O VESTIDO VIOLETA

HISTÓRIAS DE NOSSA LOUVEIRA

Luizinha era uma jovem muito pobre, que residia nesta cidade, lá pelos idos de 1960, numa casinha simples, no sítio de propriedade do senhor Antônio X., juntamente com seus pais e três irmãos, que trabalhavam na lavoura.

Como toda jovem de 18 anos, Luizinha tinha seus sonhos de moça: ser cortejada por um belo rapaz, namorar, noivar, casar e ter um casal de filhos. Ser feliz e deixar de morar no sítio, para residir na cidade, lugar onde tinha muitas casas e pessoas que passeavam pelas ruas.

Seu único divertimento, se é assim que se pode chamar, era , aos domingos pela manhã, tomar seu banho, vestir seu melhorzinho vestido de chita e ir à missa, na Igreja do Bairro de Corrupira, mais próxima de onde residia.

Lá, assistia à missa, devotadamente, observava as demais jovens, sempre bem vestidas e os rapazes sorridentes...

O padre, que conhecia aquela família de há muito tempo, num determinado domingo, logo após a missa, chamou por Luizinha:

- Luizinha, minha filha...No próximo domingo vamos realizar aqui no salão paroquial um bazar para as obras da Igreja. Muitas roupas bonitas estarão sendo vendidas. Se puder, venha com sua família...Poderá comprar qualquer peça de roupa muito baratinho...

Luizinha prometeu que falaria com sua mãe. Despediu-se e foi para casa, caminhando devagar, observando a tudo e a todos.

No domingo seguinte, à hora do bazar, Luizinha lá estava, sozinha, uma vez que seus pais não quiseram comparecer. Muita gente adquirindo peças de roupas, algazarra de crianças, barulho, música e risos. Num determinado momento, os olhos de Luizinha se encantaram : de uma banca, um lindo vestido de baile, cor de violeta despontava. A jovem correu, agarrou o vestido com ambas as mãos e saiu em louca disparada.

Não compareceu mais à Igreja...Mas num sábado, ao saber de um baile que haveria nesta cidade, Luizinha vestiu-se com aquele encantador vestido e sem que seus pais e irmãos soubessem, altas horas da noite, ela saiu de casa sorrateiramente e foi para a estrada, afim de se dirigir ao local onde se realizaria o baile.

A estrada estava escura, iluminada apenas pelo clarão da lua, que brilhava no céu. Começou a caminhar lentamente, sozinha, na escuridão reinante.

Em determinada curva, talvez pela escuridão existente ou ofuscada pelo intenso brilho de dois faróis, Luizinha foi atropelada e deixada, pelo desconhecido e desumano motorista, jogada à beira da estrada.

Seu corpo jovem ali ficou até a manhã seguinte, quando a encontraram , vestindo aquele bonito e desconhecido vestido de baile.

E por muitos anos, muitas pessoas juram ter visto, altas horas da noite, na estrada de Corrupira à Louveira, caminhando pela beira da mesma, de olhos baixos, uma jovem trajando lindo vestido de noite, cor de violeta, a procura de um baile nunca antes freqüentado.

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 23/05/2009
Código do texto: T1609763
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