Onde Crescem as Rosas Selvagens...

Onde Crescem as Rosas Selvagens

Elisa era uma garota de dezessete anos que cursava o terceiro grau no Colégio Estadual Francisco de Assis. Filha de pais separados, apanhava regularmente do padrasto. No colégio, era a típica garota problema, com diversas ocorrência de vandalismo, falta de respeito para com os colegas e professores e agressão, entre outras coisas, tendo chegado a ser expulsa duas vezes.

Seus cabelos ruivos eram sedosos, cintilantes e ondulados, de um laranja avermelhado, vivo, lembrando a tonalidade do âmbar. Seus olhos verdes eram levemente afilados, com um ar ao mesmo tempo selvagem e sedutor. Alta e magra era dotada de um corpo escultural, e sua pele era pálida como o mármore. Seu rosto afilado ostentava um nariz retilíneo e sua boca era provida de lábios macios e rubros, como as pétalas das rosas, o que lhe rendera o apelido de Rosa Selvagem.

Apesar de sua beleza, sua personalidade forte e agressiva intimidava os demais colegas, e em conjunto com os boatos a respeito do uso de drogas, acabava por afastá-los. A solidão fora sua única companheira até aquele momento, mas desde que conhecera Fabrício, isso mudara.

O jovem de dezoito anos havia reprovado o terceiro colegial, e caído na sala da garota, que de imediato, se sentiu abalada por suas atitudes ousadas e pelo seu jeito rebelde. Era como se ele possuísse um magnetismo quase que sobrenatural que a atraísse. Quando os dois se olhavam, olhos nos olhos, aquele desejo intenso de colar seus lábios com os dele e de ser envolvida por seus braços era quase que insuportável.

E ela sabia, era correspondido. Tinha certeza que Fabrício sentia o mesmo. Podia ver nitidamente a sede e a avidez em seus olhos, de um cinza semelhante aos dias nublados.

Não demorou muito tempo até que ele lhe confessasse seus sentimentos. Dois dias depois de se conhecerem, ele lhe trouxera uma rosa escarlate, cuja coloração lembrava o sangue fresco, e confirmou suas certezas com sua voz grave e baixa.

Aquele havia sido seu primeiro beijo. Foi longo e profundo, carregado de sentimentos. Seus lábios molhados tocaram os seus, e sua língua invadiu sua boca de modo delicado, mas intenso.

O rapaz lhe envolvera em seus braços quentes, brancos como o mármore, e lhe confortara. Ele a tinha escolhido, entre tantas mais. Elisa era a mais bela das flores.

Com a voz de veludo a convidou, com a boca colada em sua orelha delicada a ir com ele, ao pôr do sol, ver as rosas que compartilhavam de sua beleza exuberante e selvagem, e que cresciam a beira do Rio Prateado, que cortava de Campo Verde.

Aquele dia, ao saírem da escola, foram de moto até um ponto afastado da cidade, onde o rio ainda era límpido, e as flores cresciam livremente a sua margem.

Eles desceram e caminharam de mãos dadas em meio as rosas. Eram flores grandes, rubras. Quando o vento passava, arrastava suas pétalas e levava consigo um aroma adocicado e agradável, que eram um deleite para o olfato dos dois amantes.

Eles se sentaram lado a lado no córrego, e juntos, observavam o espetáculo que a natureza lhe oferecia. O sol que se deitava no horizonte tingia o céu e as águas de púrpura, e o rio adquiriu um aspecto sanguíneo, ao mesmo tempo belo e mórbido.

Eles se deitaram em meio as rosas. Mais uma vez se beijaram com a mesma intensidade. Ele a tomou nos braços, e ao contato da pele, puderam sentir o calor que escapava do corpo um do outro. Aquele calor os consumiu. Naquele momento, em meio as rosas, fizeram amor.

Enquanto o Sol morria em sua rotina habitual, ela pode ouvir sua voz sussurrante, após outro beijo:

- És a mais bela das rosas, e como tal, está fadada a murchar, morrer, pois toda beleza tem um fim...

Subitamente, Elisa sentiu uma dor aguda na cabeça e um líquido viçoso escorrer-lhe da testa. Fabrício havia acertado sua cabeça com um pedregulho, como fizera com tantas outras garotas antes dela, e aquelas, foram as últimas palavras que a moça pode ouvir.

Poucas pessoas compreenderiam seu fetiche, mas para ele, ter garotas selvagens, fortes, geniosas, como Elisa em suas mãos, era simplesmente delicioso.

O modo como ela se entregavam para ele, abriam seus corações e ficavam dóceis, vulneráveis, era algo mágico. Nem sequer reagiam.

Ele sorriu, cavou uma cova a beira do Rio com uma pá que havia deixado no local, para está ocasião. Já tinha tudo programado, teve o trabalho de planejar cada passo, cada movimento que executaria.

Despiu o corpo da jovem e jogou na fossa, e prestou sua ultima homenagem. Depositou uma rosa em seus lábios. Em seguida, tirou uma fotografia com seu celular, para guardar de recordação e a sepultou. Tirou as roupas, se banhou nas águas cuja coloração rubra ia se dissolvendo no negrume do anoitecer, vestiu um conjunto de vestes que havia deixado preparada junto com a ferramenta de escavação e caminhou em direção a moto.

Sorriu uma última vez e partiu. A estrada era longa, queria estar em casa antes da meia-noite. Ele iria parar em algum posto e se livrar das roupas da garota. Quanto as suas, apenas lavaria com cândida e desinfetante. Não podia ser pego, afinal, ainda havia muitas outras rosas selvagens para colher para seu jardim...

OBS: Esse texto foi tirado de uma música do gênero Darkwave, cantada por Kylie Minogue, de nome "Where's Grow Wild Roses". Eis a tragução:

Onde Crescem as Rosas Selvagens

(voz feminina)

Eles me chamam de A Rosa Selvagem

Mas meu nome é Elisa Day

Porque me chamam assim eu não sei

Pois meu nome é Elisa Day

(voz masculina)

Do primeiro dia que eu a vi

Sabia que ela era aquela

Ela fixava o olhar em meus olhos e sorria

Pois seus lábios eram da cor das rosas

Que cresciam junto ao rio

Todo sangrento e selvagem

(voz feminina)

Quando ele bateu na minha porta

E entrou no quarto

Minha tremedeira parou em seu abraço seguro

Ele seria o meu primeiro homem

E com uma mão cuidadosa

Ele enxugou as lágrimas que corriam pelo meu rosto

(voz masculina)

No segundo dia eu comprei flores para ela

Ela era mais bonita

Que qualquer mulher que eu tenha visto

Eu disse

"Você sabe onde as rosas selvagens crescem

Tão docemente e escarlates e livres?"

(voz feminina)

No segundo dia

Ele chegou com uma solitária rosa vermelha

Disse:

"Você vai me dar sua desgraça e sua tristeza?"

Eu balancei a cabeça, enquanto deitava na cama

Ele disse: "Se eu lhe mostrar as rosas, você seguirá?"

No terceiro dia ele me levou ao rio

Ele me mostrou as rosas e nos beijamos

E a última coisa que ouvi foi uma palavra murmurada

Enquanto ele se ajoelhou (sorrindo) em mim

Com uma pedra em seu punho

(voz masculina)

No último dia

Eu a levei onde as rosas selvagens crescem

E ela se deitou à margem, o vento leve como um ladrão

E eu lhe dei um beijo de despedida,e disse:

"Toda beleza deve morrer"

E descendi e plantei uma rosa

Entre os seus dentes

(Julio Cesar Rodrigues Mantovani Filho)