VIDA NOTURNA - II

Sem esperar mais nada, os soldados iniciaram os disparos contra as silhuetas inimigas, no que foram prontamente respondidos, lascas do balcão voavam, garrafas eram despedaçadas, o conteúdo alcoólico era despejado sobre as cabeças do grupo de Roger.

Alguns noturnos eram jogados para trás, devido ao impacto da munição pesada que recebiam. Estranhamente, como se fosse um acordo não oficial, os seres da noite também faziam uso de silenciadores nas pistolas. Embora estivessem em inferioridade bélica, os guiados de Verônika possuíam habilidades especialíssimas.

Elisângela, perita em tiro, manejava uma besta com munição semelhante às flechas de Jéssica. Suas setas abriam as pontas como asas afiadas, que serviam para arrancar a cabeça dos inimigos. Jogara várias ao chão, matando muitos vampiros, porém estavam em absoluta inferioridade numérica, sentiam-se encurralados ali. Não sabiam quanto tempo mais poderiam resistir. Para Verônika, que não entrara no combate, apenas observava, era questão de tempo a queda dos soldados.

Camilo e Beto disparavam com intensidade sobre as sombras verdes, não possuíam a precisão de sua amiga das setas afiadas, usavam a quantidade para abatê-los, e conseguiam algum resultado. Linho, habilidoso em artes marciais como era, saltou sobre o balcão, seguindo para o corpo-a-corpo, girava uma longa espada, decepava braços, abria abdomens, arrancava cabeças com uma facilidade impressionante.

Riscou um arco perfeito no ar, e acertou o ombro de Felipe com a espada, ferindo até o osso. O vampiro urrou de dor, não estava acostumado a ser atingido em combate, queria usar suas garras para rasgar a carne de Linho. E assim tentou, o lutador esquivou-se com perfeição, apesar da velocidade anormal do inimigo, seus treinamentos o condicionaram a situações como essa.

O contra-ataque foi mortal. A lâmina de Linho contorceu-se como uma serpente arisca, decepou o braço esquerdo, depois o direito e por último a cabeça do guerreiro do Reino da Noite. Bárbara e Úrsula partiram para cima do lutador, foram impedidas por duas balas que as atingiram em cheio, uma em cada testa, tirando-as temporariamente de combate.

Perto dali o rastafari sorria com o seu feito. Recebeu um cumprimento de cabeça de Linho. Verônika decidira entrar no jogo partindo ao encontro do soldado lutador. Linho não se intimidou, os olhos da Condessa incendiavam em vermelho vivo, dando a sua silhueta um tom arroxeado aos olhos dele. Fez sua espada bailar mais uma vez, riscou para um lado, riscou para o outro, e a Condessa se esquivava como se fosse a coisa mais simples do mundo.

- Eu te pego sua traiçoeira, sua imunda! – vociferava o soldado.

- Não seja ridículo, Linho, você só me faz lembrar o porquê de estarmos em situações e lados diferentes. Sua gente me enoja, vocês são patéticos.

A Condessa girou o braço, abrindo quatro riscos no tronco do rapaz, tão profundos que romperam a proteção do colete à prova de balas. O sangue do guerreiro da Ordem escorria pelo corpo e manchava as garras de Verônika. Esta lambeu o sangue e exibiu uma careta.

- Sangue fraco! Vocês são uma piada – esnobou a vampira.

- Você nunca chegará aos pés de uma guerreira como Jéssica – ao ouvir isso, a expressão da comandante real se transformou, estava tomada de ira.

- Nunca, nunca mais você me comparará àquela, àquela fraude!

A Condessa enraivecida ataca com toda a sua fúria, e o bravo lutador não teve condições de resistir. Caiu de joelhos no chão, a espada, aliada de várias batalhas, repousava ao lado, sentia seu sangue ser transferido para Verônika, um turbilhão de emoções passou em sua mente e coração, a imagem da filhinha, que nunca mais veria, aparecia na sua frente, naquela escuridão, duas lágrimas escorreram, não de medo, não de dor, apenas por incapacidade, julgou-se incapaz de cumprir sua tarefa e agora morreria, justamente pelas mãos de Verônika, era muita crueldade do destino. Tombou sem vida.

A Condessa sentiu um zumbido no ouvido, abaixou-se instintivamente, uma mecha de seu cabelo foi tirada por outra lâmina, a de Roger, o líder da operação. Verônika pôs-se de pé, da boca escorria sangue, o sangue de Linho, o que deixou o soldado da Ordem mais irritado. Ergueu do chão a espada do amigo. Possuía agora uma em cada mão, chamaria a Condessa para dançar, e ela se daria muito mal, assim pensou.

- Ora, ora se não é o lacaio preferido da ridícula Jéssica.

- Lave sua boca imunda antes de falar dela, Verônika.

- Não seja ridículo você também! Você é um bom soldado Roger. Minha oferta está de pé, aceite o meu convite, junte-se a nós.

- Nem que só restasse isso como destino para mim nesse mundo eu faria uma coisa dessas. Tenho princípios, tenho responsabilidades.

- Pois bem, garotão, não oferecerei novamente, a benevolência da Rainha tem limite. Se não quer ficar conosco, então, encontre seu destino, a morte.

Dizendo isso, a Condessa parte de encontro ao inimigo. Roger cruza as espadas para se defender, as garras longuíssimas de Verônika chocam-se com as lâminas do guerreiro numa velocidade incrível e de forma incessante. O soldado não tem muita alternativa, recua gradativamente ao passo que a líder inimiga avança.

Os cortes na pele da vampira curam-se quase que de forma imediata, enquanto as lesões nos fortes braços do homem minam cada vez mais suas forças. Verônika, de forma acrobática, acerta um violento chute frontal no queixo de Roger, que cai em aparente nocaute, a noturna pula sobre o homem, no entanto é surpreendida por uma manobra hábil do guerreiro.

O soldado rola lateralmente, e, de posse de uma adaga, crava a pequena lâmina na nuca da Condessa que grita de dor e cai de joelhos. Roger salta sem usar os braços como alavanca, no melhor estilo ninja, e fica de pé, para em seguida efetuar um chute fortíssimo na barriga da inimiga, arremessando-a longe.

O defensor da Ordem sorri e exibe as duas espadas recém erguidas do chão e avança em direção à oponente. A Condessa arranca a lâmina na nuca e a atira com força sobre-humana, a ação é tão rápida, que o soldado mal tem tempo de se defender, consegue desviar levemente o trajeto da adaga, porém, não de forma suficiente para se safar do golpe. A lâmina que seguia certeira para seu coração, com o desvio, alcança o abdome, perfurando o colete, tamanha a potência da investida.

Próximo dali, os veículos da Ordem rasgavam o asfalto, aproveitavam a alta hora da madrugada para imprimir velocidade, não ligavam para os radares que fiscalizavam o excesso de velocidade, menos ainda para os de avanço de sinal. Contornaram a esquina da Planet, derrapando as rodas e ganhando a rua da boate, as portas que ficavam para o lado do calçamento já estavam abertas, e tão logo os carros foram violentamente parados, deixando marcas na pista, seus ocupantes saltaram, armados até os dentes. Deram de cara com dois seguranças plantados na entrada do estabelecimento, arreganharam as bocas exibindo os dentes ferozes, eram dois gigantes

*continua*

Flávio de Souza
Enviado por Flávio de Souza em 23/04/2009
Reeditado em 17/11/2009
Código do texto: T1554457