Gênesis 4

Dois Anjos Caídos

Os pais de Luana despedem-se dela, a garota entra em casa, chamando por Teresa, essa desce as escadas sorrindo, ao mesmo tempo Rafaela estava sentada no beiral da varanda, lendo “Memórias de Subsolo”, Lucy pegava carona na garupa de uma moto.

Teresa: Você sabe se o Jorge vem hoje?

Luana: Não sei, posso ligar para ele, mas pode ser que tenha mais coisas para fazer.

Teresa: Tudo, é que eu gostaria de vê-lo mais uma vez antes de ir.

Luana: Eu já falei, você é minha amiga e não vai para lugar nenhum.

Teresa: Eu não posso ficar na sua casa para sempre, e eu também quero saber o que eu sou.

Luana fica triste por sua amiga, lembrando-se de sua história, ao mesmo tempo da rejeição de Jorge.

Teresa: Eu matei Cátia e acho que matei meus tios e Sam...

Luana: Não diga isso, você não sabe o que aconteceu.

Teresa: O que mais pode ter acontecido?

Luana: Se for verdade, se for, não é culpa sua.

As duas amigas se abraçam, sem saber que Jorge estava a poucos metros de distância da casa de Luana, ele havia pensado muito e tinha tomado uma decisão.

Enquanto isso no hotel, Mateus usava o telefone para falar com seu amigo Lellith e saber das ordens de Don.

Lellith: Ao meio dia de hoje será realizada uma evacuação da cidade, será alegado motivos de saúde pública, enviaremos nossas tropas para isola-la, você deverá preocupar-se apenas em avaliar os efeitos da luta entre Rafaela e a outra garota.

Mateus: Estamos perdendo o controle.

Lellith: Subir os degraus Darwinistas é uma tarefa árdua.

Rafaela para de ler mantendo livro aberto, ela olhao Mateus com o canto de seus olhos, temendo que ele perceba, recordando-se de oito anos atrás. Ela estava acorrentada pelos braços e pernas, as correntes puxadas em direções opostas, Rafaela grita de dor enquanto seu corpo é levantado, alguns cientistas acompanhavam o experimento atrás de um vidro espelhado, juntamente com guardas armados.

Rafaela estava totalmente suspensa, prestes a ser desmembrada ela pede por ajuda porém nada acontece, a não ser uma voz metálica vindo de um alto-falante.

Alto-falante: Só você pode se ajudar.

Rafaela: Por favor.

Alto-falante: Se quiser sair você deve quebrar as correntes.

Rafaela: Por favor.

Lágrimas escorrem por seu rosto, enquanto as correntes param de puxar, os cientistas aumentam a potência quando uma corrente é rasgada no ar, em seguida outra uma parte da parede racha.

Cientista: Ela está perdendo o controle.

Os guardas preparam suas armas quando Rafaela fica de pé encarando o vidro espelhado, ela via a si mesma, mas sabia que eles estavam lá, ela para e cai sentada no chão.

Cientistas: Ela parou.

Uma porta se abre, ela sorri, mas logo para, Lellith entra na sala com um maço de chaves, rapidamente tira as correntes de suas pernas.

Lellith (sorrindo): Não era eu que você queria ver?

Rafaela: Obrigada.

Lellith: Ele não veio hoje, mas estará aqui amanhã.

Rafaela: Do que você está falando?

Ela levanta-se e sai da sala andando, alguns guardas mencionam segui-la, mas Lellith faz que não.

Alguns dias se passam, os guardas haviam feito uma pequena casa para uma cadela da segurança, ela acabara de ter filhotes. Como os filhotes não podem ser tocados quando nascem ela estava sozinha, a sombra de Rafaela encobre a cadela, essa rosna tentando proteger seus filhotes, Rafaela estava séria.

Um filhote flutua, para a surpresa de sua mãe, o pescoço do filhote é torcido, ele cai no chão, a cachorra cutucava o filhote com seu focinho, outro filhote é arremessado na parede, a cachorra parece não entender, o terceiro filhote cai no chão, Rafaela o esmaga com seu pá, a cachorra rosna, sua cabeça explode, Rafaela vai embora.

Naquela noite Mateus entra no quarto de Rafaela, essa esconde-se sob as cobertas, Mateus senta ao lado da cama.

Mateus: Por que você fez isso?

Rafaela: Não sei...

Mateus: Você sabe.

Rafaela: Eles estavam lá, todos juntos, com sua mãe. Você vai me matar por isso?

Ela descobre sua cabeça, Mateus a acaricia, Rafaela sorri, ele não.

Mateus: Não.

Ao sair encontra Lellith do lado de fora do quarto esperando por Mateus, que acabara de sair.

Lellith: E então?

Mateus: Ela precisava fazer isso.

Jorge estava sentado na sala ao lado de Teresa. Luana fora buscar alguma coisa para os três, Teresa estava preocupada com a expressão furiosa de Jorge.

Jorge: Você já está melhor?

Teresa: Sim, muito melhor obrigada.

Jorge: Então já pode ir.

Luana: Jorge.

Teresa (se segurando): Ele tem razão, já atrapalhei muito.

Jorge: Ao meio dia a cidade vai ser evacuada, por que será?

Ele fuzila Teresa com um olhar, Luana fica entre os dois, mas Teresa a afasta, para poder ficar de frente para Jorge.

Teresa: O que eu te fiz?

Jorge: Você matou Cátia, matou seus tios e matou meu amigo Sam.

Luzes, cachorros latindo, crianças correndo, um carro freando.

Luana dá um tapa na cara de Jorge, mandando-o parar, Teresa cai sentada no sofá, enquanto os dois amigos discutiam, ela não ouve mais nada, exceto uma frase.

