O HOMEM-BOMBA

-Socorro, alguém me ajude, por favor!

Gritava desesperadamente o rapaz, preso a uma cama, em um hospital psiquiátrico de luxo. Seu pai, homem rico, um industrial poderoso, acostumado a ter todas as suas vontades prontamente realizadas, encontrava-se em um terrível dilema. Não sabia mais o que fazer para salvar seu filho.

Este sempre fora um rapaz saudável, equilibrado, sempre o melhor no que fazia. Destacava-se em tudo. Até o dia em que rompeu o noivado de anos e, desiludido, decidiu acampar nas montanhas, sozinho, para interagir com a natureza e recomeçar, assim dizia ele. No entanto, nem chegara ao seu destino. Seu carro fora encontrado acidentado pela polícia rodoviária, numa estrada em direção às montanhas. Ele ficou durante seis meses em coma e quando finalmente acordou, nunca mais foi o mesmo.

-Alguém, por favor, eu vou explodir! – Dizia o perturbado garoto.

-Não vai, meu filho, você não vai – tentava acalmá-lo, o pai.

-Pai, eles transformaram o meu sangue em explosivo líquido, tem um relógio na minha cabeça, o tic-tac não para. O tempo está passando pai. Ajude-me.

-Eles quem meu filho? Quem fez isso?

-Eles pai, não sei quem são. Mas, foram eles!

Pobre rapaz - diziam os médicos - o trauma da separação fora demais para ele. Tão acostumado à perfeição, não agüentou a barra e ficou perturbado. De fato, o pai mandara realizar todo tipo de exame possível, toda a tecnologia fora empregada, no entanto, nada havia sido encontrado, ele estava fisicamente perfeito. E a questão psicológica, somada ao trauma do acidente, foi a explicação dada pelos doutores e aceita pelos familiares.

A família não agüentava mais o sofrimento do rapaz, e não sabia mais o que fazer. Ele havia praticamente destruído o quarto adaptado em casa, e quando começou a atacar as enfermeiras particulares em suas crises nervosas, foi o limite, e a remoção para o hospital psiquiátrico tornou-se mais do que necessária.

-Ajudem-me, está chegando a hora, eu vou explodir.

Quando o pai já estava quase sem esperança de melhora do filho, um de seus assessores revelou uma nova tecnologia para danos psicológicos, que estava em experimento nos Estados Unidos. Sem ter mais o que fazer, ele então decidiu embarcar com o filho no primeiro vôo comercial para lá, tamanha a urgência da situação.

-Pai, eu vou explodir! É culpa deles pai, me ajude, me ajude.

-Calma filho, você vai ficar bom, desta vez vai.

Naquela noite a transmissão da novela fora subitamente interrompida pelo plantão de notícias. Uma aeronave a caminho dos Estados Unidos havia explodido no ar, a causa era desconhecida.

Distante dali, dentro de um objeto que sobrevoava rapidamente a atmosfera terrestre, um ser de aparência esverdeada comentava com outro:

-Enquanto os terráqueos forem tão céticos e egocêntricos, nós teremos um suprimento inesgotável de cobaias para nossas pesquisas.

-Você tem toda a razão – comentou o ser, seguido de uma risada gutural.

Flávio de Souza
Enviado por Flávio de Souza em 07/02/2009
Reeditado em 10/06/2010
Código do texto: T1426955
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