Prisioneiros do ódio

Sim, o que eu faço é monstruoso, mas eu não me importo. Quero que ele sofra, que ele saiba o que é viver ao lado de alguém que lhe rouba a paz, vigia-o e o faz se sentir um lixo. Porque foi isso que ele fez comigo, dizendo-me diariamente palavras duras e desprovidas de amor e carinho. Oh, meu marido, eu o amei, acreditei que você seria o meu companheiro de uma vida, que lutaríamos e superaríamos juntos os desafios do cotidiano, fortalecendo-nos e apoiando-nos juntos. Mas não. Você, todos os dias, esmagou o meu espírito. Nada do que eu fazia era bom o suficiente para você, que, ao menor erro, dizia-me que eu era burra, que afundara num lamaçal ao casar comigo e que eu nada fazia que prestasse. Como fui me enganar tanto? Ou você só foi se revelar depois do casamento? Claro, após nos casarmos, você deve ter pensado que não precisava mais me conquistar. Então, para que usar uma máscara, não é?

Agora, o jogo se inverteu. Sou eu que lhe esmago o ser, faço-o ver o quanto você é horrível, desde o amanhecer até a hora de dormir. Não lhe dou paz. De nada adianta fechar os olhos ou tapar os ouvidos para fingir que não me ouve. Você ouve, querido marido, as minhas palavras ferinas, venenosas e que se entranham em seu subconsciente, lentamente, contaminando e destruindo a sua resistência. E eu rio, satisfeita. Vê o que você conseguiu? Matou quem eu fui, a pessoa boa e sensível que eu costumava ser. Chore, que não adiantará. Você não se importou com as muitas lágrimas que me fez derramar nem com o meu pesar. Você sempre foi cínico e debochou do meu sofrimento. Tratou tudo o que era importante para mim como coisa à-toa. Não fuja, não recorra às pílulas. Veja o que você me fez, monstro impiedoso e ordinário.

Você me fez afundar em depressão, nunca me apoiou, não me estimulou a crescer, mas me oprimiu e me prendeu, manipulando minha vida. Eu, cega, acreditei que nada valia e fui perdendo a vontade de lutar, de vencer, até que não aguentei e me matei, tomando um vidro de calmantes. Você chorou? Não sei. Sei apenas que me vi, morta, nua e pálida na cama, eu, presa no inferno pós-vida, ouvindo as almas que, como eu, haviam desistido de viver. Louca de ódio, vaguei entre eles e decidi: você não ficaria impune.

Por isso, querido marido, eu o atormento. Digo, no seu ouvido, tudo o que você me fez sofrer. Não pode me ver, mas sente minha presença e sabe que estou a seu lado, maldito covarde. Chore, diga que não pode ser minha alma cobrando o que você fez, mas que você está louco. Não adiantará.

Você pagará pela felicidade que me impediu de desfrutar em vida e que, nem na morte, poderei sentir.