O OUTRO LADO DA PONTE

Aquela senhora era incansável.Mas o que levava ela a se dedicar tanto àquele trabalho?

O que teria lá do outro lado daquela ponte que todos começaram a passar com freqüência.Ela nunca tinha notado que a tal ponte era tão utilizada por andarilhos e forasteiros e que as vezes formavam até filas querendo atravessá-la,principalmente no cair da noite,onde o fluxo de pessoas aumentava.

Ela morava sozinha num casebre próximo a uma ponte que ligava a cidade à rodovia.Era a única moradia das redondezas,totalmente isolada da cidade,sem luz elétrica e ainda com água de poço,amplo quintal,criação de galinhas e porcos.Ela passava todas as horas do dia e da noite ali na cabeceira da ponte,clareada apenas por uma velha lamparina a querosene que levava,cumprimentando a todos os forasteiros que vinham atravessar aquela ponte.

As pessoas passavam e ela simplesmente os saudava com acenos e cumprimentos calorosos desejando-lhes boas vindas.

Conta-se que seu marido era caminhoneiro e passava quase todo o tempo na estrada e desde sua última viagem que já faziam meses ela ansiosa por revê-lo passou a ficar ali na entrada da ponte,esperando a volta de seu companheiro.

Mas os dias iam se passando e ela ali,sentada numa pedra,vestida num roto vestido estampado e um lenço sobre a cabeça,cumprimentando um a um que ali passava.

A todos que passavam ela fazia a mesma pergunta:

-Você viu meu marido parado ai por esta estrada? Ele dirige um caminhão azul claro,você viu? Ele pegou a estrada já faz tempo e até agora não voltou.

-Sabe,ele é muito especial para mim,eu o amo muito e estou com muita saudade..Não vejo a hora de revê-lo.Inclusive vou pedir que ele deixe essa vida de caminhoneiro e fique somente comigo para sempre,confidenciava ela.

Mas ninguém respondia à velha senhora,muito menos notavam a sua presença,passavam por ela sem sequer olha-la,sem ao menos nota-la.Mas ela continuava firme ali,dia após dia,noite após noite,com frio ou chuva.

E seu marido caminhoneiro,nada,não chegava.

Numa noite dessas,já bem tarde aproxima-se um homem com fisionomia sóbria , bem vestido e após a senhora perguntar-lhe sobre seu marido o homem olha-a com atenção e uma certa dose de carinho e lhe responde para sua surpresa,pois nesse tempo todo que ficara ali na beirada da ponte ninguém lhe dirigiu a palavra.

-Sim,eu o vi.Ele está bem.

- E onde ele está,moço,porque não volta para casa? Questiona ela.

-No momento só posso dizer que ele está bem e que aguarda a senhora ansiosamente,fala o estranho.

-Mas onde?

- No outro lado da ponte,minha senhora, e continua:

- Sim,ele está lhe aguardando no outro lado da ponte,mas se a senhora quiser vê-lo terá que ir agora mesmo pois esta ponte será fechada logo depois que eu passar.Estão vindo logo aí atrás para fecha-la .

-Mas, e para voltar-mos,como faremos,sem a ponte?

-Não será possível voltar.

- Então tenho que ir até em casa e pegar alguns pertences,disse ela meio desconsertada.

-Não temos mais tempo.A senhora terá que decidir imediatamente,completa ele em tom sério.

- Está bem,então vamos,seja o que Deus quiser.Meu marido é a coisa mais importante que tenho nesse mundo e por ele eu faço qualquer sacrifício,finaliza ela,com lágrimas nos olhos.

O homem então estende o braço em direção à pobre senhora para ajudá-la a levantar-se e os dois partem em direção ao outro lado da ponte.

Ao chegarem bem próximo ao início da travessia ela não pode deixar de reparar no acostamento da rodovia uma cruz encravada no chão.

Enquanto caminhava,olhou a cruz atentamente e chocou-se quando viu seu nome escrito nela e uma inscrição pendurada que dizia:

“Aqui jaz Maria . Nesse lugar ela foi atropelada e morta por um caminhão azul “...

Carlos Alberto Omena
Enviado por Carlos Alberto Omena em 06/04/2010
Código do texto: T2180323
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