O gato preto

Depois que me tornei adulto, sempre vivi sozinho.

Ia do trabalho para casa, e vice versa, pouco saia, ficava hora lendo e escrevendo.

Nunca tive amigos de verdade e nem inimigos, bem, não que eu soubesse.

Algumas raras vezes fui à uma taverna no final da rua, tomar algumas cervejas e jogar conversa fora, mas pouquissimas vezes.

Até porque eu tinha muita dificuldade em me relacionar com pessoas.

Mas minha vida estava bem assim como estava.

Em uma dessas minhas idas à taverna, quando retornava para casa, notei durante o percurso que algo me seguia, não sei dizer em que ponto ele passou a me seguir.

Confesso que o barulho que ele fazia ao andar por sobre o lixo que se acumulava pelas causadas me assustava.

Não coneguia ve-lo devido á iluminação precária das ruas, mas um miado sinistro o revelou, um gato.

Sim, um gato negro e grande me seguia.

Um gato. Nunca tive nenhum animal de estimação e como ele me seguia resolvi adotá-lo.

Ao chegar em minha casa, um velho sobrado que herdei de meus pais já bem antigo e com mais cômodos do que eu pecisava, o gato negro, me ultrapassou e entrou antes que eu pusesse meus pés dentro da sala.

Até parecia que me conhecia e conhecia também sua nova casa.

Acendi algumas luzes e para minha surpresa e susto, consegui ver quão grande era o gato e algo que lhe faltava me deu uma sensação estranha e medo, no lugar onde deveria estar seu olho esquerdo havia apenas uma cavidade.

Mas apesar disso era muito meigo e se pôs a se esfregar em minhas pernas como se pedisse para que não o expulsasse.

Fiquei com ele e ele se mostrou merecedor de minha amizade, estava sempre ali quando eu voltava do trabalho e sempre prestava atenção quando eu "conversava" com ele.

En função de sua aparência um tanto quanto assustadora dei-lhe o nome de Satanás. Ele até pareceu gostar do nome.

Em uma certa noite, nem sei bem porque mas resolvi dar um pulo na taverna, precisa dar uma arejada na mente.

Como sempre, entrei e me sentei em uma mesa ao fundo e pedi vinho.

Fiquei ali, apenas bebendo e pensando.

Até que notei uma moça de aproximando e se sentando na mesma mesa que eu.

Aparentava já estar alterada pelo vinho em excesso.

Nunca a tinha visto antes. E na verdade nem depois.

Ela disse que me conhecia, que tinha me visto outras vezes e que queria ser minha, queria que eu a levasse para casa.

Tentei explicar á ela que isso não fazia parte de meus princípios.

Não sei o porque e nem como, mas quando notei ela estava em pé, gritando e falando palavrões, me ofendendo gratuitamente.

De repente alguns homens já estavam em volta, e me olhando de modo recrimante. Me ofenderam de muitos modos, até que um grandalhão me pegou violentamente pelos braços e me jogou para fora.

Caido no chão, humilhado e com o ego estraçalhado, só vi um rosto no meio da turba, a tal moça me olhava com um olhar de ódio misturado com prazer.

Me levantei e fui pra casa.

Ao chagar, o gato veio me receber como sempre e ao me ver parecer desconcertado.

Me joguei no sofá e fiquei ali, ele se aninhou ao meu lado e comecei a relatar todo o ocorrido.

Disse a ele que gostaria que a tal moça, uma pessoa sem moral, uma moça da vida me pagasse pelo que me fez passar.

Não pela sua conduta moral, até porque a vida era dela e fizesse o que quisesse, mas pelo que fez passar.

Quando terminei de dizer isso, satanás se agitou, ficou inquieto e parecia dizer que queria sair. Nunca ele teve essa atitude, sempre dormiu sobre o sofá e muitas vezes até em minha cama, nos pés.

Percebi que não iria conseguir conte-lo em casa.

Abri a porta, ele me olhou, se esfregou em minhas pernas e saiu num salto para a rua, sumindo na penumbra da noite alta.

Me retirei e adormeci ali mesmo no sofá.

Quando o dia amanheceu e sol apareceu, acordei com os miados de satanás.

Abri a porta e para meu espanto ele estava todo sujo, principalemte suas unhas.

Sangue, suas unhas estavam todas sujas de sangue e sua boca também.

Imaginei que seu desejo de sair fosse motivado por alguma gata no cio ma vizinhança e que em função disso teria se envolvido em alguma briga com outro gato.

Como era domingo e não precisava ir trabalhar, resolvi dar uma volta.

Ao passar pela praça, notei algumas pessoas conversando, e precebi que o assunto parecia ser o centro das conversar do dia.

Ao me interar do assunto, fiquei petrificado, um arrepio tomou conta de meu corpo.

Naquela noite uma moça da taverma, havia sido assassinada.

Mas algo impressionada no crime cometido, nem tiros, nem facadas e nem um outro método.

Ela fora encontrada morta em sua cama, totalmente arranhada pelo corpo todo, com marcas de mordidas, algo nunca visto.

Algum animal a atacou de modo violento.

Mas um detalhe assustava ainda mais.

A moça além de banhada em seu próprio sangue também estava com o olho esquerdo arrancado, no lugar, apenas uma cavidade.

Eu soube nesse momento, exatamente onde satanás havia ido.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 20/06/2010
Reeditado em 20/06/2010
Código do texto: T2331456
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