Hospedaria 4.

Rancor

Rika estava no quarto da hospedaria andando de um lado para o outro, cansada de esperar ela caminha pelo corredor parando na frente do quarto 01. Quando ela recorda-se de sua chegada.

Misa carregava as malas da nova hospede, esta se recusava a seguir a garota olhando nos olhos de Michael. Percebendo algo perverso naquele olhar. A reciproca era verdadeira.

Rika: Onde está a dona da hospedaria?

Michael: Descansando, ela com certeza aparecerá a noite.

Rika: É um assunto urgente.

Michael: Ela está descansando, a noite você poderá vê-la.

Rika: Eu já disse. Quero falar com ela, é urgente.

Michael: Posso saber o assunto?

Rika: É particular. Diga a ela para ir ao meu quarto o mais rápido possível.

A hóspede estava parada na frente do quarto 01 tentando olhar por entre uma fresta quando sente alguém atrás dela. Uma presença tranqüila porém aterrorizante.

Garota: O que você quer?

O coração de Rika acelera. O medo toma conta de sua mente, completamente muda ela vira para trás encarando aquela garota vestida com um quimono preto, cabelos longos e escuros, olhar penetrante, melancólico porém vazio.

Garota: Você veio me procurar. Quer conhecer como é a morte?

Rika: Eu preciso falar com você.

Garota: O que pretende?

Rika: Eu vim procurar vingança. Minha irmã mais nova foi morta, ninguém fez nada você é minha ultima esperança.

Garota: Lamento mas não posso fazer isto.

Rika: por favor, eu sei o que acontece aqui dentro por isso vim até você – ela fica com lágrimas nos olhos – por favor.

Garota: Pobre alma perdida. A vingança é uma faca de dois gumes o ódio apenas a condenará ao sofrimento.

Rika: Você não faria isto?

Garota: E por acaso sua vinda a minha hospedaria é coincidência.

Rika: Eu aceito o preço que for imposto.

Garota: Sua alma será atormentada no inferno por toda a eternidade.

Rika: Como eu disse eu aceito.

Garota: Verei o que posso fazer.

Rika cai de joelhos enquanto a garota de preto aproxima-se dela.

Ao entardecer, após colocar um barco com o nome de Rika no rio, a garota de preto aproxima-se de Misa olhando-a nos olhos.

Garota: Você ainda não consegue ver seu reflexo na água?

Misa: O que isso significa?

Garota: Existe um palhaço vivendo no parque da cidade de Tóquio, ele é um estuprador e assassino, traga-o aqui.

Misa: O que?

Garota: Você entendeu, eu quero que você o traga até esta hospedaria.

Misa: É necessário que ele esteja aqui para mata-lo?

Garota: Eu sou onipotente, posso condenar quem eu quiser, mas eu quero que você o traga. Entretanto a escolha é sua não irei obriga-la e muito menos castiga-la se não o fizer.

Misa: Devem ter muitos palhaços trabalhando por lá.

Garota: Você saberá quem é.

A noite Misa voltava para sua casa pensativa, ao atravessar o parque da cidade sua atenção é subitamente concentrada em um palhaço. Haviam cinco palhaços fazendo malabarismos, apenas um deles chama a atenção de Misa. A garota caminha em silêncio olhando-o nos olhos.

Misa (pensamento): Um assassino, estuprador, alguém como ele iria para o inferno tenho certeza disto.

Ela entra no banheiro de sua casa onde começa a escovar os dentes.

Misa (pensamento): É verdade ao morrer ele vai para o inferno, tenho certeza. Não é necessário levá-lo até minha mestra.

Ela cospe a pasta de dente enxaguando sua boca.

Misa (pensamento): Mas quando ele irá morrer? Quantas pessoas ele irá matar até o dia de sua morte.

Pensativa Misa entra em seu quarto, sem perceber que a garota de quimono preto estava parada perto dela.

Misa (pensamento): Eu seria responsável pela morte dessas pessoas?

Garota: Eu disse que você o reconheceria.

Apavorada Misa grita caindo sentada no chão apavorada diante da aparição.

Garota: Eu disse que poderia vir busca-la a hora que quisesse.

Misa: Espere...

Garota: Não é por isso que eu vim. Você já sabe quem é.

Misa: como você fez isso?

Garota: Eu apenas fiz.

Misa: Você disse que a escolha era minha.

Garota: De fato a escolha é sua, você tem 24 horas para se decidir.

Naquela noite Misa não consegue dormir revirando de um lado para o outro na cama, sentindo todo o peso da angústia decorrente de sua decisão.

Misa (pensamento): Leva-lo até a hospedaria seria um crime?

No dia seguinte Misa fazia suas tarefas na hospedaria, Michael, que a observava de longe vira-se para ir até outro cômodo quando depara-se com a garota de quimono preto.

Garota: Cuidado, a curiosidade matou o gato.

Michael: O que ela fará?

Garota: Não sei, estou ansiosa para conhecer sua resposta.

Michael: Isto está cada vez mais divertido.

Garota: Devemos esperar mais algumas horas. Não interfira.

Ao entardecer Misa voltava para casa ainda sem ter tomado sua decisão. “O que seria pior condenar um assassino a morte ou por em risco vidas inocentes”. Ela detém-se diante de uma banca de jornais olhando diretamente para um jornal com a foto de uma garota de sua idade: “Corpo de colegial é encontrado desfigurado”. Na coluna de baixo: “sinais de abuso sexual foram encontrados. Com este já são seis as vítimas do assassino do parque”. Assustada Misa tenta fugir, esbarrando em dois senhores de idade, ainda confusa ela despede-se continuando a corrida até parar diante de uma vitrine onde olha seu reflexo.

