Diabo

João Antonio passara a vida em gabinetes. Dava passos lentos e bem planejados, pois no serviço público se via cercado por serpentes que a qualquer momento poderiam lhe dar um bote fatal. Por todo esse stress, quando a aposentadoria lhe bateu a porta mudou-se para uma cidadezinha do interior buscar pela paz almejada.

Na pequena cabana no pequeno sítio ele podia curtir a seus hobbys, absorvendo todos os livros não lidos, escrevendo, pintando suas obras de arte, e curtindo a saudade solitária da esposa que oo deixara. "por quenão vim antes..." pensava ele todos os dias.

Mas numa dessas noites sombrias, quando até mesmo a lua esconde-se por medo dos que vagam, ele recebeu uma inesperada visita. Um homem de estatura alta e esguia, vestindo negro, com um boné de pano, e uma pistola em punhos. "Mãos para o alto..."

Antes fosse um ladrão em busca de dinheiro, ou das armas que colecionava. "O que você quer... pode levar tudo..." disse a vítima gaguejando cada palavra proferida.

"Fique quieto. Faça apenas o que eu mandar." Disse J. dando ordens claras, e sacando de um dos bolsos do sobretudo que vestia, um cachimbo de lata, e algumas pedras. "Vamos fume tudo isto... Senão estouro seus miolos..."

Mesmo tendando ponderar,não sobrou ao aposentado outra alternativa que não fosse inalar a fumaça da morte... J. observava-o com um olhar cínico e satisfeito, e a cada vez que o velho tentava parar o cano da pistola ficava mais perto de seu rosto a ponto dele sentir o cheiro da pólvora. J. apenas ria, e quando o velho caiu no chão infartando pela overdose, J. chegava a um prazer semelhante a um orgasmo com as prostitutas que costumava visitar.

Morto, a fisionomia serene do velho dera lugar ao terror paronóico, revelado por suas púpilas dilatadas. Cuidadosamente, J. tirou as roupas da vítima, queimando-as na lareira. Foi até o fogão,onde numa panela velha preparou um líquido a base de corante de páprica.

Foi até o pátio onde deixara escondido um material de forte odor. Numa tigela com alcool etílico diluiu a mistura, pestiando o ambiente com o insuportável odor de ovo podre. Com a tinta preparada, banhou o corpo do falecido, e esperou secar, e ver o tom vermelho-alaranjado que ficara o falecido. Com a paciência que lhe era característica foi embora apagando os vestígios de sua presença.

No dia seguinte, um peão encontrou o corpo, e logo se espalhou pelo vilarejo a visita do Diabo ao velho joão. "Nem mesmo as pessoas de bom coração estão livres do capeta." dizia uma das beatas durante seu velório.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 04/03/2009
Código do texto: T1469038
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