Violet Hill.

Quando acordei já estava envolto pelo frio. Mesmo com a decorrente quantidade de agasalho que me cobria eu tremia energicamente. Sua proteção era supérflua. Em vão.

Meus dedos já esbranquiçados agora não se mexiam mais. Estavam estáticos. Ardentes. Tinha a certeza de que meu sangue coagulava ainda dentro de mim. Parava cada vez mais longe de meu coração.

Meus pulmões ardiam interruptamente a cada vez que o ar entrava ou saía por minhas narinas. Minhas pupilas dilataram-se, pareciam enormes bolas de gude.

A porta está aberta, e um sopro do vento gelado me comprometeu ainda mais os movimentos. Aquele incessante chiado de vento irritava-me.

Tirei as luvas que agora de nada surtiam efeito. Esfreguei minhas mãos umas nas outras na tentativa inútil de esquentá-las. Tentei me acostumar com a idéia de passar algumas horas ali, mas esse furtivo pensamento logo foi embora.

Quando seu destino é arquitetado por um bando de hipócritas seria melhor que você permanecesse em silêncio. Quando tudo virou uma catedral e o lobo virou Deus é melhor se agarrar a uma bíblia com toda a fé que possui. Elevar a cruz acima do coração, e rezar para manter-se honrado.

Nada de implorar pela vida, vou desengatilhar meu rifle e lutar por ela. Lutar enquanto me restarem forças, não vou ser o mártir de um navio sem rumo.

Ouço batendo no telhado escuro os granizos atirados pela tempestade. Pela janela eu observava a vasta imensidão branca. Esta que se contradizia com as nuvens pintadas de negro. O céu parecia desabar sobre meu corpo, parecia se desfazer em forma de pequenos cristais de gelo.

Um solitário e escuro dezembro; rangendo os dentes de frio e gangrenando parte a parte o corpo... É essa a sensação de um coma em Violet Hill...