O Fulgor de olhos vazios.

Não sei o porquê de estar colocando isso no papel. Não sei quem eu quero que leia isto quando eu terminar. Para falar a verdade não sei nem se estou escrevendo para alguém realmente ler. Só tive vontade de preencher as folhas vazias, rodeados por seu brancor. Talvez por elas serem as únicas que não me julgariam a qualidade mental.

Não sei se já passou por alguma coisa parecida. Muitos com certeza não entenderão nada sobre mim e minhas palavras, mas alguns sim. Ah sim, alguns entenderão o desenrolar desse desabafo, sim podemos intitular esse texto como um desabafo.

Ultimamente tenho me sentido solitário, mesmo quando estou rodeado de pessoas. Todas aquelas vozes ali, me cercando através de suas almas. Resguardando-me envolvido em seus braços e eu não tenho a mínima idéia do que faço ali.

Porque vim ao mundo? Para me tornar mais uma criatura pecadora a sofrer com outras coisas maiores? Não deveria então desligar-me da minha alma e tornar-me alguém mais puro?

Perguntas... E mais perguntas! Elas me perseguem. Cercam-me por todos os lados, - fazendo ao meu redor uma bolha imaginaria, - me aglomerando a elas.

Minha cabeça dói. Não! Parem com isso agora. Chega! Não vou, e nem preciso mais ouvir estas vozes...

Sozinho em meu quarto, - que antes era o único lugar em que me sentia seguro. Entrelaço os braços nos joelhos e me resguardo em um canto, como que se me protegesse de um possível ataque.

As lágrimas. Companheiras de tantas horas. Descem mais uma vez pelo meu rosto, pesado e cansado de suportar um fardo que me foi dado sem permissão. Não pedi para nascer. Não pedi para me tornar o que sou hoje.

Os lábios balbuciando, - trêmulos - palavras incompletas. O ranger metódico dos dentes. O cabelo desemaranhado caindo sobre o rosto cheio de suor. As cobertas envolvendo-me na cena mórbida e doentia que representava o aposento.

“Eles” se aproximam. Não quero ir, estou com medo. Carregados de vestes brancas que vão dos pés ao pescoço. Dizem-se meus amigos, mas eu sei que é mentira, posso ver em seus olhos. Os olhos das pessoas comuns nunca mentem.

Os três jogam sobre mim um manto branco que me envolve e me prende, - como em uma cela abstrata. Tento me libertar agitando meus braços de um lado para o outro.

Grito com todas as minhas forças. Talvez na esperança que alguém venha me ajudar. Gotas cada vez maiores de saliva saem de minha boca cada vez que a abro.

-Não está funcionando,... Ele está ficando cada vez mais nervoso. - Tragam-me a injeção.

Palavras... Apenas palavras, mas que hoje me fazem falta. Trancado neste quarto processo meus pensamentos a todo instante. Meu cérebro não descansa. Minha respiração não cessa.

Tenho medo que esta porta nunca se abra novamente e eu não possa voltar. Caí em um buraco de ilusões e elas me trouxeram para cá, esta é a única certeza que tenho...

Raafa Fonseca
Enviado por Raafa Fonseca em 28/04/2009
Código do texto: T1564708
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