AMALDIÇOADA

Foi amor à primeira vista. Uma força impossível de repelir. Sua beleza era incomparável, até mesmo para os padrões mais exigentes, como o meu. Ela exalava um ar jovial, apesar de não abrir mão da aristocracia própria de sua linhagem. No encontro marcado, seus olhos roubaram minha atenção com uma luz tênue e magnética que contrastava com a beleza fria dos demais traços da simétrica fisionomia apresentada.

Irrompi com incontido entusiasmo pelos limites de sua boca, fui absorvido completamente pela essência de seu existir. Foi uma experiência única, como jamais havia imaginado, fui dominado pela volúpia do momento. Mas, de maneira tão repentina quanto o impacto da impressão inicial, senti a mudança na vontade daquela que me possuía. Uma vez me mantendo como seu prisioneiro, tratou de extinguir a luminosidade branda que havia me cativado. Trevas vivas me abraçaram, e com um prazer doentio passaram a torturar não somente meu corpo, elas dilaceravam com açoites violentos a minha alma.

As janelas, como as pálpebras de um morto, estavam cerradas. A suntuosa porta, como os lábios de uma testemunha amedrontada, estava selada. Não havia escapatória. Da mesma maneira que a carne de uma presa é absorvida pelo aparelho digestivo do predador, eu sentia meu corpo ser triturado pelas paredes espessas e frias do estômago daquela casa. Maldita casa! Como um tolo fui seduzido por seus encantos e agora pereço na danação eterna de sua maldição.

*Miniconto classificado em segundo lugar no Concurso promovido pelo blog Masmorra do Terror, do escritor Lino França Jr.

http://www.masmorradoterror.blogspot.com

Flávio de Souza
Enviado por Flávio de Souza em 02/05/2010
Código do texto: T2232658
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