derretendo.

Maria: Não!

Ela volta a correr pelo labirinto sob o olhar triste da garota refletido em dezenas de espelhos. Maria cai de joelhos ao constatar que estava cercada de espelhos refletindo aquela estranha garota. Esta sai de dentro de um espelho, seu reflexo desaparece dos demais, a garota fica de frente para Maria que chorava.

Garota: você deixou sua alma imortal ser corrompida, com isso apenas aumentou seu sofrimento.

Maria: O que você quer de mim?

Garota: Infelizmente seu tormento está apenas começando.

Maria: Quero ir embora. Meu marido. Mark!!

Garota: Por que chama por seu marido se você não o ama? Você nunca o amou, apenas o usou para aplacar sua dor.

A garota estende seu braço direito, Maria olha fixamente para o quimono preto, lentamente a escuridão toma as duas mulheres. Agora a garota de quimono preto estava sozinha no quarto que fora do casal olhando para a cama usada por eles.

Garota: Duas almas solitárias vivendo juntas buscando amparo para seu sofrimento em uma parede oblíqua.

Michael: Então é por isso que você está assim?

Garota: Desde quando eu lhe dei tal liberdade?

Michael: A garota está assustada.

Garota: Misa? Deixe-a sofrer, será bom para ela.

Ela passa por Michael indo embora do quarto, quando para de costas para ele.

Garota: Faz muitos anos que estamos juntos.

Michael: Sim, você me fez a mesma proposta que fez a Misa, mas quando estava livre eu preferi ficar.

Garota: Isso não significa que você pode falar assim.

Michael: Sim, minha mestra.

Garota: A final você está comigo por satisfação própria.

Começava a amanhecer quando Michael e Misa estavam do lado de fora, estava mais frio que o habitual, eles abraçavam a si mesmos na tentativa de se aquecerem. Nuvens de vapor saem de suas bocas.

Misa: Você acredita que a mestra vai me matar?

Michael: Se ela decidir mata-la você saberá.

Uma porta se abre, a garota de quimono preto surge carregando dois pequenos barcos artesanais, cada um deles continha uma vela, em cada vela o nome de um dos membros do casal: Mark e Maria. Ela para ao lado de Misa, ambas olhavam para frente, sem cruzarem seus olhares.

Garota: Misa.

Misa: Sim.

Misa: Nem mesmo a pomba mais branca consegue sobrevoar o abismo sem ser atingida pela escuridão que nele habita.

Ela anda em silêncio, abaixando-se na margem ao colocar os barcos no rio a garota os impede de navegar, enquanto acende as velas. A garota fica de pé vendo os barcos irem embora.

FIM