Misa: Minha idade. Todas tinham minha idade.

Imagens de pessoas sendo mortas invadem sua mente, a foto da garota encontrada sobressai. Rika estava ajoelhada diante da garota de quimono preto.

Vendedora: Sim, temos produtos para garotas da sua idade.

Misa percebe que ainda estava na frente da loja olhando atentamente para a vitrine, ignorando a vendedora que estava do seu lado Misa estica sua mão tocando seu reflexo. Subitamente a garota arranca em disparada pelas ruas de Tóquio consultando seu relógio, ela tinha 30 minutos. Misa corre mais rápido.

O palhaço termina sua apresentação, olhando para os lados ele decide ir para a barraca onde mora. Um lugar sujo, cheirando a comida estragada e esperma. Ele preparava-se para dormir quando Misa entra na barraca, ainda recuperando o fôlego.

Palhaço: Quem é você?

Misa: Estava a sua procura, alguém quer vê-lo.

Palhaço: O que uma garota linda como você pode querer aqui?

Ele passa sua mão no rosto de Misa, que estremece.

Misa: Tem alguém querendo isso.

O palhaço a agarra.

Palhaço: Por que eu iria com você se posso ter o que quero aqui.

Misa: Não... por favor.

Palhaço: Não grite, ninguém liga. Estão todos cegos, vivendo apenas para si mesmo.

Misa: Ela quer você, mas tem que ser antes das dez horas. Ela está disposta a pagar, eu não tenho dinheiro ela sim.

Cinco para as dez da noite os dois estavam de pé na margem do rio, Misa respira fundo ao ver o balseiro aproximar-se da margem. Este encosta sua balsa estendendo sua mão para o palhaço indicando o caminho.

Palhaço: Quem é você?

Misa: Ele é mudo, não pode dizer nada que acontece aqui.

Indiferente o palhaço sobe na balsa, esta porém não se move. O balseiro nos olhos de Misa, esta afasta-se.

Misa (angústiada): Não.

O balseiro permanece irredutível.

Palhaço: O que significa isso.

Misa: Espere.

Ela sobe a bordo conferindo o relógio em seu pulso 09:59 a hora muda para 10:00. O balseiro rema lentamente conduzindo seus dois tripulantes para a hospedaria que continuava aberta.

Assim que chegam ao outro lado o Palhaço entra no Hall deparando-se com um sorriso amistoso de Michael, Misa entra atrás dele com a cabeça baixa.

Michael: Estávamos esperando por você.

Palhaço: Onde ela está?

Michael: Quarto 02. Espere que ela está indo, mas antes.

Ele entrega o livro de registro para o palhaço informando ser apenas uma formalidade. Intrigado este prepara-se para assina-lo (com um nome falso) quando reconhece sua assinatura no livro.

Palhaço: O que significa isso?

Michael: Quarto 02.

O palhaço pega a chave indo até o referido quarto enquanto Misa aproxima-se de Michael.

Michael: Foi em cima da hora.

Misa: Por que tive que vir junto?

Michael: Qual o problema? Tem vergonha de sua decisão?

O palhaço estava no quarto, quando a porta abre-se lentamente. Ansioso ele olha para a escuridão que se revela quando vê uma garota ensangüentada rastejando em sua direção. Ele a reconhece era sua primeira vítima.

Palhaço: o que é isso?

A garota permanece em silêncio, rastejando em sua direção apenas com a força de seus braços. O palhaço anda para trás caindo no chão. A garota ensangüentada aproxima-se, ele vira-se deparando com sua ultima vítima, o sangue escorria por seu couro cabeludo caindo sobre os olhos, sua cabeça tombava como se os ossos de seu pescoço tivessem sido quebrados. Ele grita tentando ficar de pé. A garota de quimono preto estava a sua frente.

Garota: Qual a reação do homem ao deparar-se com sua criação?

Palhaço: O que está acontecendo?

Garota: Ainda não percebeu? O rancor de suas vítimas vieram reivindicar sua alma.

Ele tenta fugir do quarto abrindo a porta deste, a garota de quimono preto surge na sua frente, a cada passo para frente que ela dá ela repete para trás.

Garota: Não precisa teme-las. Eu não permitirei que elas o levem.

Alguma coisa segura o pé do palhaço. Este cai, suas vítimas aglomeravam-se sobre ele. O palhaço gritava em total desespero enquanto era sufocado por suas vítimas.

Garota: Por que sua alma é minha eu a levarei ao inferno.

Palhaço: Não, quero viver.

Almas (em coro): Não, por favor. Não me mate.

Garota: Como pode aquele que retira tantas vidas não conhecer a morte?

A porta do quarto 02 se fecha, ouve-se um grito e depois mais nada.

Na manhã seguinte a névoa rodeava a hospedaria, Misa sai por uma porta olhando para o rio, uma brecha na neblina se abre e ela vê um borrão na água, era um fragmento de seu reflexo. A garota de quimono preto sai de dentro da hospedaria carregando um barco artesanal com uma vela a bordo contendo o nome do palhaço.

Lentamente a garota caminha até a borda do rio onde, de forma graciosa, acende a vela e coloca o barco na água.

Garota: Jesus Cristo disse uma vez: “De nada adianta ao homem ganhar o mundo se perder a sua alma”.

FIM