Juntos Para Sempre

O relógio em cima do criado mudo do quarto de Heloisa marcava quatro e vinte oito da manhã, entretanto, a cama da garota estava intacta.

A jovem de dezesseis anos estava bem acordada, de frente a tela do computador.

Seus dedos martelavam o teclado do aparelho ruidosamente, enquanto ela lia avidamente cada palavra que seu namorado, Marcos, lhe enviava via MSN.

Com movimentos ágeis, a adolescente digitou:

“Estou com saudades...”.

Leu a resposta do rapaz de dezessete anos:

“Eu também... Mal posso esperar para tê-la novamente em meus braços”.

A jovem perguntou em seguida:

“Você vem me buscar?”.

Marcos não demorou a responder:

“Eu já estou esperando...”.

A adolescente estava ansiosa. Despediu-se com um “até logo” e em seguida, desligou o computador, sem esperar pela resposta.

Ela se levantou e despiu a camisola cor de rosa. Caminhou até a suíte de seu quarto e tomou uma ducha quente.

Saiu do banheiro e enxugou a pele pálida. Escolheu seu melhor vestido, um branco de alcinha, com o decote e a aba da saia trabalhado com flores de seda, que lhe caia até a metade da cocha e um par de sandálias na mesma cor.

Secou seus longos cabelos negros, fez uso da maquiagem e por fim, tomou um banho de perfume.

Olhou para a própria imagem refletida no espelho satisfeita. Estava linda.

Pela janela, pode ver os primeiros raios de luz da manhã que nasciam no horizonte, tingindo o céu negro de azul e anunciando o fim da madrugada.

Abriu a porta silenciosamente para não acordar os pais que dormiam no quarto vizinho, cruzou o corredor e desceu a escada sem fazer ruído. Já menos apreensiva, atravessou a sala de estar e a de jantar, e se dirigiu até a cozinha.

O coração de Heloisa pulsava dentro de seu peito. Ela suava frio. Hesitou por alguns minutos, mas logo se decidiu.

Abriu a gaveta de talhares e puxou uma faca. Suas mãos estavam trêmulas. Olhou por um momento a lâmina prateada que refletia seu rosto. Não podia voltar atrás, faria isso por Marcos.

Num movimento súbito, a jovem cravou a arma em seu próprio peito. Sentiu uma dor intensa que aumentava conforme o objeto perfurava sua pele alva como o mármore e rasgava sua carne.

A adolescente conteve o grito, mas as lágrimas quentes lhe caiam pelo canto dos olhos azuis. Seu corpo pendeu para frente. Ela caiu de joelhos num baque surdo.

O sangue fresco que jorrava do ferimento era de um vermelho vivo, e se destacava no vestido branco e na pele lívida da moça, que caiu de bruços.

Em breve, veria Marcos, seu único amor, que a morte havia levado há pouco mais de seis meses num acidente de moto.

Heloisa estava feliz. Seus lábios se contraíram em um sorriso mórbido. Pelo canto dos lábios carnudos escorria um filete de sangue.

Finalmente, estariam juntos para sempre...

(Julio Cesar Rodrigues Mantovani Filho)