Lycan II

Eu caminhava preocupado, as ruas eram por vezes ilumindas pelo clarão dos holofotes que vinham do alto, presos em helicópteros barulhentos, carros de patrulha circulavam a todo instante e tive que mostrar meus documentos e responder perguntas diversas vezes, aquilo me assustava.

Ainda era possível ver a carnificina naqueles quarteirões, vísceras, olhos, pedaços de cadáveres de todo tipo, córregos de água e sangue vagando em direção aos bueiros, o cheiro inconfundível da morte.

O corpo de bombeiros recolhia partes desses corpos, com escatológica ironia, imaginei quantos famintos poderiam ser saciados com as sobras de tal banquete, a besta havia saído pela uma última vez, era hora de parar, e eu seria sua testemunha.

Parei em frente a uma porta e acendi nervosamente um cigarro, quando julguei não estar sendo observado, entrei num antigo edifício.

Subi a escadaria imersa em escuridão, eu havia sido instruído para não usar elevador, cansado após cinco lances de escada, aproximei-me de uma porta e entrei.

Ela estava lá...

Num canto, sentada na cama eu só podia ver seus olhos brilhando no quarto negro.

- Aproxime-se cherrie!

Sentei-me a seu lado, ela tocou suavemente meu rosto, o contato de suas garras em minha pele deixou-me excitado.

Me contou ser a última de sua raça, que aos poucos foi caçada e exterminada pelos humanos e suas armas, que tentou viver discretamente entre os homens, mas que os anos passaram e a selvageria foi ficando incontrolável, a fome aumentando...

Por fim tudo explodiu, ela saiu pelas ruas embrutecida, e promoveu tamanha matança que agora atraíra muita atenção, estava sendo procurada, e logo a encontrariam, seria sacrificada impiedosamente, mas que antes de partir desejava compartilhar comigo um segredo.

Dito isso, me abraçou, puxou-me para junto dela, apesar de estar tranformada, não recusei seu corpo, suas garras arranhavam-me as costas enquanto eu a possuía, ou era possuído.

Notei que à medida que o orgasmo se aproximava ela voltava à sua forma humana, quando atingímos o ápice ela gritou e desfaleceu em meus braços, abracei-a e lhe falei algo ao ouvido, ela não respondia, demorei alguns minutos para perceber que estava morta.

Levantei rapidamente, um pouco triste, um pouco indignado, sentia-me usado como um último brinquedo sexual de uma lycan à beira da morte, e ao mesmo tempo apaixonado por ela.

Ao sair, pude ouvir passos violentos escada acima, me escondi no escuro enquanto um bando de soldados passava em direção ao quarto, ela havia sido descoberta.

Uma lágrima desceu quando ouvi os tiros, ela estava morta, mas assim mesmo seu corpo não fora respeitado, caminhei pelas ruas em meio à confusão, e nesse momento lembrei do segredo que ela havia me reservado, e não contara-me.

Sem ainda perceber, continuei caminhando enquanto meus caninos e unhas vagarosamente começavam a crescer!