"FROM TO HELL"

Marcelo foi ao telefone imaginando do que se tratava. “Em dez minutos estou aí.” Disse com um sorriso que unia as extremidades de sua face. Era Angélica. Não. Não é o que está pensando. Não era uma namorada, uma amante... Tampouco um encontro casual. Era moça bonita, mas Marcelo não pode reparar. Sua atenção estava voltada ao carro adquirido na concessionária onde ela era secretária. Avisou um dos sócios, e partiu com rapidez, relembrando pelo caminho, das conquistas obtidas até ali, e principalmente da conta que lhe proporcionava tal aquisição, e o crescimento meteórico da agência.

Quando se tem dinheiro ás portas são destrancadas com rapidez. Assim quando Marcelo chegou à concessionária, dois atendentes o recepcionaram com um sorriso de certa forma forçado. Mas era necessário. Em tempos de compras em prestações longínquas, raro os que pagavam no ato pelo bem adquirido. No entanto o jovem de pouco mais de trinta não notava a atenção estava noutro foco.

Um C4, cor prata estava ali, a sua disposição. Todo seu. Elegante, e ao mesmo tempo esportivo. As rodas em liga que ele escolhera. Uma estrela com cinco pontas, reluzindo de tão nova. Apressou o vendedor. Queria sem demora curtir os cento e cinqüenta e um cavalos desfilando pelo asfalto irregular da cidade.

Ostentando as chaves e o papel que lhe conferiam propriedade, entrou enveredado no volante. Tal qual um criança quando ganha um novo brinquedo, sentia-se Marcelo, aspirando o cheiro do plástico que cobria o couro dos bancos. Cheiro de carro novo. Exultava!

Deu partida, e deixou-se envolver pelo prazer de guiar aquele carro. A cidade parecia paralisada para vê-lo cruzar. Sentia os milhares de olhos em sua direção. Sorria. Sorria. E sorria. Seu coração transbordava em alegria e realização. Deslizava suas mãos como fazia nos corpos das prostitutas voluptuosas com quem gastava boa parte do que ganhava.

Ligou o rádio. Tocou o arquivo “stairwaytoheaven.mp3”. Rock. Nostálgico. Clássico. Marcelo gostava do som que ouvia. Encantava-lhe a sonoridade da música com as paisagens sendo cortadas por ele e seu novo veículo. A cidade era de fundia ao horizonte que cada vez mais distante ficava em seu retrovisor. Mas ele não notava isto. Tampouco por onde andava. Apenas o design e os detalhes do carro lhe prendiam a atenção. Nem a solidão da estrada por qual iniciava trajeto lhe dera sinal que algo de estranho acontecia. O deserto misterioso que o cercava passava despercebido de seus olhos, que só notou a diferença quando as travas elétricas acionaram por conta própria. No rádio percebeu que há tempos a mesma música tocava. Tentou trocar... Mudar para uma estação... Desligá-lo. Não funcionava. A mesma música, que de estimulante, trazia-lhe então medo e opressão.

Atinou então em prestar atenção na estrada. Na paisagem. Completamente insólita e estranha. Estava perdido, cogitou. Tentou para o carro, mas este não obedecia aos seus comandos. Seguia seu ritmo. 120 km/h marcava no velocímetro. A linha reta do asfalto disforme riscava até o infinito do horizonte, onde o nada lhe cercava coberto por uma abóboda alaranjada, que findava ao longe num ponto vermelho, como fosse o sol num poente. Um Som característico, “blip” levou sua atenção para o computador de bordo. Enfim descobriria onde estava. Aquele carro era perfeito. Seu destino não. Seus olhos congelaram, pois afinal, a máquina ostentava em letras digitais um destino assustador. No Computador, Marcelo podia ler a atemorizadora frase: “From to Hell”. Enfim seu destino lhe era revelado.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 18/09/2009
Código do texto: T1818335
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