Jorge: Não sei como pude gostar de uma coisa como você.

Quatorze anos atrás, na sede do DEG o alarme rompe a noite, um grupo de crianças com idade entre dois e cinco anos fugiam, as mais velhas guiavam, sentindo medo pelo latido dos cães, uma grade explode, ela fogem por um matagal assustadas.

Um helicóptero sobrevoava o matagal, procurando por elas com suas luzes, alguns guardas com cachorros e alguns jipes faziam a busca pelo solo, uma explosão.

Uma criança tropeça em um buraco, dois cachorros a devoram vivas, outras são atingidas por tiros, algumas chegam a um muro, uma delas salta caindo na auto estrada, um carro para pouco antes de atropela-la, era Teresa.

Luana é jogada contra a parede, Jorge olha assustado para Teresa que fica de pé, seu olhar era vago como se ela não estivesse mais no comando de suas ações, Jorge tenta fugir. Uma estante cai na frente da porta.

Luana: Teresa não.

Jorge: Eu falei que ela era um monstro.

O garoto sai correndo pela casa, Teresa apenas o acompanha com o olhar, Luana segura sua perna Teresa olha sua amiga sem emoções, Luana flutua sendo colocada contra a parede.

Luana: Por favor Teresa.

O maxilar de Luana é aberto, sua cabeça afunda na parede, Teresa procura por Jorge, ela para na frente de um armário de roupas onde ele estava. Jorge via Teresa por uma fresta, ela aproxima-se enquanto o rapaz segura a respiração tentando não fazer nenhum ruído, segurando um cabide de arame, a porta do armário é arrancada, Jorge pula sobre Teresa enfiando uma ponta do cabide nela, essa não reage, Jorge começa a sangrar pelo nariz, orelhas, olhos e boca, ele é jogado no teto, onde seu corpo gira até ser destroçado.

Em outro lugar Rafaela larga o livro assustada, chamando a atenção de todos, ela parecia estar com medo.

Rafaela: Ela está viva!

Pouco depois Rafaela, Mateus e alguns soldados estavam onde era a casa de Luana, agora queimada, os pais de Luana choravam desconsolados.

Mateus: Onde ela está?

Rafaela: Não sei, seu rastro sumiu.

Mateus: Ela despertou?

Rafaela: Completamente.

Mateus comunica os soldados para eles evacuarem imediatamente a cidade. Todos obedecem rapidamente, em poucos minutos as pessoas estavam indo embora, enquanto Mateus comunicava-se com Don por telefone.

Don: Então Teresa está viva?

Mateus: E completamente desperta.

Don: Se ela despertou significa que suas memórias também vieram a tona, ela deve estar confusa.

Mateus: Vou dar prioridade a outra garota que está chegando.

Dom: Faça como quiser.

Ao desligar o telefone Don encara Lellith, que estava a sua frente em silêncio, ele ouvira toda a conversa.

Don: Como está a número 05?

Lellith: Elizabete? Fisiologicamente está muito bem mas não sabemos como ela irá se portar ao sair.

Don: Prepare-a, caso ela se rebele mate-a, isso já foi longe de mais.

Rafaela olhava os destroços, ela lembra-se de um ano atrás, a noite ela deita de lado cobrindo-se até a cabeça, a imagem de Mateus cobrindo-a na chuva e depois secando sua cabeça vêem a sua mente, ela morde seus lábios, enquanto esfrega as pernas, alguns objetos começam a flutuar, ela coloca sua mão dentro de sua calcinha e mexe seus dedos, a televisão e o CD player ligam sozinhos, um quadro cai no chão, ela se contorce, tudo para, menos a TV e o CD player que continuavam ligados, abafando seus gemidos.

Sua cabeça estava quase toda coberta, enquanto lembrava-se de frases que ouvira sobre seus poderes quando ainda era um menina: “Quando ela atingir seu ápice sexual, ela irá despertar”, “Faça com que ela os controle até lá, se não conseguir a descarte”, ela olhava para o nada, se perguntando por que não conseguia chorar.

Começava a entardecer, Teresa estava escondida em cima do palco de um teatro abandonado, ao mesmo tempo Lucy chupava seus dedos sujos de sangue, a sua frente o corpo de um motoqueiro, ela olha para o lado e calcula, que encontrará a garota que procura em dez minutos.

Rafaela estava parada na rua principal da cidade, agora vazia, Mateus estava ao seu lado, os dois estavam sozinhos.

Rafaela: Ela chegou.

Mateus: Tente manter a luta aqui, temos dois snipers naqueles prédios, se você tiver problemas nos chame, eu enviarei uma equipe.

Rafaela: Essa não é a primeira vez.

Mateus: Mas é a primeira vez com alguém desperta, além disso você deverá procurar por Teresa depois da luta.

Rafaela: Eu consigo senti-la também, posso transmitir os dados.

Ele comunica uma equipe, que sai para procurar Teresa, enquanto Mateus se prepara para ir a um lugar seguro, Rafaela segura seu paletó.

Rafaela: Eu queria uma coisa sua, para ficar comigo.

Mateus não diz nada, apenas retira sua gravata entregando-a para Rafaela, que a enrola em seus braço.

Lellith para na frente do quarto 05, com dois guardas e uma cientista, ele não sabia se olhava para a porta ou para as pernas de cientista.

Minutos depois uma equipe aproxima-se do prédio onde estava Teresa, sem que ela perceba, Teresa abraça suas pernas, fechando os olhos.

A porta de número 05 é aberta lentamente, o quarto estava escuro, a luz do corredor ilumina uma parte do quarto.

Lucy estrela seus dez dedos, ela sorri ao ver Rafaela, na outra extremidade da rua principal, o sol começa a se por.

FIM