Gênesis 1.

Parte desse conto foi inspirado na escultura “O Êxtase de Santa Teresa”

Segundo a Lenda Santa Teresa de Ávila teria entrado em êxtase ao ver um anjo, Bernini retratou essa cena com a santa agachada, sendo trespassada por uma seta do anjo, tendo um orgasmo com a experiência

Balada Para Teresa

Chovia forte, os residentes do hospital São Pedro pareciam não se importar, diferentemente da jovem enfermeira Ana, que estava fazendo o inventário, para se distrair, sem perceber que não estava mais sozinha.

Após um relâmpago mais forte as luzes se apagam, assustada Ana deixa um vidro de penicilina cair, ao abaixar alguém a segura por trás, Ana grita, as luzes de emergência ascendem, a enfermeira se solta e olha assustada para o residente Robert.

Robert: Medo da chuva?

Ana: Seu idiota.

Ela sai do estoque irritada, Robert a segue, Ana o ignora por completo, deixando-o falando sozinho, assim que fica só Ana respira, sob uma lâmpada piscando, ela ainda estava nervosa, a lâmpada parece tremer e Ana prende sua respiração, a lâmpada volta a iluminar normalmente.

No mesmo momento Rafaela, uma adolescente de cabelos curtos muito bonita, porém muito séria entra no hospital, tirando sua capa de chuva, revelando um uniforme escolar e uma fratura em seu braço, ela ignora os pedidos da atendente, entrando no hospital, como se soubesse a onde ir.

Ana entra no necrotério, onde continua a fazer o inventário, aparentemente ela não se importa com os cadáveres.

Robert: já está melhor?

Ela vira assustada, vendo Robert sorrindo, deitado na mesa de autópsia.

Ana: O que você está fazendo?

Robert: Descansando um pouco, estou de plantão há 20 horas.

Ana: Só isso?

Robert: O que você tem?

Ele se levanta, aproximando-se de Ana, tentando abraça-la, mas ela se solta, dando a volta em um cadáver, Robert parece desistir e olha para o morto.

Robert: essas mulheres não dão moleza.

Subitamente ele desmaia, Ana tenta atende-lo, quando a porta do necrotério abre, uma luz recai sobre os dois, Rafaela entra no necrotério.

Rafaela: Não se preocupe, ele está bem.

A garota entra no necrotério para a surpresa de Ana, com tudo acontecendo tão repentinamente ela não sabia o que fazer.

Ana: Você não pode entrar aqui.

Rafaela a não responde, ela continua andando na direção de Ana, que parece assustada.

Ana: Você precisa de um médico?

Rafaela para a poucos centímetros de Ana, olhando no fundo de seus olhos, Rafaela ergue seu braço mostrando que a ferida não era recente, Ana fica assustada, as mesas começam a tremer, Ana se afasta.

Rafaela: Você ainda não despertou.

Uma mesa de autópsia corre para o canto, como se abrisse espaço para Rafaela, Ana engatinha para trás, até encontrar a parede, Rafaela agacha-se a frente da enfermeira, que sente-se sufocada, sangue escorre pelos seus olhos, ela cai no chão morta, Rafaela levanta-se.

Na manhã seguinte Sam dormia tranquilamente, sem perceber que alguém entrava em seu quarto pela janela, Sam vira na cama, quando Teresa puxa o cobertor.

Teresa: Acorda preguiçoso, hora de ir para a escola.

Ele ainda estava sonolento quando Teresa olha assustada, logo ele percebe para onde ela estava olhando.

Teresa: Que negócio é esse “olhando” para mim.

Sam: Nunca viu?

Teresa: Seu nojento.

Sam: Acabei de acordar.

Os dois descem a escada para tomar o café da manhã, onde os pais de Sam, que também eram os tios de Teresa, tomavam café.

Mãe: Meu filho está causando problemas?

Teresa: Ele é um moleque.

Sam: Como se você fosse muito velha.

Teresa: Mulheres amadurecem mais cedo.

Mãe: Agora vão rápido para não se atrasarem.

Os dois primos, saem de casa correndo, logo Teresa desanima.

Sam: O que foi?

Teresa: É nesse mês.

Sam lembra-se que os pais de Teresa morreram no mês de Agosto, poucos meses depois que ela nascera, ele decide não falar nada, quando os seus colegas aparecem: Jorge, Luana e Cátia.

Os amigos vão juntos para a escola, enquanto os tios de Teresa (e pais de Sam) pareciam preocupados.

Mãe: Você acha que ela já sabe?

