O guia da morte.

Vinte horas e quarenta e três minutos. É o horário que marca no relógio pendurado na parede de frente a mesa do sr. Cláudio.

Ele olha apreensivo, ninguém mais no escritório do banco, seu último dia antes das tão merecidas férias e trabalhando até mais tarde.

O telefone celular toca: - Papai, você ainda está ai?

- Eu e a mamãe já estamos nos divertindo muito aqui no hotel, a que horas o senhor vai tomar o avião e vir nos ver?

- Logo filha, saio daqui o mais rápido que puder.

- Beijos pra você e pra mamãe. Tchau.

Um olhar apreensivo para a câmera de segurança, um mapa na mão com o organograma das mesas do escritório e a trajetória da câmera de segurança temporizada.

- É agora! Decide Cláudio.

Ele começa a rastejar por debaixo das mesas, evitando o movimento da câmera até chegar à mesa de seu gerente geral.

Abre o dirve de CD, inserindo um disco virgem e com nome de usuário e senha roubadas do próprio gerente, Cláudio começa a descarregar dados bancários como números de conta, senhas e valores para dentro de seu cd.

Terminado, ele coloca o cd em sua mala que já está pronta com suas roupas para a viagem, volta evitando o movimento da câmera e se retira do escritório.

O suor começa a correr de sua testa, suas mãos começam a tremer, mas mesmo assim Cláudio chama o elevador e espera até que ele venha ao 23º andar.

Ao abrir a porta do elevador, para sua surpresa, ele se depara com um casal de idosos e uma moça jovem e bonita.

Sem qustionar o que aquelas três pessoas ainda faziam no prédio comercial ele os cumprimenta e entra no elevador.

O telefone celular toca novamente: - Alô, Cláudio, onde você está?

- Estou aqui na rodoviária, se você não vier até as 21:30 eu juro que me mato!

- Estou a caminho...

- Se não tiver coragem de abandonar sua esposa e filha como me prometeu eu juro que me mato!

E o telefone desliga a seguir.

A senhora olha o visor do telefone e pergunta: - Essa na foto é sua filha?

Cláudio um tanto nervoso por estar cometendo o roubo e desejando sair o mais rápido possível do prédio, apenas mexe sua cabeça com um sinal de positivo.

o senhor diz: - Vejo que tem uma mala ai, vai viajar meu jovem?

Cláudio novamente repete o gesto afirmativo.

A moça pergunta: - Sua filha vai com você?

Cláudio já um tanto aborrecido responde: - Sim.

A senhora diz: - É um tanto triste isso, ela é tão jovem, tão bela, não é hora de viajar ainda.

- Eu e meu marido perdemos uma filha ainda jovem, e ao olhar a foto da sua menina nos recordamos da nossa.

O olhar dos três indivíduos para Cláudio o faz suar frio.

Ele não vê a hora de poder se ver livre daquele lugar e daqueles três malditos enxeridos.

De repente, o elevador dá uma parada brusca.

A falta de luz no prédio fez com que o elevador pare de funcionar.

- Justo no teceiro andar! Pensa Cláudio.

O senhor diz: Você me parece apreensivo meu jovem, logo isso tudo vai acabar, não se desespere.

A moça diz: - Isso é normal, acontece a toda hora.

E mais uma vez o telefone toca: - Cláudio, sabe que horas são?

- Estou aqui na rodoviária, daqui a 20 minutos o nosso ônibus parte. Se não estiver aqui vou me jogar debaixo dele, estou avisando!

Cláudio mal consegue responder e o telefone desliga.

O calor começa a tomar conta de seu corpo, ele afrouxa a gravata.

E a presença daqueles três indivíduos ali, serenos, quase imóveis, deixa Cláudio mais perturbado ainda.

A senhora diz: - Paciência meu rapaz, logo tudo irá terminar e você irá ver sua filha.

Chegando ao seu extremo, Cláudio responde rispidamente: - Cale-se por favor, não vê que estamos presos aqui?

- Nosso ar está acabando e não tem ninguém no prédio.

