O pomar

Ele sempre gostou de fazer caminhadas, principalmente entre bosques e florestas

Era periíodo de férias e resolveu viajar até a pequena cidade do interior onde viviam seus avós.

Quase cinco horas de ônibus mas as paisagens valiam a pena, plantações, rios, vales e riachos.

E muito verde a ar puro.

Há 3 anos não conseguia tirar férias e voltar a ver os avós.

Estava ansioso.

Foi recebido na pequena rodoviária com festa e alegria. Beijos e abraços.

Seu avô, apesar da idade, ainda dirigia muito bem, e foram conversando até chegarem ao sítio onde moravam.

No segundo dia das férias resolveu sair para caminhar pelas trilhas que ele conhecia tão bem desde seus tempos de infância.

A princípio tudo lhe pareceu familiar, mas depois de meia hora de caminhada, tudo pareceu ficar diferente.

As árvores pareceram bem maiores, mais escuras e assustadoras, e a trilha parecia se estreitar a cada passo.

Em pouco tempo notou que estava completamente perdido.

O tempo foi passando bem rápido, e começou a escurecer.

Não se desesperou, tentou voltar , sem êxito.

Sentiu fome.

Notou algumas árvores frutíferas, porém não conseguiu definir que frutas eram., mas viu que estavam maduras e exalavam um cheiro muito bom.

Dava para ver que algumas haviam sido bicadas por aves, indicando portanto que não eram venenosas, e como sentia fome, colheu uma, sentou-se junto ao tronco e saboreou-a, sentindo sua polpa macia e suculenta de um sabor único.

Estranhamente sentiu um sono profundo e inesperado, que não conseguiu controlar.

Dormiu.

Ao abrir os olhos, viu-se em amplo pomar com árvores carregadas de frutas.

Aproximando-se notou com espanto o estranho formato das frutas, eram fetos. Fetos vivos, se movendo, algumas frutas apresentavam rachaduras, de onde vertia um líquido viscoso, transparente e mesclado com algo que parecia sangue.

Seu estômago deu um nó ao notar que a fruta que havia acabado de comer era uma delas e ainda estava segurando em sua mão agora lambuzada com aquela gosma.

Jogou imediatamente ao chão.

O pomar se extendia á perder de vista.

Ao redor dos troncos notou um líquido negro.

Viu algumas pessoas com amplos chapéus e com estranhos regadores de onde saiam pequenas mangueiras e seguiam até se introduzirem nas costas dos "jardineiros", bem na região lombar.

Pela distâmcia em que se encontrava, não coseguia definir exatamente o que eram aquelas coisas.

Aproximou-se.

Abriu a boca mas nenhum som saiu. Estava paralisado ao ver que o líquido que caia dos regadores era sangue, sangue que saia direto do corpo das pessoas que carregavam os regadores.

Imobilizado, assustado e em pânico tentou se virar e correr.

Foi visto pelos "jardineiros" que o olharam fixamente. Foi quando ele notou que eram deformados, sem bocas e sem olhos, apenas dois buracos negros onde deveria existir olhos.

Muitos outros surgiram, agarraram-no.

Abriram uma cova onde enfiaram seus pés, cobrindo com terra e regando com sangue até sentir que seus pés estavam molhados com o líquido quente.

Ele sentiu seus pés se enraizarem ao solo. Suas pernas e braços se transformando em tronco e galhos.

Não conseguia gritar ou se mover.

Sentiu flores e folhas surgirem.

As flores se transformando e gerando frutas.

Frutas fetos.

Desesperado, viu pessoas colhendo frutas, a dor ao ser arrancada.

Um gemido mudo. Uma dor sufocada.

A noite, o dia, a noite e o dia novamente.

Sente alguém segurando seu galho e balançando.

Ouve alguém o chamando pelo nome.

Acorda e está sentado junto ao tronco.

À sua frente seus avós olhando para ele pacientemente.

- Estamos te procurando há 3 dias. Vamos para casa, venha.

Ele nota que a fruta com algumas mordidas ainda está em sua mao e de onde sai algumas larvas .

Joga ao chão e se levanta.

Para ele parece ter se passado apenas alguns minutos.

- Vamos, e não fique comendo frutas que você não conhece. Podem fazer mal.

Era a voz de sua avó olhando para seu avô.

Ele acompanha seus avós.

Ao olhar para trás, vê o pomar e os "jardineiros" com seus regadores e grandes chapéus,

Acenam para ele.

Ele nota também uma cova vazia.....

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 31/01/2010
Reeditado em 06/09/2010
Código do texto: T2061714
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.