O lobo - capítulo do livro de Tadeu, " Misterios de Monte Santo"

Trecho do meu livro, "O porão".

“ Muito do que lhes conto em minha obra, pode ser tido como meras lendas, contos inventados por um velho de imaginação indomável, que nada tem a fazer na vida, mas juro por tudo o que é mais sagrado, que as coisas das quais lhes falo, são reais. Meus olhos as viram, e só poderão estar errados, se a loucura tiver tomado parte de meu ser. Se assim fosse, com toda a certeza, eu já estaria passando os meus dias preso em um hóspicio qualquer, longe da sociedade, que considera tudo o que é diferente, sem sentido e toma-o como indício de falta de sanidade, enquanto finge não ver as horroridades que ocorrem em nosso mundo, em especial, na pequena cidade de Monte Santo, na qual habito desde sempre.

As coisas estranhas, costumam acontecer sempre que estou vagando sem rumo pela cidade, buscando algo interessante para passar o tempo. Quando estou em busca de respostas acerca das dimensões paralelas que convivem com a nossa realidade, nada de extravagante acontece, o que me é motivo de imensa frustação. E foi em um desses dias de tédio, que tive a sorte ( ou o azar, depende da concepção de cada um ), de deparar-me com algo do qual nem imaginava que existia. Para falar a verdade, a surpresa que sentia naquele momento, foi sem igual. Até hoje, não consigo me esquecer dos fatos que ocorreram naquela distante data.

Encontrava-me nos arredores da pequena mata que circunda Monte Santo, respirando ar livre, tentando apagar as preocupações da minha mente, como qualquer pessoa tenta fazer, quando chega a um nível de estresse insuportável. Caminhava tranquilamente, relaxando na medida em que apreciava a natureza presente naquele lugar, que graças aos céus, ainda sobrevive, apesar do maldito do prefeito, que em breve, acabará colocando-a a baixo, para realizar algum de seus empreendimentos suspeitos, como sempre faz, sem que ninguém proteste a respeito.

E ali eu estava, quase me esquecendo do que tanto me afligia, deliciando-me com o canto dos pássaros, admirando a perfeição encontrada em toda aquele vegetação, que apresentava a sua beleza de sempre. De súbito porém, minha atenção foi chamada por um ruído próximo. Algo passava pelas folhagens, pisando forte no solo, levantando uma pequena camada de poeira, que logo desaparecia no ar. Fui certificar a origem daquele estranho som, sentindo-me traído pela curiosidade, que parecia controlar as minhas decisões, tirando-me a consciência do perigo. Cheguei bem perto de onde saia o som, fixando as minhas vistas já cansadas, no ponto em que galhas de arbustos considerados gigantes, remexiam-se desordenadamente, em um fluxo contínuo. Levei minha mão até a inquieta planta, temeroso, esperando por alguma reação inesperada.

Um focinho emergiu daquele amontoado verde, sendo seguido por uma cabeça de lobo enorme, com uma boca capaz de engolir um homem de uma só vez. Seus olhos eram negros, e não possuiam órbitas. A pelagem daquele exemplar, tinha uma coloração avermelhada, que lembrava sangue, após ter coagulado. A criatura colocou-se de pé, levatando as patas em minha direção, exibindo garras afiadas, capazes de cortar o aço mais duro e resistente. Dei alguns passos vacilantes para trás, e iniciei uma corrida desesperada, partindo em direção a pequena praça, que não estava muito longe dali, e parecia ser o único refúgio a disposição.

Os passos assustadores da criatura faziam-se ouvir, perseguindo-me sem descanso, com uma vontade assasina incontrolável. Eu não ousava parar naquele momento. Tinha medo do que poderia acontecer, caso meu corpo cedesse diante do cansaço. Prossegui, usando toda a minha força, que já era pouca, e esvaziava-se cada vez mais, como um relógio de areia contando as horas. Avistei o coreto da praça, e usei tudo o que tinha para uma arrancada final, que talvez, me salvaria de um triste e definitivo destino. Subi as escadas da construção e olhei para trás, constatando que o lobo havia desaparecido, como mágica. Nunca mais o vi, e muito menos, escutei relatos sobre algo parecido.

Até hoje, lembro-me do ocorrido e tenho dúvidas acerca de sua veracidade. Não sei como aquele animal desapareceu, sem deixar qualquer vestígio que afirmasse a sua existência. Ninguém viu algo parecido. Cansei-me de perguntas aos amigos e conhecidos, sobre a coisa que avistei. Sempre recebo as mesmas respostas, e alguns apelidos carinhosos, como louco e idiota. Volta a ressaltar, que existe algo de muito errado em Monte Santo. Um poder maior age neste lugar, induzindo as pessoas, causando dor e sofrimento. Já ouvi muitas histórias piores que as que conto, nas quais, os protagonistas eram pessoas normais, reais, de carne e osso. Uma força de outro mundo, atua nos corações dos moradores deste munícipio. Basta que você leia as manchetes mais famosas de anos atrás, para tirar a mesma conclusão que este velho, que está cansado de tentar fazer as pessoas enxergarem o que lhes é escondido.”

Canhestro
Enviado por Canhestro em 23/09/2010
Código do texto: T2515985
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