A garota do cemitério

Desde que seus pais morreram naquela acidente em somente ela sobreviveu, Clara passou a frequentar cemitérios.

Começou por aquele onde sua família foi sepultada.

Passava horas sentada no túmulo, conversando com pessoas que ninguém nunca via.

Às vezes ris, às vezes chorava.

Depois passou a ficar mais tempo, a visitar outros túmulos.

Fez amizade com os funcionários que acabavam tranacando os portões no final da tarde e fazendo de conta que não a via ficar lá dentro.

Muitas vezes ela dormia lá.

E quando os homens do cemitério, que era como ela chamava os funcionários chegavam, ela já estava acorda e esperando por eles no portão.

Começou então a visitar outros cemitérios, mas sempre voltava para dormir junto com sua família.

O tempo passou e certo dia ela notou quando estava saindo, um jovem muito bonito entrando com flores vivas nas mãos.

Seus olhares se cruzaram. Um sorriso discreto.

Ela saiu e só voltou bem à tarde.

Novamente o jovem saindo, sem as flores mas com o mesmo sorriso.

Novo dia, novo encontro. Nova troca de olhares. Novo sorriso.

Vários dias se passaram assim, até que um dia ela o cumprimentou e perguntou se podia acompanhá-lo até o túmulo que ele visitava. Ele permitiu.

Era um túmulo já bem antigo, sem vasos e já quase não se conseguia ler as inscrições.

Ela perguntou quem estava lá. Ele relutou em dizer.

Ela entendeu e não insistiu.

Ele olhou para ela com os olhos já prontos para chorar, mas segurou.

Disse então que ele estava ali, já há muitos anos.

E que um dia a vira sentanda sobre seu túmulo e deixando algumas flores.

E sem que ela notasse, ele estava bem ao lado dela e seus olhos se cruzaram.

E nesse dia ele se apaixonara.

E a partir desse dia todos os dias ele tentava ser visto por ela.

Até que numa manhã o que ele tanto esperava aconteceu.

Seus olhares se cruzaram novamente e ela o viu.

E nesse dia ela também se apaixonou por ele.

E mesmo mesmo em planos diferentes foram correspondidos.

E até hoje ela sempre está pelo cemitério.

Todos a veem sozinha, andando e conversando, rindo e chorando.

Acham que ela enlouqueceu de vez.

Mas Clara sabe que não está sozinha.

E sabe que um dia estará no mesmo plano que seus pais.

E de seu amor eterno.

Um dia....

E ela espera ansiosa por esse dia...

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 02/02/2010
Código do texto: T2064949
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