Olhos Verdes.

Quando me aproximei percebi irrefutavelmente que estava ali a mais bela de todas. Suas faces de um brancor suave e doce, sua pele frágil aparentando quebrar ao mais leve dos toques.

Os olhos verdes incrustados de mistérios, - refletindo o luar sob o sol do meio dia e clareando o breu acinzentado da noite. Cabelos pretos caindo por cima dos ombros e desmanchando-se nas costas despidas.

Parecido com as gotículas de água durante a chuva, - que tem cada uma um tom ao atingir o solo – foi o seu cantar, menosprezando o farfalhar das folhas.

A lágrima que escorre demonstrando sua eminente tristeza termina desbotando-se junto ao queixo.

Ao fundo o brilho da lua dilacerando qualquer resistência de minha parte em aproximar-me. Passos vagarosos, - pé-ante-pé – me dirigi próximo ao lago. Ela percebendo foi se virando à medida que ouvia a rispidez com que meus pés tocavam o solo.

Quando estava perto o suficiente para alcançar-lhe, pendi minha mão sobre seu ombro. Um grito mudo estancado de horror me contemplou a alma quando não senti, ou melhor, ao sentir-lhe o frio vão que corria as veias no lugar do sangue.

Sua face agora não mais bela como outrora, e sim desfigurada por uma cicatriz que rompia da testa ao canto inferior dos lábios. Estes agora que cessaram o canto divino e passaram a deferir lamúrias e murmúrios. Choro de antes angelical, agora me trazia um frio a espinha.

Segurou-me pelas mãos com força descomunal. E atirou-se, agora ignorando que suas unhas grotescas fincaram-se em minha pele e caiu ao lago trazendo-me consigo. Tive ainda o instinto de puxar a plenos pulmões um ultimo “gole” de ar.

As águas se fizeram envolver e o seu frio mórbido me cercou pela escuridão profunda da mesma. Tive a inóspita e notória sensação de precisar desesperadamente do oxigênio - que outrora em abundância nem se fazia notar. – e não consegui-lo.

O liquido entrou por meus ouvidos e boca. Encharcando-me por dentro. Meus olhos arregalados se fecharam, e minha face corada deixou de ser tão viçosa quanto antes, devido ao meu sangue que se esfriou ainda dentro de minhas veias. Perdi a consciência... Tudo ao meu redor agora se resume a penumbra.

Vejo apenas dois pontos brilhantes acima. Dois pontos verdes, como vi um dia em certos olhos...

É ela! Tenho certeza. Está agora, porém, cantando para outro alguém... Depois de ter-me abandonado quando cheguei ao fundo... Sem forças para lutar...

Raafa Fonseca
Enviado por Raafa Fonseca em 25/04/2009
Código do texto: T1559191
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