Lua Rubra

Eu a esperava ansiosamente, sentado sobre o murete de granito rústico que dividia o pequeno vilarejo das campinas ao norte. Me perguntava se ela viria. Na verdade, me perguntava muitas coisas desde quando a conheci. Não era somente mais uma moça tola; não era somente mais um rosto bonito; a sede que ela me saciava ia muito além da outra sede que me fadigava. Saciava meu coração frio, que há muito não sabia o que era amor.

A audição aguçada por aquela noite soturna me informou que alguém se aproximava. Era ela. Podia reconhecer até mesmo seus passos; tão incertos, tão indecisos...

Seus olhos, tão brilhantes sob a luz daquele luar, encontraram os meus. Ela sorriu. Desci do murete, ainda admirando seus olhos enquanto corria em minha direção com sua doce ingenuidade. Aquele brilho não voltaria àqueles olhos novamente.

"Desculpe-me o atraso. Meu pai demorou-se a ir para seus aposentos esta noite." disse-me, quando se aproximou. Estava lívida. Aquela lividez, sim, não sairia daquele rosto nunca mais.

"Tua contingência transparece em teu rosto. Tens certeza que queres fugir comigo?" disse-lhe eu, ternamente.

"Eu o amo, e nunca estive tão certa sobre algo como estou agora."

"Assim como eu." pensei, e assim o disse. A envolvi em meus braços e beijei-a com tanto furor que sua mãos frágeis cravaram-se suavemente em minha cintura, proporcionando-me demasiado prazer que me fez apagar qualquer incerteza que havia dentro de mim. Agarrei-a com força, ao mesmo tempo em que meus caninos perfuraram-lhe a pele alva do pescoço. Pela primeira vez, não senti prazer em consumar aquele ato, e os gritos que eu ansiava com tanta avidez desta vez não me proporcionaram tal emoção. Não queria vê-la sofrer: aguardava o fim tanto quanto ela.

Assim que parou de se debater, fiquei ali ajoelhado, com seu corpo inerte jazido nos braços e admirando sua linda face. Enquanto aguardava o fruto dos gritos provocados por ela virem ao nosso encontro, realizei nosso pacto eterno. Rasguei com um dos caninos o peito do polegar direito. O sangue demorou-se um pouco para vir, e quando veio, mostrou-se viscoso e espesso como a seiva de uma árvore. Deixei-o escorrer pelos lábios dela, que jazia atordoada na relva banhada pelo seu próprio sangue. Assim que escutei os passos se aproximarem, levantei-me e cruzei o murete, subindo a colina na encosta do vilarejo.

Ali embaixo, três moradores do vilarejo aproximavam-se do corpo com suas tochas acesas no intuito de ajudarem a mulher que gritara. Mal repararam no lobo sobre a colina, recortado pelo reflexo da lua.

"Levanta-te, meu amor, e sirva-te do banquete."

***