Repentinamente a luz retorna, mas o elevador não volta a funcionar, apenas o interfone toca, Cláudio o atende rapidamente: - Oi, senhor, estamos lhe vendo pela câmera de segurança, tenha calma, estamos enviando uma equipe para retirá-lo dai. Não tente nada brusco, polpe o seu ar.

Cláudio diz: - Logo? Vocês não estão no edifício?

- Em quanto tempo estarão aqui?

A voz no interfone lhe diz: - No máximo em 30 minutos senhor.

O desespero é total, Cláudio transpira loucamente, sua respiração ofegante, seus olhos começam a ficar pesados, sua visão turva, mas mesmo assim ele observa aqueles três indivíduos, completamente calmos.

Sua consciência começa a lhe pregar peças, ele começa a deduzir que eles são policiais que estão ali lhe fazendo um jogo sádico para que ele lhes entregue o que fora roubado.

- Tome, este aqui é o cd que roubei, toda informação está aqui.

- Levem logo, mas me deixem sair daqui.

Os três se olham e olham para Cláudio com olhar de pouco entender oque se passava com ele.

Seu telefone toca: - Você tem 10 minutos para estar aqui, vai desistir não é?

- Saiba que vai ser o responsável pela minha morte!

De repente, a porta do elevador começa a se abrir, era a equipe de manutenção.

- Clama senhor, estamos lhe tirando dai.

Agoniado Cláudio sentou-se no chão do elevador enquanto esperava o resgate.

Ao abrir a porta, ele sai de joelhos e olha para trás, para sua surpresa ninguém estava no elevador com ele.

Ele liga para sua amante, a qual tinha planejado fugir e avisa que já está saindo do prédio e indo ao seu encontro.

Ele pregunta: - Onde estão aqueles três que estavam comigo no elevador?

Os técnicos curvam suas sombrancelhas e um deles responde:

- Senhor, a falta de oxigênio causa alucinação, não tinha ninguém com o senhor no elevador.

Constrangido, ele recolhe suas coisas, coloca de volta em sua mochila e finalmente sai do prédio.

Senta-se para poder respirar em um café ao lado do edifício.

Ao olhar para a mesa ao lado, lá estão novamente as três figuras sentadas e observando atentos os movimentos de Cláudio.

- Senhor, deseja alguma coisa? pergunta a garçonete.

- Você está vendo aqueles três sentados ao meu lado?

- Não senhor, não tem ninguém aqui.

Totalmente descontrolado, Cláudio se levanta e sai correndo em direção da rodoviária.

Eis que as três figuras ainda sentadas a observar recebem a aproximação de uma outra figura. Um homem de terno preto e chapéu da mesma cor. Ele se senta ao lado dos três e diz: - Calma meus espectadores, a morte desse homem é inevitável, às vezes temos um pequeno atraso por algum imprevisto, mas ele não tem como escapar de seu destino, isso eu lhes garanto.

Ao parar na calçada esperando o sinal fechar, um caminhão com barras de ferro se desgoverna e uma das barras desprende-se da amarradura atigindo Cláudio na cabeça.

O homem de preto diz: - Viram? não lhes disse?

A senhora diz: Podemos ir agora? Temos mais uma morte para assistir como o senhor mesmo nos disse.

O homem de preto responde: - Claro, me acompanhem.

O senhor pergunta: - A próxima morte será a da mulher que irá se suicidar por que este homem não irá aparecer?

O homem de preto responde: - Não, ela viverá até os 72 anos e morrerá em sua cama rodeada de 4 filhos e seis netos.

- Vamos ao encontro de uma mulher que será esfaqueada e esquartejada daqui a pouco.

Ao passar pelo corpo de Cláudio, a moça olha fixamente para aquela criatura desfigurada esparramada ao chão e diz: - Sabe, algumas mulheres realmente tem coragem de cumprir o que prometem. Eu esperava o meu amado e como você ele não veio, dei um tiro em minha cabeça.

Levantando seu chapéu e mostrando o buraco que a bala causara em seu crânio.

Os quatro passam por cima do corpo de Cláudio já rodeado pela multidão e somem em pleno ar.

Já o espírito de Cláudio, levanta-se e ao ver pessoas ao seu redor sai correndo de encontro a rodoviária, afinal ele tem horário marcado com sua amante...