Pai: Ela está triste pelo mês que estamos, só isso.

Mãe: É, só isso.

No outro lado do pais, o Dr. Mateus caminhava de forma apressada pelos corredores de uma agência governa-mental secreta, ele entra irritado em sua sala e fica ainda mais irritado ao ver seu amigo, o Dr. Lellith sentado em sua cadeira olhando algumas fotos.

Lellith: Essas fotos são muito deprimentes.

Mateus: O que você quer?

Lellith: Ainda irritado?

Mateus: Rafaela está cansada, por que a mandou para escola?

Lellith: Está preocupado com ela?

Mateus: Claro que sim, ela está cansada e pode perder o controle a qualquer momento.

Lellith: Temos que saber como alguém como ela interagem com as outras pessoas, ordens do diretor.

Rafaela estava sentada sozinha em sua carteira, lendo “memórias do Subsolo”, em off Mateus conversava com Don, o diretor do DEG (Departamento de Experiências Genéticas), ela olha para o teto entediada, sem saber que três homens discutiam “por sua causa”

Mateus: É muito perigoso senhor, ela está muito cansada e pode perder o controle.

Don: Justamente, temos que saber quais os limites dessas garotas.

Mateus: Se acontecer algo?

Don: Se acontecer algo nós a descartamos, alguém descontrolado não nos serve.

A tarde Teresa observava Sam e Jorge “brigando” por alguma coisa idiota, enquanto Rafaela comia o lanche ao seu lado, Teresa, que não estava bem, parece piorar, ela vê tudo rodando e desmaia, seus amigos a socorrem, sem perceber um banco atrás deles retorcido.

Ao mesmo tempo Rafaela estava ajoelhada no banheiro, ela agarra a pia com força, mantendo-se acordada, o espelho tremia, mas para subitamente, ela sente-se aliviada.

No final do dia Rafaela entra em um carro preto, guiado por um motorista do DEG, nenhum dos dois falam nada, Rafaela bocejava, ela parece entediada por todo o caminho até chegar no DEG, onde uma cientista a esperava.

Cientista: Boa tarde Rafaela, está pronta para os testes?

Rafaela: Não podemos fazer isso depois, eu estou com muito sono.

Cientista: Desculpe, mas temos um cronograma.

Mateus: Claro que podemos fazer isso depois.

A cientista vai embora contrariada, enquanto Rafaela fica aliviada e feliz com a presença de Mateus, os dois iam juntos para o alojamento.

Mateus: Bom trabalho ontem.

Rafaela: Obrigada, mas ela ainda não tinha despertado.

Mateus: Gostaria de poder informa-la mais cedo, mas não temos como prever.

Rafaela: Tudo bem, não foi difícil.

Mateus: E o seu braço?

Rafaela (envergonhada): Está melhor, obrigada.

Os dois param na frente de uma porta com o número 01, eles se despedem, Rafaela entra, o quarto era na verdade uma casa com todos os confortos possíveis, ela tira a roupa, toma banho e vai dormir.

Mateus passa na frente de um elevador, as portas abrem, Lellith beijava uma secretária, ela estava com a blusa meio aberta e a saia amarrotada, os dois se despedem, Lellith alcança Mateus.

Lellith: Ela já eliminou sete experimentos.

Mateus: Deveríamos nos preocupar em como elas fugiram.

Lellith: Isso foi a mais de dez anos...

Mateus: Quatorze.

Lellith: Quatorze, foi antes de estarmos no comando, além disso nós tomamos medidas para que não se repita.

Os dois caminhavam na frentes de portas iguais as do quarto de Rafaela, Mateus lia as numerações nas portas 25, 26, 27, sua concentração é quebrada.

Lellith: Faltam só mais três, então podemos continuar.

Mateus: Essa é a parte difícil.

Lellith: Mudando de assunto, hoje eu vou sair com as gémeas da contabilidade, quer vir junto?

Mateus: Tenho trabalho.

Ele entra em sua sala deixando Lellith, aborrecido, do lado de fora, seu humor muda quando uma assistente de laboratório passa por ele, Lellith a segue.

Teresa acorda, ela estava melhor, porém confusa, várias imagens vinham a sua mente, cães latindo, luzes, um farol de carro, Teresa grita, ela estava ensopada de suor, logo ela percebe que a porta de seu quarto estava aberta, tinha algo estranho em sua cama, ela passa a mão, era sangue, muito sangue, Teresa levanta o lençol, ela estava coberta por sangue, mas estava bem, ao lado de sua cama jazia o corpo de Sam sem cabeça, ela levanta assustada, escorregando no sangue, ela ai do quarto engatinhando, deparando-se com os corpos de seus tios, mutilados, o sangue deles permeava a parede, algo cai do teto, ela olha para cima, as vísceras de seus tios estavam grudadas no teto.

