O SEQUESTRO DE PAPAI NOEL

Eduardo Boom tinha doze anos. Ele ainda aguardava por uma visita naquela noite de 24 de dezembro. Tinha certeza que antes da meia-noite um velho gordo faria rapel na larga chaminé da lareira da sala. As luzes foram apagadas, e nada. Ele não veio. O jovem coberto pelas sombras olhava triste para o lugar onde esperava a chegada do bom velhinho. "Deve ter acontecido alguma coisa de errado." Pensou.

Eduardo era tido como um menino impaciente, logo sua resistência em crer que Papai Noel não viria, foi desfeita pelo ímpeto da curiosidade, e pela necessidade de crer que algo lhe havia ocorrido. Ele saiu pé por pé, e abriu a porta sorrateiramente como fazem os ladrões. Não queria que seus pais percebessem sua fuga.

Mesmo que muitos de seus colegas de escola tentassem fazer crê-lo que o homem que distribui presentes no natal não existe, ele insistia em não acreditar. "Todo ano ele me presenteia. Estão loucos, isso sim..." Quando ele abriu a porta, o bairro Grennland, estava deserto, sem um único ser vivo em suas ruas. As lâmpadas halógenas, e as iluminações natalinas desenhavam as siluetas dos sobrados que compunham a rua, reta, e longínqua.

Eduardo Boom desceu pela pequena escadaria, e logo avançou pela rua. Queria tentar ouvir o sino do trenó. Quem sabe o bom velhinho se atrasara naquela noite. "Afinal são muitas casas para ele visitar..." Na verdade algo incomodava o garoto, uma intuição. Algo lhe dizia que Papai Noel estava perto, mas...

Ele avistou uma pequena sombra no fim da rua. Estava distante há mais de meia milha. “Hum! Me parece que há movimento na casa dos Hamilton”. Os Hamilton era uma família muito estranha. De hábitos noturnos, pouco eram vistos durante o dia. Até mesmo á escola freqüentavam à noite, gerando vários boatos na vizinhança. Jamais participavam de encontros ou atividades sociais. Seus rostos eram vistos apenas em penumbra, verdadeiros desconhecidos... Muitos tinham medo dos Hamilton. Mas Eduardo sabia que estava acontecendo algo naquela noite de natal.

Corajoso o garoto começou a caminhar pela rua. A cada passo sua visão se estreitava e a imagem ia se tornando nítidas. “São animais... E uma charrete... Peraí... Não, não é uma charrete, é uma... uma... um trenó...” Os olhos de Eduardo brilhavam mais que as lâmpadas de natal. Ele inclusive pensou em voltar para casa, pois logo seria visitado. Mas então algo estranho ocorreu. A porta rangeu, e um estranho ser iluminado pela lua surgiu. Era peludo, alto, e ora andava sobre duas patas, ora sobre quatro, como um animal feroz. Ele se aproximou das renas, e pulou sobre seus pescoços, dilacerando a jugular de cada um dos animais. Não demorou para que um bando de lobos famintos se junta-se a ele.

“Os Hamilton são lobisomens!” Deduziu o jovem, preocupado com o destino de Papai Noel. Protegido atrás de um arbusto, ele ouviu uma das feras mencionar que depois do fim das renas chegaria a vez do velho. “Não posso deixar isso acontecer.” Eduardo estava resoluto e pouco tempo lhe restava. Lembrou-se da Igreja a duas quadras, correu até lá, e aos pontapés na porta, fez com que o Padre Jeff lhe atendesse. Sua forma apressada de contar os fatos fez com que o religioso nada compreendesse. Mas foi melhor assim, caso contrário ele não acreditaria.

O padre seguiu com o garoto, pois a única coisa a compreender é que algo acontecia na casa dos Hamilton. Só estranhou que o jovem surrupiasse dois litros de água benta e uma meia dúzia de crucifixos. Sem ser avisado ele arrombou a porta da gente.

No grande salão do velho sobrado um conclave de lobisomens cercava um velho gordo e barbudo, cheio de escoriações, por causa da tortura praticada pelos lobos. “Creio em Deus pai poderoso! Bradou o padre”. Os seres meio animais, meio gente viraram seus olhares para os invasores, grunhindo seus dentes afiadíssimos.

Eram criaturas de aspecto horrendo. Corpos encurvados, e peludos. Focinhos graúdos, e olhos malignos e flamejantes. Amargurados pela maldição que carregavam, haviam planejado acabar com felicidade do natal. Obviamente o método mais fácil seria acabar com a raça de Papai Noel. Mas para azar dos lobisomens seu caminho foi cruzado por um jovem obstinado, que fez um spray da água benta sobre os lobos fazendo derreter sua pelagem. A cada vez que encostavam os crucifixos sobre os corpos, às feras se queimavam como tocadas pelo fogo. Foi uma batalha árdua, mas mesmo que sobrassem alguns monstros, o padre e o garoto resgataram, e saíram em disparada pela rua, salvando o natal de muita gente... Até que foram interceptados por um bando de vampiros que não se alimentavam de sangue por um bom tempo.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 14/12/2009
Código do texto: T1977397
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