Dama da Noite - Doce Vampiro

Aos vermes entreguei o meu amor, a idade já se fazia tempo, ambos cansados e enfraquecidos pela angustia e alegria que a vida nos causa. Talvez, se o tempo não existisse, se Cronos efetivamente tivesse sido morto, isto jamais teria acontecido. Mas um dia o tempo se transformou em aliado, quando a noite me abraçou entre beijos de morte e desejo. Assim me tornando um vampiro, então toda a poeticidade da vida foi se embora.

Custei a entender qual era minha nova condição, sozinho e confuso, tive de aprender as peculiaridades da vida pós mortem. Mas ao contrário do que se espera, não me lamentei, fiquei mais forte e pela primeira vez senti prazer em punir, destruir e eliminar aqueles que não eram dignos da vida. Caminhei experimentando os prazeres da noite, belas companhias, doces sabores, música, aromas e imagens de luxúria e êxtase, como Dionísio entregue aos prazeres da carne, sem culpa ou remorso. Até que algo curioso aconteceu, uma bela mulher surgiu, entre véus de mistério, seus olhos eram verdes de brilho intenso, enigmático e ameaçador. Era uma mulher de extrema e rara beleza, mas de feições tristes. Iria se casar naquela mesma noite, entregar-se a alguém a quem não ama, podia sentir toda a angustia que pulsava em seu peito.

A noite caminhou para ela como um teatro de horrores, onde a vida desmoronava aos seus pés. A observei por horas, aquela tristeza me perturbava, tinha de fazer algo. A festa logo se encerrou, os embriagados e felizes convidados retornaram as suas casas. Fiquei a observá-la através da janela, aos pés de uma figueira. Lá estava ela, fugia entre soluços e gritos, daquele homem velho e sujo que dizia ser seu esposo e que queria possuí-la a força, pude ouvir barulhos violentos de algo que parecia ser uma briga e então o silencio preocupante. Logo avistei uma carruagem sair às pressas, em direção ao pântano, despejou algo coberto com lençóis brancos, pude sentir o cheiro de sangue fresco. Logo retornaram apressados e nervosos, deixando um corpo entre as águas verdes e lodosas do pântano.

Aproximei-me, devagar, algo se movia timidamente, quando a descobri, era a mesma mulher triste da festa. Coberta de sangue e com vários ferimentos, foi surrada até quase morrer, jazia ali inconsciente aos meus pés. Seu cheiro natural era inebriante, uma tentação aos meus sentidos, aroma de mulher e sangue mesclados a noite. Quando ela abriu os olhos, senti meu corpo ferver de vontade de possuí-la para sempre, e assim o fiz a beijei, lhe dei a escolha de viver para sempre. Então ela buscou vingança contra o velho marido, lhe arrancando a garganta, com ferocidade animal, uma mulher vingativa pode trazer o inferno à vida dos homens, que belo espetáculo da natureza elas são.

O amor foi mútuo e assim caminhamos juntos. Minha doce Margot, deusa de cabelos negros, a mais bela e enigmática de todas as crianças da noite. Tornando-se mais poderosa, forte e inconstante como força de vida que existe em cada mulher.

Louis Montesserat

11.04.1712

Obs; este trecho faz parte de um projeto intitulado Dama da noite, será editado em breve. Não esqueça de registrar sua opinião e/ou sugestão. Obrigado.

Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 12/04/2009
Reeditado em 11/07/2010
Código do texto: T1536101
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