Rafaela acorda com alguém batendo em sua porta, ela a abre, vestindo uma camisa de homem meio abotoada, Mateus olhava para o chão.

Mateus: Desculpe incomoda-la.

Rafaela: Mais uma despertou?

Mateus: Não, mais duas.

Ela olha impressionada, Mateus faz que sim com a cabeça, Rafaela fecha a porta para se trocar, enquanto ele espera do lado de fora, uma equipe paramilitar do DEG se aproxima, Mateus parece não se importar.

Soldado: Onde está o Dr. Lellith?

Mateus: Ocupado.

Lellith transava com as duas gémeas da contabilidade, ao mesmo tempo, em seu quarto, com cama redonda e teto espelhado.

Soldado: Temos que ir.

Mateus: Em breve.

Enquanto isso Teresa estava envolta por um cobertor, um policial a examinava superficialmente, as luzes atraem a atenção dos vizinhos, logo Jorge, Luana e Cátia chegam ao local do crime, Teresa sente vergonha, mas não sabe por que, Luana fura o bloqueio policial.

Luana: Teresa? O que aconteceu?

Teresa: Estão mortos...

Teresa: Quem?

Teresa: Todos.

Os policiais retiram Luana, enquanto Cátia tenta gritar para sua amiga.

Cátia: E o Sam?

Teresa (com lágrimas nos olhos): Desculpe Cátia...

Ela começa a chorar, enquanto os policiais a colocam na viatura, Luana tenta se soltar, chamando a atenção dos policiais.

Luana: Vocês vão prende-la?

Policial: Ela presenciou um crime, precisamos protege-la.

A viatura com Teresa vai embora, deixando os outros policiais terminarem a investigação, Teresa não sabia, mas a noite estava apenas começando.

No necrotério da cidade os médicos estavam intrigados pela violência do crime, o detetive Joaquim olhava o corpo de Sam.

Joaquim: O que foi isso?

Médico: Decapitação por explosão.

Joaquim: O que?

Médico: Alguém – ele procura as palavras certas – puxou a cabeça dele até separa-la do corpo.

Médico 2: Se você acha isso estranho, o pai teve seu abdómen aberto de dentro para fora.

Médico 1: Estamos procurando pelo Alien.

Os dois médicos ficam rindo, Joaquim, permanece em silêncio olhando para aquele corpo sem cabeça.

O protótipo de um avião a jato pousa silenciosamente em uma pista fechada, graças a isso os voos haviam sido atrasados, Rafaela sai do avião, vestida de preto, seguida por dois homens de ternos pretos, eles entram em um carro que estava a sua espera.

Rafaela: Onde ela está?

Homem: Foi levada pela polícia.

Homem 2: Se preocupe com ela, nós cuidamos do resto.

Rafaela: Claro que sim.

Os dois homens ficam irritados com a atitude arrogante dela, Rafaela não se importa, ela fica triste por perder mais uma noite de sono.

Teresa descansava seu corpo na delegacia, ela estava sentada na cadeira, apoiando sua cabeça na mesa, porém sua mente estava a mil, seus tios mortos, Sam, o farol de um carro, sangue, muito sangue, pessoas morrendo, alguém de branco, crianças, sangue.

Ao mesmo tempo, em um lugar próximo, uma casa se-mi destruída por jovens que fizeram uma festa, coisas quebradas, garrafas vazias, camisinhas usadas, tudo caído pelo chão, junto ao sangue, Lucy transava, cavalgando, um homem sem cabeça, cercada por corpos, muitos corpos.

O detetive Joaquim entra na delegacia, que estranhamente estava com poucos policiais, nenhum preso, nenhum oficial, apenas jovens policiais e “foceis #8221; ultrapassados, Joaquim procura pela ficha de Teresa.

Joaquim: Onde está a ficha da garota que entrou agora?

Recepcionista: A que viu as mortes dos tios? Não fizemos.

Joaquim: Por que?

Recepcionista: Ela está dormindo, faremos quando ela acordar.

O detetive fica irritado e decide procurar Teresa por conta própria, ele olha pela janela de todas as salas até que a encontra, ao mesmo tempo Rafaelaentra na delegacia, pisando firme com suas botas de couro, Joaquim ouve seus passos e tem um mal pressentimento.

Fim