A maldição da cigana

Ele sempre achou que ciganos eram uma praga e que deviam ser caçados e eliminados.

Seres sujos que davam nojo, pedindo dinheiro com seus dentes de ouro e roupas multicoloridas e aquelas crianças com nariz escorrendo.

Sempre cruzavam com eles em toda rodoviária por onde ele passava.

Queriam ler sua mão, vender alguma corrente e coisa do tipo.

Ele sempre os enxotava.

Para sua infelicidade em uma de suas viagens, uma cigana, diferente das outras por estar limpa, se aproximou dele e queria ler sua mão.

Ele não soube dizer não. Estendeu-lhe a mão.

Encantado com a beleza da cigana, nem prestou atenção ao que ela dizia.

Estava meio que em transe quando ela terminou. Ficou ali abobado sem dizer nada por alguns instantes.

De repente ele volta a si ao ouvir alguém chamando pela linda cigana.

Ela se despede e sai andando rapidamente. Ele vai atras. Antes de chegar à rua ele a segura pelos braços. Do outro lado alguns ciganos a esperam e quando o veem segurando-a, correm sem mesmo olharem o farol.

Movimentos, gritos, choro, automóveis, policiais, ambulância. Morte;

O pai. Atropelado. A jovem cigana chora e olha para ele. Uma senhora bem idosa se aproxima e olha nos seus olhos. Ela cita umas palavras em uma lingua estranha que ele não entende, mas que sabe que não é nada de bom.

Todos se vão. Ele volta para casa. Já é tarde. Vai dormir.

Acorda assutado. Sonhou com o atropelamento e com a velha.

Ele sente uma dormencia pelo corpo. Sente cheiro de flores, aquele cheiro típico de funerais.

Passa o dia todo com esse cheiro o acompanhando.

Quando sai para almoçar, ele vê aquela velha cigana a observa-lo de longe com ódio no olhar.

Volta pra casa. Vai para o banho e ao se olhar no espelho nota sua pele com um tom pálido, quase beirando o cinza, e com olheiras enormes.

Ele está frio. E o cheiro agora é de morte.

Acorda e vai ao trabalho. Ele está péssimo.

Na hora do almoço ele sai, precisa encontrar a jovem cigana e descobrir o que houve.

Ele a encontra e relata o que houve.

Ela então lhe diz que havia alertado a ele quando lia sua mão sobre causar a morte de um cigano e da consequência que isso traria.

A velha cigana era sua avó e o amaldiçoou para que mesmo vivo ele já sentisse como morto.

A jovem cigana que agora não parecia tão linda e diferente, com suas roupas coloridas, seus dentes de ouro e seu cheiro nauseante pede para que ele coloque seus dedos sobre o pulso e sinta por ele mesmo.

Seus olhos se arregalam ao perceber que seu pulso está quse inaudível, ele está morrendo em vida. A cigana já não está mais perto dele, só o cheiro dela.

Ele perde o rumo, perde o chão, fica olhando ao léu e sai sem olhar para onde.

E se vai para o meio da rua movimentada para ter o mesmo destino do pai da linda cigana.

E do outro lado da rua, estão lá, a linda cigana e sua família, apenas olhando o destino se cumprir.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 19/01/2010
Reeditado em 19/01/2010
Código do texto: T2039532
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