O Casamento

Diálogos incertos, não havia o que dizer. Fiquei apenas o observando com a xícara de café entre os lábios rançosos enquanto lia o jornal. Depois de quinze anos de casamento pouco conversávamos, as únicas coisas em comum eram os problemas que tínhamos de sobra. Bem que minha mãe me avisou, não se case com primeiro que aparecer. O resultado não poderia ser pior, um estranho em minha cama.

Ele levantou em silêncio pegou as chaves do carro, sua pasta e foi para o trabalho. Eu em casa sozinha fiquei. Depois do trabalho doméstico de cada dia, decidi revisar algumas fotos perdidas na gaveta, fotos de quando éramos jovens, onde sorriamos, algo raro hoje em dia. Eu me pego a pensar o que houve nestes longos anos, será que o amor se transformou em ódio ou será que ele apenas se cansou de mim, de nós.

Larguei as fotos, frustrada, sem resposta de minha conturbada consciência, como sempre. Entreguei-me então as minhas tarefas antes do jantar. Ele finalmente chegou, com a cara de cansaço, suado com um leve odor alcoólico e com os pés mal cheirosos, tomou banho e dormiu um sono tranqüilo de pedra. Peguei suas roupas largadas ao chão, e pude observar uma pequena marca de batom, lábios vermelhos e um leve cheiro que perfume barato feminino. Fiquei furiosa, ele não queria me ter a cama, onde o sexo era inexistente e frustrante, mas outras ele desejava.

Os dias passaram longos em silêncio, até seu comportamento se alterar, começou a me desrespeitar e por vezes até a me agredir. Eu agüentava tudo calada, pensando na melhor forma de me livrar daquele monstro. Em uma manhã ele se levantou, roçou a barriga e sentou-se a mesa do café que já estava servido, peguei a camisa e joguei a sua frente, e finalmente começamos a dialogar;

- O que significa isto, pode me dizer?

- Ah! Isto – passando tranquilamente manteiga no pão respondeu- É batom você não esta vendo!

_ Acha que sou estúpida não é?!

- Ora mulher, se sabe o que é porque pergunta...afinal de contas já era tempo de saber.

_ Saber que depois de quinze anos sou corna !

- Exatamente – deu o primeiro gole de café do dia.

Eu havia feito um café especial naquela manhâ, nada como o cianureto, o amigo de todas as mulheres. Eu sorri por um momento enquanto apreciava a última imagem de meu marido.

_ Espero que aprecie o café...

Sentei e fiquei observando como seu corpo se contorcia e a boca espumava, e como realmente o veneno faz um efeito rápido e letal. Ele caiu ao chão pálido com os olhos brancos revirados nas órbitas. Enfim estava morto. Foi uma tarefa difícil me livrar do corpo, era pesado demais, então tive de dividir em partes e depois descarná-lo. Enterrei no jardim, onde curiosamente nenhuma flor cresceu por lá. Como eu suspeitava, o maldito não me serviria nem como adubo.

Sei que o Senhor Delegado quer saber o que fiz com a prostituta com quem ele estava saindo não é?. Encontrei as cartas e o telefone dela, não foi difícil localizá-la . Quando a encontrei primeiro lhe dei os parabéns por ser tão feia e medíocre quanto eu, em segundo por fazer um favor de abrir as pernas cabeludas para o meu falecido marido. Logo lhe rasguei a barriga, tão profundo que quase suas entranhas caíram ao chão. Antes mesmo de gritar rasguei-lhe a garganta fazendo o sangue explodir pela boca sufocando o grito.

Posso dizer hoje, com convicção, sou feliz, sem remorso, pois agi contra meus inimigos. Irei para o sanatório com um sorriso nos lábios, pois coloquei fim a pessoas medíocres que apenas me trouxeram dor e sofrimento. Lembre-se de mim delegado, como a mulher que não aceitou a submissão, a infidelidade, a rotina, a indecisão e o desamor.

Lembre-se de mim.

Fim.

Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 17/10/2010
Reeditado em 17/10/2010
Código do texto: T2561775
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