EROHN - O VELHO

Seus olhos refletiam um abismo negro em forma de duas jaboticabas graúdas. Vazio e sem direção olhava o horizonte. Vislumbrava a metrópole, imensa como nunca ouvira falar de outra. Nas ruas o vento soprava carrengando lixo e vozes perdidas, sem destino comum para chegar. Os cabelos desgrenhados e sujos de Erohn, bem que tentavam acompanhar o vento, mas mal se moviam.

Ele caminhava pelas calçadas, enquanto os poucos que se arriscavam andar naquele lugar desviavam-se do caminho do homem com cara de mal. Erohn partira naquela manhã com desejo de respostas, queria saber quem era, pois sentia a necessidade de dar um basta em seu passado de incertezas.Nos prostíbulos que cercavam o lugar, poucos amantes encerravam suas aventuras noturnas. Foi um destes velhos, que distraído, foi sacado pelo pescoço por Erohn. "Diga-me quem sou." Proferiu uma voz aguda e terrivelmente assustadora. Talvez por isso ele pouco falasse. Dizia sempre apenas o necessário.

O velho tremia, e pedia clêmencia. Seu pavor era tamanho que chegou até mesmo se urinar nas próprias calças. é que Erohn não era como um destes mendigos que você conhece, fraco e maltrapilho. Suas roupas sim eram de alguém que vivia na rua, mas seu físico, nem de perto poderia lembrar um famito de rua. Ele era forte, muito forte. Nem mesmo Erohn podia compreender, já que esquecera a ultima vez que fizera uma refeição. Ele não almoçava, não jantava, e muito menos fazia exercícios. "Talvez a morte me alimente". pensou muitas vezes.

O Velho estava pálido. Não lhe bastara a prostituta ter sacado suas poucas forças, e seu dinheiro, tinha ele agora um brutamontes a lhe apertar o pescoço roubando seu ar e suas energias. Seus pés estavam suspensos no ar, e ele estava próximo de falecer, e sua mente dobrava em eco aquela voz terrível "diga-me quem sou?"

- Tá bom. Eu falo. Disse o velho com o pouco de força que lhe restara. Erohn soltou-o, e aguardou suas palavras.O velho puxou uma golfada de ar, e ainda com muito medo começou a falar: - Olhe aqui meu jovem. Te juro que não sei que você é... Erohn ameaçou partir novamente sobre o velho, mas foi impedido pelo mesmo, fazendo sinais que continuaria sua fala. - Não posso dizer que você é, e não sou a pessoa mais adequada para tal, mas acredite, quero te ajudar. Existe um lugar nesta metrópole que todos sabem quem somos, vá lá, vá ao departamento de polícia que lhe garanto que lhes dirão quem você é.

Não era a resposta que Erohn gostaria de ouvir, mas ao menos era uma pista, e ele iria segui-la, embora não tivesse vaga noção de onde ficasse o departamento de polícia.

acompanhe o capítulo anterior: Erohn - O amanhecer

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 14/10/2008
Reeditado em 15/10/2008
Código do texto: T1228986
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.