OS MORCEGOS

Chico era um rapaz trabalhador e lutava com a vida, de sol a sol, fosse num cabo de enxada, numa roça de café, manejando uma foice ou mesmo um machado nos cafundó do sertão.

Ele era mesmo um caboclo lutador, forte, desses que não enjeitam trabalho, nada lhes faz medo, enfrenta tudo e sempre com um sorriso nos lábios, pois esta era a única vida que sempre conhecera, desde menino.

Ainda com todos esses afazeres, Chico arrumava um tempinho pra sua viola e tão bem a dedilhava e cantava, que era sempre convidado prá alegrar as festas da redondeza.

E foi numa dessas festinhas, que o Chico sorridente e forte conheceu a Maria Rita. Menina bonita, de sorriso brejeiro e olhos negros...a pele morena e cheiro de fruta do mato.

Se casaram tempos depois e foram morar numa casinha perto da divisa de Louveira e Itatiba.

Depois que nasceu o primeiro filho do casal, Chico deu para voltar a cantar nas festinhas e nos bares de beira de estrada, passando noites fora de casa, somente regressando no outro dia.

Maria Rita começou a sentir um ciúme danado. E seu ciúme era tão grande pôr ver o marido passar noites fora de casa e voltar constantemente embriagado, que começou a beber também.

Garrafão de pinga era o que não faltava na humilde casinha de Chico e Maria Rita...Bebiam juntos...brigavam...dormiam...E assim iam passando os dias, agora tristes para aquele casal tão feliz outrora.

Uma noite que Chico não saiu para cantar, beberam a mais não poder ! O calor estava insuportável...eles estavam bêbados, deitados na cama de colchão de palha e pôr mais que tentassem não conseguiam dormir.

Um virava para um lado, o outro virava prá outro e as horas iam passando...

Foi quando num certo momento, o Chico falou prá Maria Rita :

- Levanta e abri a janela prá modi entrá um poco di vento !

A coitada se levanto cambaleando pelo efeito do álcool, abriu a janela e voltou para a cama.

Dentro em pouco os dois dormiram a sono solto !

No dia seguinte, quando a primeira luz do sol entrou na humilde casinha de Chico e Maria Rita, através da janela aberta, o Chico acordou e ficou todo arrepiado. Esbugalhou os olhos e deu um grito medonho que mais parecia um bicho do mato do que gente !

Em cima do corpinho do filhinho, que dormia numa esteira, estavam dezenas de morcegos !

Com o grito, o bando de morcegos voou pela janela, deixando um rastro de sangue naquele chão de terra batida.

Quando os dois infelizes pais socorreram aquela pobre criança já era tarde demais. O anjinho não tinha nenhuma gota de sangue...Estava morto !

E a partir desse dia, Chico e Maria Rita deixaram a casinha outrora tão feliz e sempre bebendo, cada vez mais, passaram a vagar pelo mundo, como indigentes, de cidade em cidade...

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Dia 22 de Agosto - Dia do Escritor Louveirense

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 27/05/2009
Código do texto: T1617877
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