O túmulo do diabo
 
Era um antigo cemitério, folhas mortas espalhadas no chão, árvores centenárias, e a melancólica via, que levava à parte de trás dele, e lá mais ao fundo fazia uma leve curva e desaparecia.
Apesar de velho, mantinha a imponência com grandes mausoléus enegrecidos pelo tempo e exibiam placas com antigos nomes conhecidos e outros que jamais haviam sido vistos pelas antigas gerações.
Nomes como de Alexander, Maisha, eram desconhecidos daquela gente, rezam as lendas que teriam sidos trazidos do oriente durante a gripe espanhola e enterrados longe das grandes cidades, e naquela época este lugar era nada mais que um amontoado de 8 casas de agricultores.
Depois com o passar dos anos a vila foi desenvolvendo e tornou-se uma pequena cidade, com os contratempos e benefícios da vida moderna, mas conservou o cemitério, pois sempre enterrou seus mortos ali.
A rua em frente ao campo santo era sem saída, com a rua rodeada de árvores que uniam-se no ar dando um aspecto mais sinistro ainda para a rua.
Nas noites de lua nova, viam-se clarões do lado de dentro do alto muro de 3 metros, e lamentos que cruzavam a madrugada e que só terminavam quando a neblina da manhã encobria tudo, proporcionando a quem olhava a beleza tétrica de uma aquarela saída de outra dimensão.
O alto portão de ferro lembrava tristemente a todos que ali morava a morte e queria viver em paz.
E uma paz maior proporcionava ao cemitério o velho coveiro que distante 30 metros da frente do portão, do outro lado da rua, tinha a sua casinha, onde vivia só desde que há 30 anos perdeu sua companheira.
Uma longa cabeleira grisalha, barbas longas também acinzentadas, e uma cadeira de balanço que lhe embalou a vida nos últimos 60 anos, ali naquele local.
Eram raras as pessoas que vinham visitar o cemitério e seus moradores, e em dias de enterro, o velho coveiro, levantava cedo, escolhia um lugar apara enterrar o defunto, avisava algum parente e não era mais visto ali, no entanto no cair da noite daquele dia, ouviam-se vozes por entre os antigos mausoléus, que invadiam a madrugada com lamentos e cânticos em voz quase imperceptível.
Havia uma lenda no povoado de que grandes nobres haviam sido enterrados naquele cemitério com suas riquezas, mas era incerto o destino de quem se apossasse do tesouro ali enterrado.
Tervel Hristo, um antigo anarquista, já nos seus 37 anos, era um homem ateu, descrente em tudo, e quando lhe diziam sobre estas lendas, ria com desprezo, provocando muitas vezes a ira dos seus compatriotas, pois naquele país estas lendas eram como manifestações culturais do povo, e desrespeitá-las era como uma ofensa irreparável.
Nas suas longas seções de consumo de ópio asiático, haxixe e vodka, Tervel, insinuava que o seu sonho era entrar no campo santo e de lá sair rico, com todos os tesouros ali enterrados, e depois ironizava os próprios pensamentos, os desacreditando.
No intimo Tervel sempre sonhou com isso, apesar de em publico desdizer.
O inverno terminara, e agora a rua em frente e a passarela por dentro do cemitério estavam forradas de flores amarelas, um leve perfume, encobria o constante odor de mofo vindo dos velhos mausoléus.
A noite da primavera do oriente trouxe as rua a figura cambaleante de Tervel, ainda com um fino cigarro de haxixe na boca, e um olhar demente de quem vive o seu
inferno em vida.
____Hummm, rsrsrsrsrs, é esta a rua, rsrsrsrsrsr...
____Se o velho aparecer... O coveiro sujoooo...? Eu mato... rsrsrsrsrsrs
____Ali a casinha dele, ta toda aberta, mas onde ele foi...? Sossegou e atravessou a rua.
____Ok, vamos ver o que tem atrás desse portão...
Desnorteado e sem saber ao certo onde estava indo, Tervel tirou um pequeno frasco do bolso e ingeriu a vodka restante, deu mais umas 3 tragadas de cigarro de haxixe
chutou o portão e entrou...
Com os olhos esbugalhados ele percorria com uns olhares insanos, os grandes mausoléus e os pequenos túmulos também.
Em dado momento, num flash de lucidez viu duas palmas douradas se sobressaindo em um tumulo, esgueirou-se por entre os túmulos e avidamente agarrou as palmas
fazendo um profundo corte na mão, mas assim mesmo as pegou e longamente as admirou, as amassou e enfiou no bolso.
____Deve ter muito mais ouro aqui, rsrsrsrsrsrsrssr, é meu, tudo meu...
A loucura o levou para um pequeno ponto de luz num dos cantos do cemitério, onde o brilho de algo devia ser o que procurava a sua mente doentia.
Novamente esgueirou-se entre os altos mausoléus e finalmente estava diante daquele pequeno túmulo.
Era negro, inscrições estranhas, e o principal, flores e folhas artificiais douradas, reluzentes aos olhos de Tervel...
5, 4, 3, 2, 1 metro de distancia do túmulo, apesar de estar totalmente drogado e embriagado, um calor intenso tomou seu rosto, e após, uma força sobrenatural, ia fazendo sumir de seus pés a terra, e o fazendo deslizar para o lado do tumulo e para o fundo, um longo grito de terror encheu o ar com maldições e lamentações...
Depois o silencio, fez o vento redemoinhar na sinistra madrugada.
No dia seguinte, depois da neblina levantar-se, a figura pacata do coveiro, espalhava folhas de palmas em cima de um tumulo e arrumava a terra e plantava flores em outro a espera de novos visitantes, descrentes da existência de um senhor do mal...
 
Malgaxe
 
 
 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 03/06/2010
Reeditado em 11/01/2011
Código do texto: T2297362
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